Embaixador Guo Ce: “SENSIBILIZAMOS EMPRESAS CHINESAS QUE A GUINÉ-BISSAU É PAÍS SEGURO PARA INVESTIR”

O Embaixador da República Popular da China na Guiné-Bissau, Guo Ce, disse que a embaixada que dirige fez um trabalho de sensibilizar e informar as empresas chinesas e mais outras interessadas no mercado guineense que atualmente a Guiné-Bissau é o país mais seguro na região da África Ocidental, razão pela qual essas empresas estão agora a pensar visitar a Guiné e fazer a prospecção do mercado e saber em que áreas podem investir para além da comercialização da castanha de cajú e a criação das fábricas de transformação deste produto, energia entre outros setores. 

“Sabemos que no dia 01 de dezembro de 2023 registou-se um conflito neste país. Esta situação levou algumas empresas chinesas que planeavam visitar a Guiné-Bissau e fazer o reconhecimento do mercado a cancelar a deslocação para a Guiné, por causa daquela situação. A embaixada fez um trabalho de sensibilizar e informar àquelas empresas e mais outras interessadas no mercado guineense que atualmente a Guiné-Bissau é o país mais seguro na região da África Ocidental. Essas empresas estão agora a pensar visitar a Guiné e fazer a prospecção do mercado e saber em que áreas podem investir para além da comercialização da castanha e a criação das fábricas de transformação deste produto, energia entre outros setores” assegurou o diplomata, durante a entrevista conjunta concedida ao Jornal O Democrata e à Rádio Nacional para falar sobre o estado da cooperação bilateral entre os dois países, como também do interesse de empresários chineses na castanha de cajú da Guiné Bissau. 

A Guiné-Bissau é um dos maiores produtores mundiais da castanha de cajú e a qualidade da castanha de cajú também está entre as melhores, o que atende às necessidades do mercado chinês. Na verdade, entre as castanhas de cajú importadas pela China, é provável que seja a castanha da Guiné-Bissau que foi transformada pelo Vietname e outros países. Estamos a trabalhar agora para limpar todos os obstáculos e permitir que a castanha de cajú da Guiné-Bissau seja vendida na China, sem passar por Vietname”, disse, acrescentando que o seu governo enviará à Guiné uma missão técnica que virá analisar localmente a castanha de cajú e o ambiente dos negócios, tendo assegurado que acredita que nos meados dos meses de junho e julho é possível que seja assinado o protocolo de acordo que permitirá a exportação da castanha de cajú da Guiné-Bissau para a China.

O Democrata (OD): Já se passaram quase três anos do seu exercício na Guiné-Bissau, como Embaixador da República Popular da China. Um exercício marcado por muitas intervenções em diferentes setores, mas particularmente a nível social. Que avaliação faz do estado da cooperação entre a China e a Guiné-Bissau?

Guo Ce (GC): Servi por três anos na Guiné-Bissau como embaixador, estou muito impressionado e pude testemunhar com os meus próprios olhos o desenvolvimento em vários setores e o aprofundamento da amizade Sino-Guineense.

Ao longo dos três anos, apesar da conjuntura internacional, as relações Sino-Guineense têm-se melhorado significativamente, graças aos esforços de ambas as partes, à confiança política mútua. Tem aumentado progressivamente e as cooperação prática em diversas áreas é frutívora.

De um lado, a Guiné-Bissau vai respondendo positivamente às principais iniciativas propostas pela China, nomeadamente as iniciativas de um futuro compartilhado, de desenvolvimento, de segurança e da civilização global e tem apoiado firmemente a posição da China nas organizações multilaterais, por isso agradecemos à Guiné-Bissau pelos apoios que nos tem dado nas organizações internacionais.

Nos últimos três anos, a China também prestou alguns apoios para o desenvolvimento da Guiné-Bissau. Concluímos com sucesso o projeto de reflexão da conferência internacional do Ministério dos Negócios Estrangeiros, a construção do porto de Alto Bandim, em Bissau, e a reabilitação da sede da Assembleia Nacional Popular (ANP).

