Setor de Empada: POPULARES DE FARANCUNDA “VACINADOS A SOFRER” CLAMAM POR ÁGUA POTÁVEL E CENTRO DE SAÚDE

Os populares da aldeia de Farancunda, considerada a maior secção do setor de Empada, região de Quínara, no sul da Guiné-Bissau, clamam por água potável, centro de saúde, infraestruturas escolares e rodoviárias. A aldeia é das mais populosas da região e não dispõe de um único posto de saúde, pelo que os pacientes e grávidas recorrem ao centro de saúde da cidade de Empada, que dista uns onze quilómetros ou recorrerem para a aldeia de Batambali, que se situa a sete quilómetros.

As populações da famosa aldeia de “Francunda Cubussegue”, considerada a maior em termos de habitantes e do tamanho, a nível do setor de Empada, vivem da pesca e da agricultura.

A aldeia dispõe apenas três pavilhões escolares que se encontram numa situação precária, sem água potável e nem sinais de eletricidade e nem sequer energia solar.

GRÁVIDAS COM “ANTÍDOTO DE DOR” RECORREM A AJUDA DE PARTEIRA TRADICIONAL 

Em situações de emergência, a população é obrigada a recorrer ao setor de Empada ou Batambali, duas localidades mais próximas da aldeia abandonada à sua sorte.

Na ausência de um centro hospitalar para atender os casos menos graves, a aldeia conta com o apoio de uma parteira tradicional que presta ajuda e assistência durante o trabalho de parto às mulheres. As doenças mais frequentes são o paludismo e o sarampo.  

O chefe da Tabanca, Arafam Sambú, contou à nossa equipa que a Aldeia não tem um centro de saúde e quando há casos de emergência ou grávidas que precisam de assistência, não conseguem fazer nada e a situação tende a piorar cada vez, o que não garante segurança a ninguém.

Afirmou que têm-se beneficiado de campanhas de vacinação, tanto no centro como nas que são lançadas pelo Ministério da Educação Nacional em parceria com os parceiros do governo.  

“Temos uma mulher cá na tabanca que ajuda as grávidas no parto, mas quando não consegue solucionar casos graves, solicita a evacuação para o centro de saúde de Empada”, sublinhou.

Arafam Sambú explicou que os populares daquela tabanca estão a enfrentar dificuldades de vária ordem, nomeadamente problemas relacionados com o estado das bolanhas, falta de arroz e materiais para as atividades de pesca, apesar de ser uma aldeia com bastantes potencialidades em recursos pesqueiros.

Segundo o chefe da tabanca, mais de 100 tabancas beneficiam das bolanhas que são sustentadas pelo rio Mandez, mas foram danificadas pela água salgada e deixou os populares sem espaço para praticar as atividades agrícolas há mais de oito anos.

“Algumas tabancas têm ainda espaços para praticar as atividades de lavoura e aquelas que não têm, recorrem aos familiares para lhes ceder espaços para lavoura. A situação é preocupante e queremos pedir ao Estado guineense para apoiar-nos na recuperação das bolanhas para que possamos continuar a praticar atividades agrícolas e combater a insegurança alimentar no país.

Informou que as crianças têm hoje acesso à escola, graças ao empenho e à determinação da própria comunidade que construiu uma escola, que funciona de pré-escolar ao 8º ano de escolaridade, com a ajuda de alguns parceiros e individualidades políticas, que apoiaram no fabrico de telhados.

A escola tem dois pavilhões e funciona de pré-escolar ao 8º ano de escolaridade, com a capacidade para albergar 402 alunos.

Para o jardim, construíram um pavilhão que alberga 70 crianças. No total, a secção de Farancunda conta com 11 professores, que são também responsáveis pelo processo de alfabetização de adultos.

Segundo o responsável, para que não haja interrupções das aulas durante as greves, a comunidade participa, em regime de autogestão, com mil francos CFA mensais para o jardim, incluindo as refeições. Do primeiro ao sexto ano de escolaridades pagam setecentos e cinquenta, mil francos CFA para os níveis 7º e 8º anos, como forma a assegurar os professores.

Relativamente ao acesso à água potável, disse que no passado tinham quatro fontanários, mas neste momento deixaram de consumir a água desses fontanários, por recomendações médicas.

A aldeia conta com duas torneiras de água que são alimentadas por um painel solar, o que leva às vezes, a população a ficar três dias sem água para beber, tendo defendido uma intervenção urgente do governo para que possam ter água suficiente para o consumo, realizar outros trabalhos e necessidades básicas.

“Para conseguir água na única torneira que temos, deve-se levantar muito cedo, caso contrário ficará sem água. Essa situação tem criado conflitos entre as mulheres à boca da torneira. Diariamente lutam por esse líquido precioso, porque se se conseguir um dia, terás o precioso líquido que é a água. Mas normalmente no fim, cada qual consegue levar água e esperar dois ou três dias. Mesmo com essa torneira, algumas pessoas continuam a consumir água de fontanários, porque é mais doce”, informou.

Outra preocupação levantada pelo chefe da tabanca de Farancunda   tem a ver com a falta de gelo para a conservação do pescado que é comercializado em Bafatá, na cidade de Gabú e em Buba, no setor de Bambadinca e em Bissau.

Arafam Sambú informou que um dos desafios que a secção enfrenta são os conflitos entre criadores de gado e os agricultores.

 Para estancar os conflitos que têm afetado a convivência entre essas duas categorias da população, a comunidade adotou uma série de medidas e uma delas é a fixação de um valor monetário de compensação pelos danos sofridos nos cultivos, sendo aplicado uma multa de cinco mil francos CFA   e vinte e cinco mil francos para as vacas.

“O Estado guineense deve criar as condições de iluminação, mesmo que sejam postes solares e a recuperação das bolanhas para que possamos continuar a realizar as nossas atividades diárias de campo e da pesca, que são fontes de rendimentos para a população. Portanto é urgente resolver essa situação o mais rápido possível, porque estamos cansados”, lamentou e assegurou que a comunidade não tem grandes problemas no que diz respeito aos transportes mistos.

JUVENTUDE PEDE MELHORES CONDIÇÕES PARA O FUNCIONAMENTO DA ESCOLA

Interpelado pelo jornal O Democrata, o representante da juventude da secção de Farancunda, Sana Indjai, revelou que essa tabanca enfrenta muitos problemas sociais e apontou a necessidade da criação de condições objetivas para o funcionamento da escola e a colocação de professores como um imperativo e um dos assuntos mais urgentes para a comunidade.

Sustentou que isso ajudaria os pais e os encarregados de educação a pouparem recursos em termos de pagamento das propinas, devido ao regime de autogestão implementado para assegurar que os professores colocados pela comunidade se mantenham e evitem participar nas eventuais ondas de paralisações, principalmente os que não têm vínculos com o Estado.

“O Estado deve construir escolas em diferentes tabancas do país para evitar a fuga de jovens para as cidades. A escola que está a funcionar aqui foi construída pela comunidade com a ajuda de projetos. É um bom sinal que deve ser reforçado e abraçado pelas autoridades”, defendeu.

Criticou o fato de o Estado não ter feito nada e delegada essa missão a pessoas de fora.

“É responsabilidade do Estado construir escolas e garantir efetivamente que esse direito fundamental seja observado, mas não faz nada e no momento da campanha eleitoral deixam muitas promessas que depois não são cumpridas”, lembrou.

Por: Epifânia Mendonça

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