Opinião: POUPANÇAS (QUASE IMPOSSÍVEIS) E O PARADOXO DA QUADRA FESTIVA DE DEZEMBRO

Por hábito é contraditório, talvez fosse impossível falar de quaisquer formas de poupanças, num contexto de pobreza (extrema), que atinge mais de 66% da população guineense, com baixíssimo rendimento per capita (por pessoa) por dia. Por conseguinte, os números oficiais apontam que os extremamente pobres vivem com menos de USD 1 (Dólar Norte-Americano) por dia. Essa gente, por vários fatores, constitui a maioria da população guineense. É verdade, que esses indicadores ser (piores) se não fosse a compra e venda da castanha de cajú, que beneficia cerca de 80% da nossa população, vivendo sob a sua dependência (sazonal). Também, se não houvesse a economia (paralela e/ou informal), que sustenta a maioria das famílias por este país fora, se não fosse a remessa da nossa diáspora que consegue (poupar) e financiar as despesas correntes e o consumo das famílias guineenses.

Ora, a poupança é comportamento positivo (OCDE, 2016), que se traduz no bem-estar financeiro para os indivíduos e as famílias. A poupança de longo prazo oferece a possibilidade de um padrão de consumo doseado ao longo do tempo e a poupança regular e de curto prazo (i.e., de emergência) oferece uma almofada protetora do poder de compra face a um choque de rendimento (Thabiani, 2013).

Diversos estudos têm analisado os fatores que influenciam o comportamento de poupança, com ênfase na literacia financeira, pois a literacia financeira dos indivíduos desempenha um papel importante na tomada de decisões financeiras, considerando a complexidade que envolve as decisões financeiras, tanto às finanças pessoais, quanto às finanças públicas. Por isso, os indivíduos devem ter os conhecimentos financeiros e a capacidade para aplicar esses conhecimentos nas suas decisões (Huston, 2010). A literacia financeira encontra-se na agenda de muitos Governos e organizações internacionais (OCDE, 2016).

No entanto, ultimamente, tem sido debatido e promovido pelo BCEAO e outras instituições financeiras. Pois, há consenso sobre a pertinência da educação financeira para o crescimento económico, para o rendimento das famílias, para o consumo das famílias, para o crescimento do PIB, etc.

Cá entre nós, na Guiné-Bissau, o desconhecimento dos efeitos da literacia financeira – (ka kunsi taku, ka si bi lida ku dinheru) – tem impactos na nossa qualidade de vida, impacta às nossas finanças (individuais), faz com que desconheçamos as políticas fiscais, tributárias, aduaneiras, etc. Fazendo com que, muita das vezes, pagamos sem pedir recibos, mandamos comprar sem pedir faturas pró-formas, pedimos créditos ou dinheiro emprestado, sem apresentar as garantias (colateral), nossos filhos ou esposas gastam sem questionamentos, de forma irracional, porque acreditam que haverá sempre liquidez – capacidade de fazer face às despesas correntes (imediatas). Portanto, é o mês de Dezembro chegando, é o NATAL à porta, haverá sempre festas, mas pelo nível de pobreza, que está, cada vez mais, presente no quotidiano da maioria das famílias guineenses, também, importa sim escrever um pequeno texto sobre Poupança. Contudo, admitamos que é, praticamente, IMPOSSÍVEL, as famílias guineenses fazerem Poupança, quando não há RENDIMENTO, não há liquidez. Mas, mesmo assim, ainda é possível e necessário ter noções de Poupança, uma vez que os indicadores da pobreza insistem e persistem.

Apenas uma opinião!

Bissau, 30 de novembro de 2023

Por: Santos Fernandes

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