O projeto de construção da autoestrada Bissau/Safim também está a progredir significativamente. Em 2023 registamos destaques importantes na nossa cooperação e a Guiné-Bissau foi à China e pela primeira vez conseguiu montar a sua estrutura na sexta exposição nacional da importação da China.

O presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, condecorou a equipa médica chinesa no âmbito do sexagésimo aniversário da primeira equipa médica chinesa ao exterior e cerca de 140 oficiais guineenses visitaram ou fizeram formações na China no ano passado.  Tudo isso revela que, apesar das nossas diferenças geográficas, a China e a Guiné-Bissau são bons amigos e bons cidadãos que cuidam um do outro e se ajudam mutuamente.  

OD: O país tem um novo governo, embora mantenha-se o titular dos negócios estrangeiros, o interlocutor direto do Embaixador. Após o começo do novo ano, quais são as perspectivas da cooperação Sino-Guineense?

GC: Sobre o interesse dos empresários chineses à castanha de cajú guineense devo dizer-lhe que o processo está a progredir de forma consciente e esperemos que até à primeira metade de 2024 as alfândegas da China enviem uma missão de técnicos chineses a visitar o país e proceder às investigações no local.

A parte chinesa espera que tudo corra bem e que possamos assinar oficialmente um protocolo nos primeiros seis meses de 2024.

A construção da autoestrada Bissau/Safim deve ser concluída até agosto deste ano e até julho a segunda missão de técnicos agrícolas chineses chegará ao país, para continuar a desenvolver ações nas áreas técnico-agrícolas.

Também está prevista para este ano a vinda da nova missão médica chinesa. Além disso, estamos discutir um acordo com a parte guineense sobre a implementação de projetos como a peixicultura e produtos pecuários para a Guiné-Bissau.

A Guiné-Bissau como um país amigo vou promover uma visita para o Presidente da República e o primeiro-ministro para visitarem a China e a sua participação nas conferências internacionais.     

 OD: No final do mês passado, a China realizou a Conferência Central sobre o Trabalho Relacionado com os Negócios Estrangeiros. Que impacto terá na cooperação China-Guiné-Bissau? Reparamos que o conceito de Comunidade de Futuro Compartilhado para a Humanidade é um conteúdo importante da Conferência. Há perspectivas de envolver a imprensa nacional para a disseminação do grande projeto chinês, “Futuro Compartilhado” e que mecanismos a Embaixada pretende utilizar para envolver a mídia guineense?

GC: Agradeço-lhe pela questão. No ano passado todos os embaixadores e chefes de missão diplomática chinesa em todo o mundo voltaram para Pequim, capital da China, para assistir a esta conferência. A diplomacia chinesa é guiada pelo pensamento de Xi Jinping sobre a diplomacia e a conferência.

É imperativo e é um costume formar uma comunidade com futuro compartilhado para a comunidade. O objetivo é construir um mundo aberto, inclusivo, lindo e belo com paz duradoura e segurança universal.    

A China propôs essa iniciativa, futuro compartilhado para a comunidade, para o desenvolvimento, segurança e a civilização global. A Guiné-Bissau e a China já assinaram um memorando de entendimento sobre a iniciativa, uma faixa e uma rota, para pôr em prática o conceito comunitário de futuro compartilhado para a unidade.

A China está disposta a reforçar a cooperação com a Guiné-Bissau no âmbito do conceito comunitário de futuro compartilhado, a iniciativa uma faixa e uma rota e as três iniciativas globais.

A conferência esclareceu que a China apela para um mundo multipolar, equitativo e ordinário, uma globalização económica universalmente benéfica e inclusiva, porque o mundo multipolar, equitativo e ordinário não é composto apenas pelos grandes países, mas também um mundo em que países em via de desenvolvimento ou emergentes são partes iguais.

