Quadra festiva: NATAL SEM BACALHAU PARA OS GUINEENSES E A MAIORIA “CHORA” POR FALTA DE DINHEIRO

A nova crise política e económica que despoletou com os acontecimentos de 30 de novembro e 01 de dezembro de 2023, e consequentemente com a dissolução da Assembleia Nacional Popular e a queda do governo, deixa famílias guineenses sem poder de compra, particularmente as que vivem de suas atividades e os funcionários públicos que demoram para receber os seus salários, alguns até ao momento desta reportagem (22 de dezembro) não tinham recebido o salário nem sequer têm certeza se receberão os seus ordenados ainda em tempo de festa.

A falta de dinheiro limita os guineenses sobretudo os cristãos a terem poder de compra para adquirir prendas (brinquedos) e roupas para os filhos ou fazer as compras de produtos alimentares, particularmente o bacalhau, para preparar a ceia na véspera do Natal, que os fiéis cristãos têm a obrigação de fazer. O Natal é uma festa religiosa para os fiéis católicos que comemoram assim o nascimento do “menino” Jesus Cristo.  Contudo, na Guiné-Bissau, a festa geralmente é celebrada também por pregadores de outras religiões.

A escolha da data, de acordo com as informações recolhidas, foi determinada pelo Papa Julius I em 337-352 e mais tarde foi declarada pelo imperador Justiniano em 529.

CRISE POLÍTICA DEIXA CRIANÇAS SEM PRESENTES DO NATAL, PORQUE AS MÃES PREFEREM POUPAR

O Jornal O Democrata fez uma passeata a diferentes mercados e supermercados de Bissau com o intuito de ver o movimento de pessoas para as compras da quadra festiva, sobretudo da festa do nascimento do “Menino Jesus”, notou-se uma fraca movimentação junto dos supermercados que neste período deveriam estar superlotados de clientes que entram e saiem para as compras de produtos alimentares, roupas e brinquedos para as crianças.

Ludimila Ié, mãe de dois filhos, uma das pessoas abordadas, afiançou a O Democrata que este ano não vai presentear os seus filhos com brinquedos no âmbito da quadra festiva, porque prefere poupar dinheiro devido à situação política que abala o país novamente.

Assegurou que a conjuntura política não permite que se façam compras exageradas e que se vai investir apenas em roupas e calçados nas compras, deixando os presentes para o próximo ano.

“No ano passado, comprei brinquedos e em pouco tempo os meus filhos estragaram-nos, por isso este ano optei por comprar roupa e calçados. Esta crise económica levou-nos a definir as prioridades”, contou. 

Júlio Negado, um responsável de família interpelado no mercado do Bandim, explicou que está a procura de novidades e avaliar os preços de acordo com as suas disponibilidades financeiras.

“Estou a ver os preços dos produtos mais baratos e ver também se há promoções” disse, garantindo que este ano vai comprar roupas para as crianças e que apenas vai concentrar as suas compras nos produtos alimentares, nas vésperas do Natal, dia 24 de dezembro.  

Micaela Mbac informou à repórter que já fez as suas compras para a festa do Natal desde o mês de novembro, de forma a evitar as aglomerações de pessoas no mercado e comprar os produtos a preços mais baratos, dado que no período da festa se verifica mais o aumento de preços.   

Alguns utentes do mercado entrevistados, que não aceitaram indentificar-se, afirmaram que num país como a Guiné-Bissau onde as famílias não têm o poder de compra, será difícil passar a festa do Natal de forma condigna.

“Não há dinheiro para comprar produtos da cesta básica, porque a maioria das famílias perdeu o poder de compra devido à inflação, ao desemprego, ao desinteresse na produção nacional. Parece que as políticas públicas e económicas implementadas visam apenas desgraçar o povo guineense”, lamentou uma mulher entrevistada junto ao porto do mercado de Bandim, que pediu anonimato.

LOJAS CHINESAS VAZIAS E VENDEDORES LEVAM MAIS TEMPO A DORMITAR QUE ATENDER CLIENTES

As lojas chinesas que vendem roupas, calçados e brinquedos, que neste período costumam estar repletas de clientes de manhã até à noite, este ano a maioria visitadas pela repórter junto do mercado de Bandim, está praticamente vazia e recebe clientes a conta gotas, obrigando os vendedores a passarem mais tempo a dormitar do que a atender os clientes.

Luís Silva, um vendedor numa loja visitada, contou que este ano não estão a registar grande afluência de clientes em comparação com os anos anteriores. 

“Os preços de produtos como roupas e brinquedos são bem acessíveis e variam. Também temos alguns produtos em promoção, mas infelizmente temos fraca afluência de clientes”, assegurou, contudo, diz esperar maior número de clientes entre os dias 23 e 24 de dezembro. 

GERENTE DE DARLING CLAMA PELA PAZ PARA QUE OS COMERCIANTES POSSAM EXERCER AS SUAS ATIVIDADES

O gerente do supermercado “Darling Alimentar”, Moudo Indjai, afirmou que no ano passado registaram-se muitas movimentações de clientes a procura dos produtos alimentares e brinquedos para os mais novos, contudo disse acreditar que este ano as pessoas estão sem poder de compras e não só, como também a crise política é um dos fatores que condicionou as pessoas.    

“Esta é a minha segunda casa e se não houver estabilidade, todos nós sofreremos. Todos os estrangeiros que escolheram a Guiné-Bissau para praticar o comércio devem ajudar para que haja a paz, porque sem ela não haverá condições para exercer quaisquer atividades geradoras de rendimento”, assegurou.

Afiançou que durante estes dias, as pessoas preferem comprar produtos alimentícios, nomeadamente, bacalhau, grão-de-bico, natas, feijão manteiga, entre outros.

ACOBES ACONSELHA OS GUINEENSES A POUPAR E A COMPRAR PRODUTOS ESSENCIAIS DEVIDO À CRISE

Para o Secretário-geral de Associação de Consumidores de Bens e Serviços (ACOBES), Bambo Sanhá, as famílias devem fazer poupanças nas suas despesas e evitar de comprar o que não é necessário, tendo em conta as crises que se verificam na Europa e em África.

Assegurou que não se registou um aumento de preços de produtos da primeira necessidade, razão pela qual os comerciantes não podem aproveitar a situação ou o período da festa também para aumentar os preços dos produtos. E acrescentou que os comerciantes devem praticar um preço justo, permitindo que a população tenha o poder de compra para adquirir aquilo que quer. 

“A população deve ser muito vigilante neste período e particularmente no momento das compras. É preciso ver muito bem os carimbos nas carnes que circulam no mercado e se não tiver um carimbo de um médico veterinário, deve-se abdicar da compra” alertou. 

Por Noemi Nhanguan

Foto: Marcelo Na Ritche

Author: O DEMOCRATA

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