
O ex-porta-voz do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), João Bernardo Vieira, afirmou esta terça-feira, 12 de dezembro de 2023, que ninguém é insubstituível dentro do PAIGC como também é impossível tirar mérito do Domingos Simões Pereira, mas aconselhou-lhe a demitir-se da liderança do partido.
João Bernardo Vieira disse que durante dez anos Domingos Simões Pereira tentou consolidar o poder, não conseguiu, devido a sucessivas derrotas pós-eleitorais, assim “Simões Pereira deve pedir a demissão e deixar o PAIGC respirar”.
O dirigente do PAIGC falava em conferência de imprensa realizada no seu escritório de advocacia em Bissau, na qual lamentou que o PAIGC tenha perdido tudo neste momento, depois de ganhar as eleições legislativas de 4 de junho.
“Perante essa ameaça, qualquer militante e dirigente que sente o partido libertador no sangue não deve ficar de braços cruzados, porque a nossa formação política ultrapassa a dimensão de uma única pessoa”, declarou.
João Bernardo Vieira lembrou que o povo guineense deu ao PAI Terra-Ranka uma maioria confortável para governar, porque “acreditava na sua solução governativa. Não tinha a necessidade de fazer alianças e o maior pacto deveria ter saído do PAIGC, não de fora”.
“O PAI Terra-Ranka cometeu um erro quando assinou o pacto com pessoas que ontem atiraram contra o partido e proibiram os militantes do PAIGC de viajar, agentes que o povo sancionou nas urnas”, insistiu.
Nega que o pacto tenha sido assinado para viabilizar as leis na Assembleia Nacional Popular e disse que “era uma falácia e não corresponde à verdade, porque “apenas com 54 deputados era possível aprovar mais de 90 por cento das leis”.
João Bernardo Vieira afirmou que a Coligação precisava apenas de dois terços para as leis de valor reforçado, nomeadamente a revisão constitucional, lei-quadro dos partidos políticos.

“Não era necessário fazer um pacto com outros partidos que hoje estão a dizer que, quando um homem se casa com três mulheres, se morrer, o casamento acabou. Isso mostra claro que a assinatura do pacto falhou, porque “ os assinantes começaram a virar as costas ao partido”, sublinhou.
João Bernardo Vieira disse que a política é um compromisso, criticando que não é possível uma pessoa ser presidente do PAIGC, do PAI Terra-Ranka, da Assembleia Nacional Popular, o primeiro-ministro de sombra do governo derrubado e candidato às eleições presidenciais, “cinco coisas numa única pessoa, isso é normal ou então os militantes é que não estão a ver a realidade?”.
Acrescentou que quando se concentram todas as virtudes numa única pessoa, apenas se pode fazer três leituras: primeira, essa pessoa é que único filho de Deus, segunda ela é a única pessoa com mais nível de escolaridade e a terceira quando se endeusa uma pessoa.
“Há dois anos afirmei que o terceiro mandato não era bom para Domingos Simões Pereira, mas hoje o tempo deu-me razão. Ganhamos com 54 deputados, continuamos a ter problemas de governar o país, depois vamos atribuir a culpa a pessoas de fora. É preciso termos honestidade intelectual, não devemos agir com emoção, mas sim com razão. Domingos Simões Pereira é um grande político, deu tudo que tinha e hoje chegou ao fim. Se não abandonar, os problemas vão continuar”, advertiu.
João Bernardo Vieira lembrou que a luta de libertação nacional durou 11 anos e o PAIGC, de 2014 a 2024, vai completar 10 anos na guerra política, ganhar eleições, mas não consegue governar e se continuar até aos presidenciais, vai ultrapassar o período da luta da libertação nacional. “O problema não está no PAIGC, mas sim do lado do presidente do partido, Domingos Simões Pereira”.
Por: Aguinaldo Ampa
Foto: A.A