Abdu Jaquité: “CENTRAL FOTOVOLTAICA VAI COLMATAR DÉFICE EXISTENTE E QUE EXISTIRÁ COM OPERAÇÕES DA OMVG”

O delegado do Governo da Guiné-Bissau junto do Secretariado Permanente do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Oficial Portuguesa (FÓRUM MACAU), Engenheiro Abdu Jaquité, afirmou que a central fotovoltaica que se perspetiva instalar no país pela empresa chinesa Hunan Construction Investiment Group vai colmatar o vazio existente e que existirá, mesmo com o início das operações da energia fornecida pela barragem da OMVG.

Jaquité assegurou que é do conhecimento do executivo que a quantidade da energia destinada ao país não irá cobrir nem sequer 50 por cento das necessidades do país, por isso vai avançar com o projeto da instalação de centrais fotovoltaicas para colmatar o défice. Acrescentou, neste particular, que é importante que o país tenha uma independência neste setor, de formas a levar a energia até às zonas mais remotas do território nacional.  

“Esta empresa chinesa tem o interesse de investir no setor da energia no país, que consiste na instalação de quatro centrais fotovoltaicas em quatro regiões da Guiné-Bissau, nomeadamente Mansoa (centro), Gabú (leste), Buba (sul) e Cacheu (norte). 

Neste momento, estamos a trabalhar nos detalhes do contrato e da garantia para a empresa ou do investidor, bem como a duração do projeto”, disse.

Revelou na entrevista que o governo guineense já solicitou, por via diplomática, a autorização das Alfândegas da China para a entrada da castanha de caju da Guiné-Bissau naquele país asiático. 

Anunciou que já na próxima campanha de comercialização da castanha de cajú, empresários chineses estarão no terreno para comprar o produto, tendo assegurado que os produtores serão os maiores beneficiários, porque “certamente verão a castanha ser comprada a um preço rentável”. 

O Democrata (OD): Eng. Abudo Jaquité está a dirigir uma delegação constituída por empresários chineses do setor da construção e da energia elétrica em representação do governo guineense no Secretariado Permanente do Fórum Macau. Pode explicar-nos em pormenores, o objeto principal desta missão constituída maioritariamente por empresários da Estatal chinesa, Hunan Construction Investment Group?

Abudo Jaquité (AJ): Antes de mais obrigado pela oportunidade. Enquanto representante do Governo da Guiné-Bissau, tenho a responsabilidade de trabalhar no incremento da relação entre a China e a Guiné-Bissau. Desde a minha chegada à RAEM, tenho trabalhado na apresentação do país, na difusão das vantagens que existem em investir na Guiné-Bissau.

Ao longo desta operação de divulgação do país, tenho interagido com diversos investidores e empresas chinesas. Nesta dinâmica, a Perfeição Companhia lda, a Hunan Construction Investment Group e Conselho Económica e Comercial entre a China e África da Província de Hunan, demonstraram o interesse em aprofundar o relacionamento com o país através da resposta afirmativa ao convite do governo da Guiné-Bissau para a realização de trabalhos no terreno, que também agradaram a todos.

Esta missão visa fazer a prospeção de oportunidades na área da energia, concretamente a construção de centrais solares  que tanto  o país necessita. Ao longo desta missão foi possível realizar visitas em quatro zonas do país para aferir a viabilidade do projeto.

Neste momento, posso afirmar com muita alegria que os técnicos da Hunan Construction Investment Group ficaram contentes com as condições que constataram no terreno e com as reuniões que tiveram com as autoridades locais.

OD: Constituiu-se previamente uma equipa técnica que reúne técnicos de diferentes instituições públicas e que permitiu a realização de algumas atividades nesta segunda missão. Quais são as atividades já realizadas pela missão desde a sua chegada ao país, a 6 de janeiro?

AJ: Constituímos uma equipa como o primeiro passo de aprendizagem da primeira missão, acreditamos que através desta metodologia conseguiremos alcançar os objetivos da missão. Através deste grupo, teremos a maior facilidade de comunicação, de preparação do trabalho e de articulação da missão.

Ao longo da nossa estadia em Bissau, viajamos para o centro do país, Mansoa, para leste, Gabú, seguindo depois para o sul, Buba e finalmente norte, Cacheu. Nestas visitas foi possível conhecer os terrenos que o Estado guineense disponibilizou para a construção das centrais fotovoltaicas em cada uma das regiões, também foi possível encontrarmo-nos com autoridades locais para trocar impressões e, de forma geral, manifestaram o agrado pela possibilidade de obter energia solar.

