[Edição impressa nº558 Ano XII, de 22 de fevereiro de 2024] Na verdade, como dizia Paul Watzlawick, é impossível não se comunicar na esfera pública de uma sociedade democrática. Todo o comportamento na esfera política e governativa de um país democrático é sempre uma forma de comunicação. Como não existe, nas sociedades democráticas contemporâneas, uma forma contraria ao comportamento, também não existe a não comunicação.
É perante esta realidade social pública nacional que todos nós cidadãos guineenses não conseguimos ainda compreender a comunicação do nosso atual governo que a Copa de Africana das Nações (CAN 2023), é o pai do novo Carnabarraca 2024 na Guiné-Bissau.
O nosso governo infelizmente esqueceu-se que o silêncio teria sempre um significado que poderia ser entendido como uma forma de comunicação ao público. Na comunicação pública governamental, o silencio é sempre interpretado como a retórica da política do não dito, que resulta de uma ativa vontade visível de fazer o que existe num governo eleito democraticamente.
A comunicação do governo que o CAN 2023 é o pai do novo Carnabarraca 2024 na Guiné-Bissau é uma comunicação de um governo precário sem decisões para formular as políticas sociais e económicas consistentes sobre o carnaval, que tenham um impacto na divulgação da nossa cultura e na rentabilidade financeira do turismo na Guiné-Bissau.
O governo deveria manter-se em silencio, que o público poderia interpretar como uma vontade ativa e visível de querer fazer a última hora algo para divulgar a nossa cultura. Mas, comunicar publicamente que o CAN 2023 é o pai de Carnabarraca 2024, que nasceu agora na grande festa da cultura nacional, é uma prova inequívoca que este governo não tem uma política cultural e desportiva.
Na verdade, misturar o orçamento da política da Cultura com o orçamento do Desporto é algo que só existe nos países com governos desestabilizados e desorganizados sem capacidades de tomar medidas para formular as políticas públicas concretas para os dois setores essenciais da vida pública nacional.
Comunicar hoje, na esfera pública nacional, que o CAN 2023 é o pai de Carnabarraca 2024 é esquecer que os próprios meios de comunicação social são extensões dos nossos cidadãos no mercado da ideia nacional, cuja compreensão exige de todos os guineenses terem uma visão de uma ação concreta para dinamizar e estabelecer uma nova política cultural de carnaval na Guiné-Bissau.
A Comunicação pública do governo que Carnabarraca2024 nasceu do CAN 2023 é uma prova inequívoca que o governo pretende, nos próximos anos, estabelecer uma politica da privatização e da liberalização económica da cultura do Carnaval na Guiné-Bissau. Ou seja, o nosso Carnaval deixará de ter o seu valor cultural nacional e internacional.
A nova política de Carnabarraca 2024 do nosso governo passará a olhar apenas para o valor económico e financeiro do Carnaval que advém dos petiscos e das bebidas vendidos nas barracas que cobrem hoje quase toda a cidade de Bissau, em particular, o espaço verde no Bairro d’Ajuda.
A Comunicação do governo que o CAN 2023 é o pai de Carnabarraca 2024 é uma verdadeira prova da desorganização, de desestabilização e da ausência de uma verdadeira política cultural para o Carnaval nacional. Aliás, este ano, com exceção de excursionistas, que vieram visitar a Lagoa de Cufada e a floresta de Cantanhez, não houve praticamente europeus e americanos a assistir o desfile de Carnabarraca 2024, em Bissau, capital do país, como nos anos passados.
É triste, mas é a realidade que a cultura nacional foi esquecida pelo governo que agora nos comunica que foi oCAN 2023, que fez nascer o Carnabarraca 2024 na Guiné-Bissau. Os homens da cultura nacional lamentam, até quando o regresso do carnaval do CAN 2023 da Costa de Marfim. Esperam que o nosso verdadeiro Carnaval não tenha viajado depois de Costa de Marfim para o CAN 2025 em Marrocos. Ou de não regressar nunca a pátria de Amílcar Cabral.
Por: António Nhaga
Diretor-Geral
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