O presidente da Associação Nacional de Importadores e Exportadores da Guiné-Bissau, Mamadu Iero Jamanca, advertiu as autoridades nacionais que o preço base fixada de 300 francos cfa por quilograma da castanha de cajú, bem como a base tributária fixada em 800 dólares norte-americanos por toneladas não são viáveis e nem concorrencial para os exportadores por causa da conjuntura do mercado atualmente.
“O governo esqueceu-se que a época de ouro do cajú da Guiné-Bissau já foi… no passado e já lá vão há muitos anos o cajú da Guiné era procurado quase como os medicamentos. Agora não, porque há muitos países que estão a produzir o cajú e entre os quais, o Camboja que está muito próximo da Índia, que dos cerca sete milhões de toneladas do cajú produzidos mundialmente, ela (India) adquire quase 80 por cento e o resto vai para o Vietnam, para o Brasil, sem contar com os processadores locais”, disse o empresário em entrevista por telefone ao jornal O Democrata para falar das estruturas de custos definidas pelo executivo para a campanha de cajú do presente ano.
“COMPETITIVIDADE DO CAJÚ GUINEENSE CAIU DRASTICAMENTE, PORQUE PERDEU A QUALIDADE”
O governo fixou em 300 francos cfa o preço mínimo por quilograma ao produtor para a campanha de comercialização da castanha de cajú para o presente ano. A decisão consta do comunicado da sessão extraordinária do Conselho de Ministros de sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024.
O Conselho de Ministros decidiu ainda que a base tributária é fixada em 800 dólares por tonelada, tendo fixado o dia 15 de março como a data de abertura oficial da Campanha de Comercialização e exportação da castanha de cajú para este ano. A Costa do Marfim, o maior produtor do cajú da sub-região, fixou o preço de base de 275 fcfa por quilograma.
A castanha de cajú é o principal produto de exportação da Guiné-Bissau e representa quase 90 por cento dos produtos exportados.
Mamadu Iero Jamanca criticou os técnicos que trabalharam no documento da estrutura de custo, que segundo a sua explanação, esqueceram-se dos pormenores acima referidos no documento e também não levaram em conta as crises que abalaram o mundo, sobretudo a guerra na Europa e no médio oriente que estão a dificultar a passagem de navios de carga.
“Devem saber que nós ainda não nos recompomos do grande choque causado pela pandemia de coronavírus em 2019. Como se sabe há muitas empresas que fecharam e sobretudo empresas nacionais, aliás não estamos a referir aqui as empresas sazonais, mas sim as empresas nacionais que trabalham 12 meses anualmente. Ainda temos as crises causadas pela guerra na europa que está a condicionar a movimentação das mercadorias da Ásia para a África e da África para a Ásia, portanto era preciso levar em conta todos esses elementos”, alertou o empresário, lembrado que tinha enviado uma carta ao Chefe de Estado, dado que se trata de um governo de iniciativa presidencial. Solicitava um encontro para tratar exaustivamente a referida situação, tendo lamentado a falta de uma resposta favorável da parte do Presidente da República.
Justificando as suas afirmações em como o preço fixado não é viável, Jamanca disse que atualmente a competitividade do cajú da Guiné-Bissau caiu drasticamente, “porque o cajú da Guiné-Bissau perdeu a qualidade, como também o governo esqueceu que não exporta grandes quantidades”.
“Quem exporta quantidades consideráveis do cajú na sub-região é a Costa do Marfim, que exporta acima de um milhão e duzentas mil toneladas anualmente. A Guiné-Bissau exporta entre 200 a 300 mil toneladas anuais, que não é nada neste momento, porque a Costa do Marfim, nos últimos dois e três anos está a processar ou transformar exatamente acima de 200 mil toneladas do caju que é a quantidade total da produção da Guiné-Bissau…! E nós andamos aqui distraídos com “djusinhos– djusinhos”, que nos envergonham me”, disse, criticando que na Guiné-Bissau não se fala e nem se discute a economia e “aqui só se fala da política e de djusdi badjudasinhos ku rapasinhus”.
O presidente da associação dos importadores e exportadores assegurou que a estrutura de custos aprovada pelo executivo não espelha o que o país tem que fazer para a campanha do cajú de 2024, mas sobretudo para minimizar os problemas dos últimos três anos.
Questionado sobre o que os empresários esperavam que o governo fizesse para colmatar a situação e corresponder às suas expectativas, respondeu que atualmente os empresários passaram de pedir para exigir ao governo que é imperativo que se faça o balanço dos últimos dois anos para saber o porque é que quase 50 mil toneladas do cajú ficaram no país em 2022.
Criticou e diz não perceber até agora o por que é que o governo gasta muito dinheiro na ANCA, CNC e nas comissões criadas.
“Porque é que um grupo de funcionários que vai trabalhar para prestar o serviço público e que diz à população que também são funcionários públicos, mas para acompanharmos o desenrolar normal da campanha de cajú desde o agricultor até ao porto de Bissau, vocês têm que nos pagar mais do que o nosso salário e se não, nós não trabalhamos. Vamos quantificar este dinheiro desde a Buruntuma até o Porto da APGB, por amor de Deus…”, lamentou.
Refira-se que a Guiné-Bissau exportou, em 2023, 170 mil toneladas da castanha de cajú que saíram oficialmente dos portos de Bissau, uma quantidade muito inferior à do ano 2022, embora a previsão fosse de 225 mil toneladas. Até agora, encontram-se em Bissau, duas a três mil toneladas de castanha do ano de 2023.
Por: Assana Sambú