Nesta missão, realizamos diversos encontros com as autoridades, nomeadamente a reunião com o ministro de Energia, Augusto Poquena, que manifestou a sua satisfação pelo projeto, bem como a sua ansiedade pela concretização do mesmo; reunimo-nos com o primeiro-ministro, Nuno Gomes Nabian, e com o vice primeiro-ministro, Soares Sambú, que também manifestaram o seu agrado e garantiram o engajamento do governo para responder às preocupações da Empresa HCIG, dando máximo da garantia de retorno do investimento.

Esta viagem serviu para realização de outros encontros de trabalho, visando outras oportunidades de negócios, por exemplo, o encontro de trabalho com o ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Botche Candé e o ministro do Comércio, Abas Jaló, de acordo com as orientações que deixamos o envio, por via diplomática, do pedido de autorização da entrada da castanha de caju do país na República Popular da China.

É bom informar que tivemos a oportunidade de nos reunirmos também com o ministro da Economia, Plano e Integração Regional, Carlos Varela Casimiro, que tutela os assuntos do Fórum Macau e com o ponto focal do SPFM na Guiné-Bissau, Dr. Bruno Jauad.

OD: Uma das iniciativas da empresa é investir no setor da energia, sobretudo nas centrais fotovoltaicas. Em que consiste este projeto e em que zonas será implementado?

AJ: É verdade, entre outras iniciativas de interesse, temos esta que visa o investimento no setor da energia no país que consiste na instalação de quatro centrais fotovoltaicas em quatro regiões do país, nomeadamente Mansoa (centro), Gabú (leste), Buba (sul) e Cacheu (norte).

Neste momento, estamos a trabalhar nos detalhes do contrato, da garantia para a empresa ou do investidor, bem como a duração do projeto.

Estou bastante satisfeito e confiante, pois encontro em todas as partes, a vontade na concretização deste projeto. Do lado da Guiné-Bissau, é uma oportunidade para fazer chegar a energia às zonas mais remotas e impulsionar o desenvolvimento. Para a empresa chinesa (HCIG), é uma oportunidade de negócio com uma boa margem de ganho, segurança no investimento e uma porta para futuros investimentos. 

OD: Segundo as informações recolhidas, a iniciativa da empresa é estender o projeto para as outras zonas do país. É verdade que essa é a intenção? Quais são essas zonas do país?

AJ: obrigado por fazer esta questão. A grande verdade é que o nosso país apresenta uma grande potencialidade em quase todas as áreas, porque estamos numa dinâmica grande de desenvolvimento. 

Por exemplo, o país está agora a trabalhar nas infraestruturas com o lançamento de concursos para a construção de importantes vias rodoviárias de ligação entre as regiões e com os países vizinhos como: o Senegal e a Guiné-Conacri.

Também no domínio de agricultura, há uma margem enorme a aproveitar para um país que tem seis meses de chuvas, com imensa terra arável e que depende de importação da esmagadora maioria dos produtos que consome. Podia continuar aqui e mencionar mais e mais oportunidades. Portanto, a intenção é, enquanto Delegado da Guiné-Bissau no SPFM, conseguir apresentar estas oportunidades ao HCIG para que possa, de acordo com as suas áreas de atuação e de interesse, investir no país.

Aproveito igualmente esta oportunidade para convidar as empresas e investidores da República Popular da China e RAEM a conhecerem o país e a aproveitarem as várias oportunidades para um investimento seguro e rentável.

OD: Este investimento pesado da empresa terá participação do Estado da Guiné-Bissau?  Em que molde será a sua execução? Podia descrever-nos o custo total deste projeto?

AJ: Como já disse, estamos a estudar os moldes do contrato, mas o Estado, através dos seus representantes ao mais alto nível, esteve reunido com a empresa, razão pela qual a HCIG tem uma garantia do interesse do Estado, bem como a disponibilização de terrenos para a instalação das centrais. Para um projeto que pretende produzir dezenas de Megawatts da energia, o custo será certamente de milhões de dólares americanos, que será oportunamente comunicado, assim que terminar essa fase de negociação dos contratos.

OD: É possível pensar em alguma vantagem neste investimento, uma vez que o país se prepara para receber a energia da barragem do projeto da OMVG, que será alargada para todo o país.

