Nos últimos três anos, têm-se registado mortes repentinas de pessoas na Guiné-Bissau, sobretudo de jovens lúcidos e competentes, com visão técnico-científica, aptos para contribuírem para a elaboração de políticas públicas capazes de desenvolver o país.
A essas “N” mortes não se fizeram autópsias nenhumas para se saber as causas das mortes. Não é admissível que a Juventude, a força motriz do nosso país, esteja a morrer “misteriosamente”, sem que as autoridades nacionais tomem a iniciativa de saber a verdade sobre as causas das mortes.
Os nossos políticos dizem que não há, no concerto das Nações, um Estado pequeno. Aceito estas teorias baratas que só cabem na cabeça desses políticos. Um Estado que não é pequeno é aquele que consegue resolver o básico: garantir a saúde e a educação de qualidade para os seus cidadãos, igualdade social, criação de condições para investimento nacional e estrangeiro com vista a criação de emprego para o povo, sobretudo para a camada juvenil, etc.
A pergunta que eu faço é a seguinte: será que o nosso Estado consegue garantir o mínimo à população?! Responde quem lê.
Nos países “grandes”, aqui prefiro referenciar apenas o país que cantamos todos os dias que nos deve a independência, Cabo Verde, nenhuma morte violenta, nomeadamente por acidente de trânsito ou de trabalho, homicídio ou suicídio, morte suspeita ou misteriosa, etc., que dê entrada no hospital sai sem a realização do exame necroscópico. O nosso vizinho, o Senegal, faz o exame necroscópico até nas regiões longínquas da capital Dakar, Ziguinchor por exemplo.
Como é possível, passados quase meia centena de anos da independência, que a Guiné-Bissau não consiga até hoje equipar o único hospital de referência, Simão Mendes, com materiais sofisticados e a altura de diagnosticar uma doença e/ou morte súbita?
Falta-nos o sentido patriótico e de bem servir. Se não fosse isso, os nossos políticos que alguma vez dirigiram este país, não esbanjariam recursos em todas as campanhas eleitorais, compra de casas na Europa, construção de mansões em diferentes bairros da capital Bissau, cada vez que assumem funções no aparelho do Estado, sem que, pelo menos, tivessem piedade do povo, oferecendo-se para comprar materiais para equipar os nossos hospitais.
Governo e Parlamento, calhou-vos a sorte de fazer diferente. Não vejo o Presidente da República a opor-se a esse desígnio nacional. É preciso que nesta décima primeira legislatura, os deputados façam a lei sobre o exame necroscópico (a autópsia), e, se for necessária a sua promulgação, que o chefe de Estado vote SIM. Outrossim, é preciso que o atual governo atribua bolsas de estudo para a especialização dos nossos médicos, com vista a criação não só de um Instituto da Medicina legal, mas também de um Serviço de Verificação de Óbitos que se encarregará de executar os exames em corpos de pessoas que morram sem assistência médica nos nossos hospitais.
Por: Tiago Seide
Professor e Jornalista