O iluminismo e a geopolítica reforçam as autoridades a prática do verdadeiro multilateralismo e uma globalização económica universalmente benéfica e inclusiva é aquela que atende às necessidades comuns de todos os países em vias de desenvolvimento, promove a liberalização, a facilitação do comércio e o investimento.

 A globalização económica vai disponibilizar mais acesso aos produtos guineenses no mercado internacional e vai trazer, com certeza, mais dinâmica para o desenvolvimento económico da Guiné-Bissau. 

Por exemplo, a China está a promover em conjunto com a Guiné-Bissau a exportação da castanha deste país à China, uma demonstração concreta da globalização económica e a liberalização do comércio.  

OD: Desde a retoma da cooperação bilateral entre os dois países em 2000, a relação está e continua estritamente a nível público. É possível explorar o setor privado, sobretudo convidando o setor privado chinês a investir na Guiné-Bissau? Qual é o fator determinante que está a condicionar o investimento do setor privado chinês na Guiné-Bissau, para além do investimento que se regista no setor pesqueiro…

GC: De acordo com a estatística chinesa, atualmente o stock de investimentos da China na Guiné-Bissau se estima-se em mais de 20 milhões de dólares norte-americanos incluindo os investimentos das empresas privadas. Ainda de acordo com o nosso conhecimento, as empresas chinesas, quer estatais, quer as privadas, prestam muita atenção e importância ao mercado da Guiné-Bissau. 

Estas empresas estão a buscar a oportunidade de investimento na Guiné-Bissau nas várias áreas, sobretudo nos setores da energia fotovoltaica, castanha de cajú e no setor pesqueiro. Eu acredito que nas áreas das infraestruturas, agricultura e outros setores, os nossos países têm ainda muitos espaços para cooperar. A embaixada tomou a iniciativa de encorajar as empresas privadas para investirem na Guiné-Bissau. 

As empresas privadas chinesas que querem investir na Guiné-Bissau estão reticentes em fazer grandes investimentos, por causa da instabilidade política, golpes de Estado e conflitos. Eu quero frisar que os golpes de Estados ou conflitos registados neste país vão afastar as empresas ou grupos de empresas que querem investir pesado na Guiné-Bissau. Queremos realçar aqui o bom ambiente político registado nos últimos anos e que oferece as pré-condições para o desenvolvimento económico neste país. 

Sabemos também que no dia 01 de dezembro de 2023 registou-se um conflito neste país. Esta situação levou algumas empresas chinesas que planeavam visitar a Guiné-Bissau e fazer o reconhecimento do mercado a cancelar a deslocação para a Guiné, por causa daquela situação. A embaixada fez um trabalho de sensibilizar e informar aquelas empresas e mais outras interessadas no mercado guineense que atualmente a Guiné-Bissau é o país mais seguro na região da África Ocidental. Essas empresas estão agora a pensar visitar a Guiné e fazer a prospecção do mercado e saber em que áreas podem investir para além da comercialização da castanha e a criação de fábricas de transformação deste produto, energia entre outros. 

Outro fator que condiciona o investimento de empresários na Guiné é o ambiente jurídico, lamentado pelos empresários que querem investir nesta terra. O governo deve engajar-se em trabalhar na política que facilita o investimento estrangeiro e a criação de serviços sociais completos e capazes de atrair investimento estrangeiro. O terceiro fator são as condições das infraestruturas…

Sabemos com a alegria que daqui a dois ou três meses a Guiné-Bissau vai resolver o problema de abastecimento da eletricidade a nível nacional. Esta é uma boa notícia para os investidores chineses que se sentirão encorajados para investir pesado neste país e precipitarão os investimentos na construção de fábricas de transformação da castanha de cajú. Para além disso, vimos também o esforço do governo em melhorar as condições das estradas, portos e outras infraestruturas e acreditamos que isso será importante para atrair o investimento estrangeiro. 

De facto as condições da Guiné estão a melhorar e a situação económica também. Nós vamos comunicar todas essas informações aos investidores chineses. 