AJ: Com certeza. Este projeto vai colmatar um vazio que existe e existirá, mesmo depois do início de operações do projeto de OMVG, que é um projeto resultado de consórcio de quatro países, nomeadamente a Gâmbia, a Guiné-Bissau, a Guiné-Conacri e o Senegal. A quantidade da energia destinada para o país não irá cobrir nem sequer 50 por cento das necessidades das populações.

É importante que o país tenha uma independência neste setor, de formas a levar a energia até às zonas mais remotas do território nacional. O governo guineense tem consciência clara que a energia fornecida pela OMVG não será suficiente para as necessidades de todo o país, razão pela qual mostrou-se interessado neste projeto.

Apostamos na construção das centrais fotovoltaicas e através das quais vamos vender a energia aos consumidores. 

Por exemplo, existe uma lei que nos apoia neste sentido e que recomenda que um privado possa instalar uma central e usar a rede de distribuição pública. Vamos construir uma central fotovoltaica em Mansoa, onde já existe uma rede de distribuição e ali vamos produzir a energia que vai ser injetada a partir da nossa rede e canalizá-la diretamente para Bissau.

Aliás, como se sabe o preço que se pratica na comercialização da energia deste barco é mais carro. A energia fotovoltaica é barata e essa é a primeira vantagem que vamos ter.

Em Gabú, para além de construirmos a central, vamos também construir a nossa própria rede de distribuição, porque a Empresa de Eletricidade e Água da Guiné-Bissau (EAGB) limitou-se apenas em Bissau. Vamos fazer a mesma coisa em Buba, sul do país, onde vamos construir e instalar a rede de distribuição da energia.

A grande verdade é que a construção destas centrais ficará para o Estado da Guiné-Bissau, mas vai depender essencialmente do tipo de parceria que será estabelecida. Ou seja, pode ser do formato em que o parceiro constrói, opera o serviço e depois entrega ao Estado.

OD: Qual é o engajamento das autoridades guineenses no concernente ao projeto apresentado, depois de vários encontros?

AJ: O Estado mostrou-nos total disponibilidade em colaborar e trabalhar connosco, porque primeiramente compreende-se que a energia ficará mais barata. A energia fotovoltaica é muito mais barata do que a energia de fuel oile a segunda coisa é que é produzida por sol, não tem muito custo, por isso o custo da eletricidade vai reduzir-se.  

Outra coisa é que a iniciativa é instalar estas centrais em todo o território nacional. As partes estão em negociações neste momento para definir o modelo da parceria, se será pública, privada.

OD: A inquietação dos guineenses é a execução dos projetos desta natureza, porque existe uma iniciativa do género em Bambadinca e em Bissorã, que praticamente deixaram de funcionar. Há algum risco nisso?

AJ: A diferença com este projeto é que a empresa que assumiu a construção destas centrais fotovoltaicas é a mesma que vai produzir a eletricidade. A empresa vai instalar-se com os seus técnicos para produzir a energia, fazer os trabalhos de manutenção de materiais e fornecer uma energia de qualidade aos consumidores. 

Este será o engajamento da empresa, se avançar com a parceria (BOT). Isto é, construir e explorar por um certo período e depois passar as centrais para o Estado. Este projeto tem uma garantia, aliás, é executado pela empresa que está a fornecer a energia elétrica para todo o território do Gana, que tem uma população estimada em 35 milhões de habitantes e um território muito maior que o da Guiné-Bissau.

Há quatro anos conseguiu-se solucionar o problema da energia naquele país anglófono, através do sistema fotovoltaico que é o mesmo que se pretende usar na Guiné-Bissau.

OD: A nível do setor agrícola perspetiva-se a entrada de empresários chineses neste negócio, que recentemente manifestaram comprar 200 mil toneladas da castanha na próxima campanha agrícola. O Secretariado Permanente do Fórum Macau tem essa informação? Como está o processo?

AJ: Como sabe, a grande parte da castanha de caju da Guiné-Bissau é comercializada pelos brokers Indianos e Vietnamitas… A China pretende começar a adquirir também esse produto, abrindo o mercado chinês para a sua comercialização. Sendo verdade que um dos maiores consumidores da castanha de cajú é a República Popular da China, um mercado gigantesco de mais de um bilião de consumidores e com uma grande capacidade de compra.

