E Pluribus Unum, em Latin, significa: “de muitos(as), um(a)”. Os Estados Unidos da América (EUA), por exemplo, usam esta inspiradora frase para se referir a união do país ocorrida na esteira da Revolução Americana,nos meados do século XVII. Em Portugal, por sua vez,essa frase é celebrada e usada não como lema do Estado, como nos EUA, mas sim lema do glorioso Benfica, o maior clube de futebol português (portistas e sportinguistas não notem isso…Risos!), para expressar a grandeza e a unidade de sua torcida (que transcende as fronteiras nacionais portuguesas).
O significado desta frase, no entanto, no meu entendimento, não se aplica melhor em nenhum outro país ou contexto que a minha/nossa querida Guiné-Bissau. A Luta de Libertação Nacional (que culminou com a expulsão, em 1974, dos invasores portugueses) que o diga!Sob liderança inabalável de Abel Djassi (Amilcar Cabral, segundo maior líder de todos os tempos segundo a BBC)guineenses de todas as etnias, credos, convicções e religiões se juntaram como um único povo, uma única família para alcançar o referido triunfo e enviar o regime fascista português para os porões da história, fato que se consolida com a revolução de cravos, ocorrida em 25 de abril de 1974.
Como povo (e com isso me refiro a grande massa popular que é verdadeira pilar da nossa nação) – apesar de situações pontuais e momentâneas ao longo de nossa história republicana – nada foi capaz de putrefazer nossa união, nem mesmo o macabro conflito político-militar de 07 de junho de 1998. Apesar de egoísmo doentio de nossa classe política, nós, povo guineense, sempre nos mantivemos unidos e esperançosos por uma nação melhor, mais justa, inclusiva e desenvolvida. A essa hora,entretanto, aquele(a) assíduo(a) leitor(a) de O’Democrata deve estar se perguntando: afinal, do que este senhor está se tratando? Onde está querendo chegar com esta colocação?
Bem, sendo assim, então, para “matar” suas curiosidades, passo a traduzir essa colocação inicial ao principal ponto deste breve texto. No fundo quero, com este texto, diante do cenário político que se vive no país de Cabral por conta das eleições legislativas de 04 de junho último, apelar ao povo guineense em sua generalidade e a classe política em particular que se permitam guiar pela calma, serenidade, patriotismo e alto sentido de solidariedade para o nosso bem estar coletivo.
Mais uma vez, a nossa unidade como um povo foi colocada a prova por essas eleições que são, inequívoca e indiscutivelmente, as mais polarizadas de nossa história democrática. Por serem as mais polarizadas – então têm potencialidade de serem as mais perigosas desde a democratização – razão pela qual precisa-se de calma, ponderação, compreensão e bom senso para que possamos, mais uma vez, preservar nossa união, fortalecer nossos laços e rumarmos, de todo e sempre, ao tão sonhado desenvolvimento.
Como cidadão nacional, amante de nossa bandeira e de nossos valores e desígnios fundadores, não poderia me furtar em contribuir com este apelo. Também, gostaria de frisar, apenas estou em condições de o fazer pois não escolhi integrar nenhum dos polos em disputa, o que, contudo, não me isente de possuir preferências políticas e programas nos quais acredito. As mensagens de ódio, calúnia, difamação e desinformação que está vindo de todos os polos, em minha visão, não colaboram para o atracar do barco (onde todos nos encontramos pelo visto)num bom porto. Apenas alimentam o sentimento de raiva e rancor entre nós.
Pelo cenário que se desenhou antes e durante estaseleições, as reflexões na pós-eleições serão infalíveis e desafiadoras, exigindo de nós o maior sentido de responsabilidade possível, sobretudo os nossos atores políticos. As eleições (em 2019, por conta das presidenciais ocorridas naquele ano, já havia publicado um texto neste semanário a respeito disto) – em minha humilde opinião nunca foram e nunca serão panaceia para nossos problemas – no entanto, são frutos de um sistema político que feliz ou felizmente escolhemos, a democracia.
A democracia é por natureza um regime difícil de lidar, sobretudo quando o resultado de um determinado pleito não nos favorece, mas ao mesmo tempo (apesar de suas imperfeições) é um dos regimes mais justos. Pois nos permite, pelo instrumento de voto, escolher ou refutar um determinado programa político. Assim, faço voto que saibamos lidar com estas situações para não pôr em causa a nossa segurança e bem estar social. Para, sobretudo, não arruinar a nossa união e coesão social! E isto porque, de muitos, somos apenas um “E Pluribus Unum”! Somos e sempre seremos (apesar de nossas ricas diversidades, refletidas no mosaico étnico, gastronomia cultura etc.) um povo só, o povo guineense!
Que Deus nos dê equilíbrio emocional, nos dê bom senso e nos guie para o caminho da paz, prosperidade e desenvolvimento, como outras nações do mundo.
Por: Deuinalom Cambanco
Mestre em Relações Internacionais