OD: Os guineenses continuam a aguardar com muita expectativa uma intervenção robusta da classe empresarial chinesa na campanha de cajú desde ano. Sr. Embaixador, é possível a participação do setor privado chinês na campanha da castanha de cajú este ano?  

GC: Cada vez que vou de férias a China, levo comigo a castanhas de cajú para a minha família e meus amigos como presente. Digo a minha família e aos meus amigos que a castanha de cajú da Guiné-Bissau é de melhor qualidade no mundo. De facto há muitas variedades da castanha de cajú provenientes de diferentes países no mercado chinês e acredito que até é a castanha da Guiné que vem do Vietnam. 

Segundo as estatísticas, em 2021, as importações de castanha de cajú da China foram aproximadamente 400 000 toneladas, com um valor total superior a 6,2 bilhões de dólares norte-americanos, e mantém-se a tendência de crescimento em 2022 e 2023. A Guiné-Bissau é um dos maiores produtores mundiais da castanha de cajú e a qualidade da castanha de cajú também fica entre as melhores, o que atende às necessidades do mercado chinês. Na verdade, estre as castanhas de cajú importadas pela China, é provável que seja o cajú da Guiné-Bissau que foi transformado pelo Vietnam e outros países. 

Estamos a trabalhar agora para limpar todos os obstáculos e permitir que as castanhas da Guiné-Bissau sejam vendidas na China sem passar por Vietnam. A China enviará para a Guiné uma missão de técnicos que virão para analisar localmente a castanha e o ambiente do negócio. Esperamos que nos meados dos meses de junho e julho possamos assinar o protocolo da exportação da castanha de cajú da Guiné-Bissau para a China. 

Até agora várias empresas chinesas demonstram interesse em comprar a castanha e algumas querem vir fazer investigações sobre a viabilidade de construir fábricas de transformações da castanha. O fator determinante para a assinatura do protocolo de acordo para a exportação da castanha de cajú para a China é a qualidade do cajú guineense e o ambiente de investimento que a Guiné-Bissau oferece. O que nós podemos fazer é trabalhar afincadamente para a assinatura do protocolo de acordo. 

OD: Perspetiva-se a assinatura do protocolo de acordo para a exportação da castanha de cajú entre os meses de junho e julho, mas na Guiné-Bissau, a campanha de comercialização da castanha decorre entre março, abril e maio e já no junho se começa a exportação. Isto quer dizer que pode-se contar com as empresas chinesas só no próximo ano?

GC: Tudo vai depender dos resultados da equipa técnica a ser enviada para a investigação no terreno e que chegará no mês de abril deste ano. Se estes técnicos derem um resultado favorável e se chegarmos ao consenso quanto à assinatura do acordo, acredito que será possível exportar a castanha de cajú da Guiné-Bissau para a China ainda este ano. 

OD: A imprensa guineense e particularmente (imprensa amigo da China) reconhece o apoio recebido da Embaixada, mas continua a sonhar com apoios financeiros da China para a execução dos seus projetos. Senhor, é possível contar com o apoio financeiro da Embaixada para a execução de projetos?

GC: Agradecemos o apoio que a media guineense dá à cooperação e relações amistosas entre a China e a Guiné-Bissau. Agradecemos ainda os apoios que a media dá aos assuntos como a um cinturão e uma rota, bem como na divulgação de informações verdadeiras e favoráveis à China sobre este assunto.

A parte chinesa está disposta a convidar cada vez mais jornalistas estrangeiros, incluindo guineenses, a visitar e fazer formação na China, fazendo-os conhecer uma China verdadeira e mais vivida. No ano passado, a China convidou vários jornalistas da Guiné-Bissau a visitar a China e recebemos respostas favoráveis. Este ano, a China vai continuar a convidar jornalistas da Guiné-Bissau para visitarem a China. 

A media guineense é sempre bom amigo da Embaixada da China, e tem mantido boas relações de cooperação conosco. Estamos dispostos a oferecer mais apoio para a imprensa guineense no futuro. 

Por: Assana Sambú/Filomeno Sambú                     

Author: O DEMOCRATA

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