Neste quadro, os procedimentos administrativos estão em curso para permitir a entrada da castanha de cajú da Guiné-Bissau diretamente para a República Popular da China e, consequentemente, a sua comercialização e transformação no país, no futuro.

Um dos melhores parceiros comerciais da Guiné-Bissau é a República Popular da China e o povo irmão da China, no entanto, não é possível continuar a comercializar o melhor produto estratégico da Guiné-Bissau por meio de outros intermediários. 

Enquanto delegado do Governo junto do SPFM desde a minha chegada a RAEM, tenho trabalhado arduamente neste processo de acesso direto da China à castanha cajú da Guiné-Bissau com apoio direto do meu Secretário Geral Sr. Dr. Ji Xianzheng, a Empresa Perfeição Companhia Lda, Conselho Económica e Comercial entre a China e a África da Província de Hunan e a própria a Empresa HNCEG. Mas também tenho tido apoio incontornável da Sua Excelência o senhor Presidente da República da Guiné-Bissau, General do Exército Umaro Sissoco Embaló e do Governo Guineense.

OD: O governo chinês mantém restrita a sua cooperação ou ligação apenas a nível estatal e critica-se a falta de abertura para estender a cooperação ao nível do setor do empresariado chinês, que dispõe de um capital financeiro enorme para investir. O que tem sido feito a nível do Fórum Macau para abrir as portas aos empresários guineenses ou ao setor empresarial chinês?

AJ: As empresas aqui presentes são semi públicas, ou seja, pertencem ao estado e ao sector privado… e o SPFM há mais de um ano tem um novo delegado na minha Pessoa e quase uma nova direção, nomeadamente novo Secretariado Geral, novo delegado de Angola, novo delegado do Brasil e nova delegada da Guiné Equatorial e em breve terá um novo Secretariado Geral Adjunto da China, pelo que a dinâmica hoje é outra em relação há muitos anos.

OD: O setor privado guineense lamenta a falta de abertura do governo chinês em facilitar a ligação entre a classe empresarial guineense e a chinesa que dispõe de um grande capital. A nível do Fórum de Macau, existe alguma iniciativa de aproximar a classe empresarial dos dois países? 

AJ: Eu na qualidade de delegado, a minha principal missão é a promoção das potencialidades da Guiné-Bissau, sobretudo a nível do investimento, da construção de infraestruturas, da agricultura, do comércio, entre outros. Procuro parceiros interessados em investir na Guiné-Bissau.

A empresa que vai investir agora no setor da energia fotovoltaica é uma empresa semipública e conta com toda a abertura das autoridades. Lembro que na visita que fizemos no ano passado, conseguimos a aprovação do Conselho de Cooperação Económica e Comercial entre a China e a África para  aquisição da castanha de cajú da Guiné-Bissau para vender no mercado chinês.

Este é um passo positivo e de muita importância. Na semana passada, pela primeira vez, o governo guineense, através do ministério de agricultura e desenvolvimento rural em colaboração com o ministério do Comércio, enviou uma carta, através da via diplomática à alfândega da China, para solicitar a autorização da entrada da castanha de caju da Guiné-Bissau para a China para a presente campanha.

A castanha de caju guineense não entrava na China, porque é comprada pelos empresários indianos e vietnamitas, que depois da sua transformação e já com novo certificado de origem é levada para a China como amêndoa.

O meu trabalho consiste em apresentar às autoridades chinesas que a relação de há dezenas de anos entre a China e a Guiné-Bissau não permite que seja feito um negócio da castanha de cajú com terceiros ou intermediários, uma vez que a China tem a capacidade de alcançar o mercado guineense. Fizemos todo o trabalho de base e já na próxima campanha de comercialização da castanha de cajú vamos contar com a presença de empresários chineses que querem comprar mais de 200 mil toneladas da castanha de cajú.

Quem vai beneficiar com todo este trabalho é o produtor guineense que vai ganhar muito mais com a entrada dos empresários chineses na campanha de caju. Quero assegurar a classe empresarial guineense que pode contar com o nosso serviço. 

Já estou no Fórum Macau há menos de um ano e esta é a segunda vez que trago para o país uma delegação dos empresários chineses com capacidade e interesse em investir na Guiné-Bissau. E vamos trabalhar ainda mais na mobilização de parcerias entre a classe empresarial guineense e chinesa.

Por: Assana Sambú

Foto: A.S

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