A assessoria, sendo uma forma de coadjuvar, isto é, prestar auxílio e até aconselhar, a meu ver, acho que as assessorias nas instituições, mormente públicas, deveriam ser feitas pelos peritos de cada área de formação, por forma a permitir um trabalho eficaz e que haja coerência das tarefas/instituições. Pois, para poder enfrentar as demandas que o atual contexto sociopolítico nos impõe, é imperativo privilegiar o fator linguístico que é muito determinante em qualquer comunicação ou interpretação de discursos (codificar e descodificar mensagem), seja oral ou escrita. Porque, uma vez que não for compreendida a mensagem, não existe comunicação, como os governantes e políticos, nas suas intervenções, têm recorrido aos termos rebuscados, sem, no entanto, preocuparem com o contexto. Quando assim for, ou seja, se o seu interlocutor não conseguir descodificar a mensagem, por exemplo: linguagem técnica profissional, que deve ser mudada para facilitar a compreensão, para além de o locutor/emissor não for capaz de adaptar a sua comunicação ao contexto, é porque falta-o a competência comunicativa e adequação em dizer.
Portanto, a luz de todos nós, as administrações públicas na Guiné-Bissau ainda nos apresentam problemas de défice de assessorias instituições, visto que, claro, continuam apenas, em maior parte, a ter assessores das pessoas formadas na área do direito a desempenharem papéis de outras áreas de formação. Digo isso porque até agora não se constata assessoria linguística, julgando que quem tem curso de direito está à altura para desempenhar essa função. Pois, acha-se que sabe a língua melhor do que a pessoa formada na área de língua. Isso parece-me a mim que é um preconceito há muito recorrido pelos governantes, por terem dado mais valor à pessoa que tem formação nessa área (direito). Prova disso é o maior valor salarial que um licenciado, por exemplo, da referida área de formação ganha em relação à todas outras áreas científicas. Contudo, muitas vezes, o que faz esse pessoal assessor da área do direito, para ser admirado, na sua comunicação oral e escrita, sobretudo, recorre aos termos jurídicos para assim demonstrar o seu grau de conhecimento e/ou nível de inteligência. Pelo que, esses termos, para além de dificultar a compreensão do que se pretende comunicar ao seu interlocutor, às vezes, carecem do enquadramento.
Há muitos anos temos assistido, infelizmente, inadequação de comunicação de muitos altos dirigentes no país, dado que o/s assessor/es carece/m de ferramentas linguísticas que o/s permita/m trabalhar e contextualizar discursos. Devido a sua importância, a assessoria institucional deve ser assegurada, quando a matéria é de direito, saúde, assim por diante, que o assessor seja especialista da área, mormente na matéria da assessoria linguística.
A respeito do acima exposto, para uma boa comunicação de qualquer ser humano, é indispensável dominar ferramentas linguísticas, pelo que é urgente ter assessores linguísticos nas instituições públicas na Guiné-Bissau, por forma, não apenas trabalhar os discursos dos dirigentes/governantes e/ou políticos, porém, organizar documentos para que haja coesão e coerência textual, facilitando, de forma eficaz, boa comunicação do locutor/emissor e permitindo que o interlocutor ou ouvinte compreenda e descodifique a mensagem.
Sintetizando, para a própria identidade, pelo valor próprio de cada língua e povo, para a diversidade do mesmo, dominar as ferramentas linguísticas tem impactos positivos, fundamentais e determinantes para qualquer convivência. Portanto, ser eloquente, isto é, ter facilidade assim como habilidade em comunicar, ser capaz de convencer e enquadrar o seu discurso ao contexto e à cada situação de comunicação com o seu interlocutor, dependendo do seu nível social e académico, é indispensável dominar as ferramentas linguísticas.
Lisboa, 05 de setembro de 2022
Por: Abubacar Mendes, mestrando
Concordo com essa perspetiva. Há que valorizar todos os saberes de uma sociedade e não apenas a jurídica, uma péssima herança do colonialismo português que ainda temos no país.
Uma verdade nua e crua que aqui é dita, pelo nosso irmão Abubacar Mendes.
Contudo, gostaria aqui de notar que não se pretende minimizar a assessoria jurídica, mas a verdade é que ela nunca pode ou deve substituir, ou seja deve ser confundida com a assessoria linguística, pois são duas áreas cientificamente distintas, sendo que dentre os requisitos necessários para ser um bom jurista o domínio linguística (competência linguística) é um deles. E um profissional em linguística ou que versa em língua portuguesa (língua de trabalho) está muito mais bem preparado para o exercício de assessoria linguística que um jurista, bem assim como não há margem de dúvida que um jurista é o mais ideal para fazer, apenas, a assessoria jurídica. Assim sendo, damos o César o que é de César e Deus o que é Dele! Que cada um ocupe ou atue na sua área profissional, isso se chama a honestidade intelectual, pois pensar que se sabe tudo é a maior prova de ignorância ou de não saber…
Então, já é hora de começarmos a promover o conhecimento científico na sua lógica científica. Pois mesmo em Portugal onde a língua é tida como Língua Materna, entretanto isso não isenta o exercício de assessoria linguística, ou seja isso não dá crédito aos juristas para exercerem a função de assessores linguísticos, é separado alho do bagalho, sempre!
Se há algum tempo o país não tinha quadros em matéria linguística, hodiernamente, tem-nos a sobra. Só falta, sim, uma política pública para absorve-los.
Falou tudo mestre!!! Parabéns!! para acrescentar deve ter uma boa estrutura no aparelho de estado ou em função pública evitando colocação parentesco ou pela oportunidade, tem que haver recrutamento e seleção de forma digna baseando em competência e area de formação assim havera o resultado positivo rumo ao desenvolvimento.
Marcelo Gomes