A relação de cooperação entre a Guiné-Bissau e a China se remonta desde o período da luta pela independência do nosso país, uma relação iniciada por dois grandes líderes que marcaram os respetivos países, Amílcar Cabral, líder da guerra pela independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde, e o Presidente chinês, Mao Zedong. A contribuição da China para a libertação do povo guineense do jugo colonial não se limitou apenas na formação dos primeiros comandantes em estratégia da guerrilha, mas apoiou também o setor da saúde e a formação de quadros para o futuro Estado.
É uma relação histórica de cooperação e amizade de mais de 60 anos, apesar de ter conhecido períodos amargos que ofuscaram essa relação, que mais tarde foi retomada e elevada ao maior nível jamais visto, desde a sua estabilização. A China é um parceiro importante da Guiné-Bissau, cuja mão abençoada é sentida até ao nosso hino nacional, que foi composto por um cidadão chinês, Xião He, conhecido pelos guineenses como amigo de Amílcar Cabral.
Estes aspetos demonstram, na verdade, que a relação entre os dois países é histórica, que infelizmente a Guiné-Bissau não soube aproveitar. A Guiné-Bissau podia tornar-se num maior e principal parceiro da China Popular a nível da África lusófona e, quiçá, estaria num nível de desenvolvimento muito mais avançado, se tivesse uma estabilidade política e governativa, sobretudo uma visão estratégica de desenvolvimento.
É exatamente a falta de uma visão estratégica de desenvolvimento e de definição clara das suas prioridades em termos da relações internacionais que levou a Guiné a desligar ou cortar a relação histórica com a China Popular, prejudicando o povo em detrimento de um punhado de pessoas, que decidiram abrir uma relação de cooperação fantasma com Taiwan, em 1990.
Esta é a decisão mais amarga assumida pelas autoridades guineenses a nível da diplomacia. A retoma da relação com a China Popular em 2000 é a maior e mais importante decisão tomada pelas autoridades nacionais, permitindo desta forma elevar a imagem da Guiné-Bissau para o mundo fora e, consequentemente, alargar em maior escala a nova fase da cooperação com o governo chinês para quatro áreas essenciais, designadamente: infraestruturas, agricultura, saúde e educação.
O governo chinês conseguiu apresentar-se perante as autoridades guineenses como um parceiro seguro, honesto e leal à relação histórica, desde que se retomou a cooperação bilateral há mais de 20 anos, fato que a levou a estender a sua mão abençoada para a Guiné-Bissau e ao seu povo.
É preciso que a Guiné-Bissau defina uma visão estratégica do desenvolvimento capaz de tirar proveitos da iniciativa chinesa “Nova Rota da Seda”, lançada em 2013. No nosso entendimento, é um caminho seguro para sustentar a cooperação histórica entre os dois países, revolucionar e modernizar a agricultura, assim como alavancar a sua indústria.
É do conhecimento dos guineenses que as autoridades têm aproveitado pouco da sua relação com a China, sobretudo no que concerne ao setor privado em que se poderia abrir novos horizontes e oportunidades de cooperação económica que facilitasse investimentos gigantes do empresariado chinês em diversos setores. A relação de cooperação estagnou-se a nível bilateral, embora muito notável em termos de infraestruturas, educação, saúde e agricultura.
Esta relação podia estender-se e ser diversificada para outros setores essenciais para o crescimento económico do país. A ausência de um plano estratégico impossibilitou o país de enxergar muito mais longe e apresentar os projetos de investimento pesados nos setores dos portos, ferrovias, imobiliária, inclusive espreitar os setores das novas tecnologias, comunicação e serviços, onde a China dispõe de larga experiência.
A minha estada na China, no âmbito do seminário realizado para os jornalistas dos países lusófonos em julho deste ano permitiu-me perceber que a falta de uma visão do desenvolvimento limitou a Guiné-Bissau de beneficiar de mais ajudas do governo da China.
Quero deixar uma nota importante retida durante a minha visita à China: a primeira é a necessidade urgente da criação de uma Célula, que até pode ser atribuída outro nome, mas que se encarregará da monitorização e execução dos programas especiais tidos com a República Popular da China. A célula seria dotada de uma espécie de estatuto especial e autonomia que a permitiria engajar-se na execução do plano estratégico do desenvolvimento apresentado ao governo da China.
A Guiné-Bissau, como um dos assinantes do memorando do entendimento com a China Popular no âmbito da iniciativa “Uma Faixa e Uma Rota”, à semelhança de outros países, deve trabalhar neste sentido. O trabalho da célula basear-se-á igualmente na perspectiva daquela iniciativa chinesa de criar as condições básicas necessárias para a materialização da cooperação. Outra nota interessante, no nosso entendimento, a célula deverá abrir novas oportunidades de cooperação com o setor privado chinês e atrair investimentos da classe empresarial na indústria de transformação local da castanha de cajú e outros produtos, bem como na compra e exportação da castanha de cajú.
O gigante asiático continua a ser o maior investidor na Guiné-Bissau e as obras financiadas e executadas pela China falam por si e são as maiores infraestruturas construídas no país, designadamente: o palácio do governo, as residências dos antigos Combatentes da Liberdade da Pátria, escola nacional de saúde, hospital militar, o palácio da justiça, a assembleia nacional popular, bem como o investimento robusto feito na reabilitação do Estádio de Futebol, adotando-o de condições técnicas para receber as competições regionais, continentais e internacionais.
Por: Alison Cabral
Jornalista do Jornal O Democrata