A nossa maior desgraça como um povo é, sem dúvida, a nossa classe política, que nos tem envergonhado desde a nossa independência. Infelizmente, não temos a outra opção de avançar como uma nação e desenvolver o nosso o país sem ela (a classe política), pois em todas as sociedades modernas esse é único caminho – delegar poder e uso da força ao um grupo de pessoas, que se chama Governantes, para dirigir a sociedade, conhecida como Estado. E como já disse supra, lamentavelmente, aqueles que temos delegados o poder ao longo dos anos têm sido uma lástima!
O PAIGC, pela sorte ou pela desgraça, sempre esteve e está desde a nossa existência como Estado, nos bons e nos maus momentos, e nos bons, destaca-se a nossa guerra de libertação e consequentemente, a nossa independência, fora disso, não tenho memórias de outros bons momentos dele.
Mas há de reconhecer, na minha opinião, que é uma das poucas, senão, a única alternativa política que temos até agora. É o partido com maior estrutura política, que tem maior número de quadros e sobretudo, quando estamos sempre nas eleições, sejam Presidenciais ou legislativas, é aquele que nos apresenta os elementos (o programa eleitoral e a liderança que concorre) mais sustentáveis que aos olhos dos eleitores lhes dão um certo otimismo, que talvez poderão trazer, depois das eleições, alguma mudança e algum desenvolvimento ao país, e é por isso, que ganhou a maioria das eleições realizadas até agora.
Depois de abertura de multipartidarismo já surgiram várias formações políticas, outras já em extinção. No meu ponto de vista, nenhuma delas foi persistente e coerente ao ponto de convencer os guineenses a largarem o PAIGC. Não é que outras não tiveram oportunidades ou que o povo nunca acreditou em outros partidos políticos, muitos já tiveram oportunidade de governar, temos o PRS, que teve por meio das eleições, fez igual ou pior ao PAIGC e mesmo depois da sua governação nunca mostrou mudança para positiva, recentemente, o MADEM também teve, ainda que chegou ao poder ilegalmente, mas teve uns 3 anos em que foi tido como o partido que assumiu a governação, também, infelizmente, fez igual ou pior ao partido libertador. Mas não se limitam a esses dois, muitos partidos já tiveram a oportunidade, seja através da coligação, seja por meio dos chamados Governos da iniciativa Presidencial ou aqueles que foram formados depois dos golpes de Estado. Muitos, senão todos, concentraram as suas atuações no proveito próprio e não do povo. E por último, aqueles partidos que, efetivamente, nunca governaram, não foram persistentes o suficiente para convencer o povo que podem dar algo melhor que o PAIGC.
Contudo, e apesar de parecer ser a única alternativa, este PAIGC é uma deceção, senão vejamos os factos e nem vou recuar muito no tempo, aliás, vou ficar apenas na era PAIGC VS Sissoco e de forma resumida, para não roubar muito tempo ao leitor:
1. O PAIGC, covardemente, deixou perder ou ser roubado (tenho minhas reservas da veracidade daquela eleição) a última eleição Presidencial, quando estava no poder e aparentemente, tinha tudo sob controlo;
2. O PAIGC, durante a ditadura do Sissoco, até nas vésperas das eleições legislativas, foi humilhado de todas as formas e nada fez para repor a sua dignidade como partido histórico. De igual modo, o seu líder foi humilhado;
3. O PAIGC ganhou as últimas eleições legislativas e teve uma oportunidade soberana para se afirmar de forma definitiva, mas está a ser super infantil:
3.1. Em vez de impedir, logo no início, as prepotências que o PR queria exercer sobre a governação, deixou este condicionar a formação do Governo, impedindo alguns elementos de integrar o Governo, por apenas não serem da sua conveniência política, quando na altura, o PAIGC, não só tinha a legalidade do seu lado, como também tinha uma legitimidade popular tão grande e fresca, que não acatando as ordens do PR, este não tinha outra escolha a não ser aceitar;
3.2. O PAIGC depois de tomar a governação, em vez de respeitar as duas decisões judiciais, que indicavam a soltura dos presos do caso 1 de Fevereiro, este partido preferiu entregar a bandeja aqueles presos ao PR, que queria os controlar, porque os teme fora de prisão. E sendo estes os únicos que podiam fazer temer o PR de tomar as decisões que tem tomado ao longo desta governação, sem importar com as leis. Ou seja, em vez de libertar aqueles que podiam lhe ajudar neste momento, preferiu entregar esses ao seu “inimigo”;
3.3. O PAIGC sabendo muito bem que o PR não quer o seu bem e está a lutar todos os dias para lhe fazer mal, mas este partido tem governado, sobretudo, para agradar quem está a lutar contra ele. O Governo do PAIGC decidiu apoiar de todas as formas a tal comemoração da independência, incluindo com apoio financeiro, sem ser ele a organizar e controlar esse dinheiro, mas que deveria ser ele. Por cima, deixaram cair por terra a palavra do Presidente do Partido, que já tinha afirmado que não haveria outra comemoração da independência. Quer dizer, o Governo prefere agradar quem, na verdade, não importa com o bem do Governo ou do país do que quem foi a principal razão da existência desse Governo;
3.4. O Chefe do Governo e todo o seu elenco acabaram por fazer um dos mais vergonhosos atos da Governação e contra a coligação e o líder desta. Quando nem sequer deveriam participar na tal reunião de Conselho dos Ministros com o PR, não só foram, como ouviram, viram e aceitaram todas as incongruências que o PR foi dizer, incluindo a de este acumular duas pastas ministeriais, quando a CRGB afirma que o exercício do cargo de PR é incompatível com qualquer função, incluindo de manter, estranhamente, o Governo e alguns membros da sua conveniência, sem um decreto, apenas com as suas palavras. E por cima, legitimar pacificamente o golpe institucional de derrube da ANP inconstitucionalmente, e mais uma vez, humilhar e fazer cair por terra as palavras e esforços que o líder da coligação que sustenta esse Governo, que falou antes dessa reunião, que não reconhece a dissolução da ANP, mas os membros do Governo preferiram ficar do lado da ilegalidade e de opositor do seu líder, em vez de lutar junto com o Presidente da ANP, de quem a razão e a verdade estão a favor. Este ato não foi apenas do chefe do Governo, mas de todos seus os membros que aceitaram participar naquela reunião.
4. Uma das características do atual PAIGC é covardia, um partido que outrora foi capaz de mobilizar uma sociedade num contexto muito mais difícil, para aderir a luta armada, hoje em dia, não é capaz de colocar nem sequer mil pessoas na rua para fazer uma simples marcha. E por essa covardia estão prestes a perder o poder e passar várias humilhações.
O atual PAIGC é totalmente oposto ao PAIGC que lutou para independência, e não quero acreditar que só Amílcar Cabral foi capaz de guiar o partido as conquistas que teve na luta de libertação e depois dele e ao longo de todos esses anos não surgiu um líder que seja capaz de pelo menos, fazer metade de Cabral.
Precisamos de alternativa política, urgentemente, ou os partidos atuais mudam e sejam alternativas de si mesmos ou surja uma nova alternativa.
Que Deusa salve a Guiné-Bissau e o seu povo!
Por: Ericson Ocante Ié
Cidadão guineense
É de extrema relevância esta observação feita aqui na fala do Sr. Ericson, fantasticamente os pontos indicados no “artigo “, são realmente coisas que nem se consegue explicar como é tão simples assim o presidente da República gerir as situações da não ao belo prazer dele sabendo que existe uma liderança governamental vindo do veredicto do povo.