
O Presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, Bubacar Turé, responsabilizou o Estado guineense pelo aumento de casos de feitiçaria na Guiné-Bissau, por os sucessivos governos não terem conseguido criar condições para resolver os problemas básicos da população para que esta possa viver com dignidade e respeito pelos direitos fundamentais dos cidadãos.
Num Djumbai realizado este sábado, 9 de março de 2024, em Coladje, promovido pela Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH), no âmbito do projecto Observatório da Paz “Nô Cudji Paz”, Bubacar Turé aconselhou a população daquela tabanca a não aceitar ser dividida com discursos de feitiçaria.
“Não devemos aceitar que reinem as acusações de feitiçaria. Devemos assumir um compromisso de que não vamos aceitar sermos divididos com os discursos de feitiçaria, porque o maior inimigo não é feiticeiro. É a pobreza! O Estado é responsável por não criar as condiu para vivermos com dignidade e respeito pelos direitos fundamentais dos cidadãos” disse, desafiando a população de Coladje a jurar acabar com o fenómeno de acusações de feitiçaria, de espancamento e de obrigar as pessoas a ingerirem poções à base de plantas silvestres.
“Quero lança um apelo a todos aqui presentes. Vamos assumir um compromisso de que jamais vão fazer este ato, que vão abandonar esta prática de feitiçaria ao ponto de as pessoas serem espancadas e obrigadas a ingerir um líquido de plantas silvestres” desafiou o ativista dos Direitos Humanos.

Em reação a este desafio, os presentes levantaram-se e ficaram de pé por alguns segundos, levantando um braço, e juraram não praticar esses atos. Um compromisso aplaudido pelo Presidente da Liga Guineense dos Direitos que disse que se notou determinação e disponibilidade da comunidade local para abandonar aquela má prática.

Recorrendo ao passado, Turé lembrou que, durante a luta de libertação, as pessoas acusavam-se mutuamente de feitiçaria, levando a morte de muitos guineenses, um ato estancado no primeiro congresso de Cassacá por Amílcar Cabral.
“Portanto, esta declaração de compromisso é uma repetição daquilo que aconteceu na época colonial. Este juramento de abandonar a prática será fiscalizada por todas as confissões religiosas. Este é um compromisso sagrado que deve ser cumprido por todos para acabar com a prática” insistiu, apelando ao abandono de acusações de prática de feitiçaria na Guiné-Bissau.
Pediu também à população a ser tolerante, a perdoar-se, respeitando à vontade de cada um professar qualquer religião, ou seja, respeito na diversidade, tendo acreditado que, se a comunidade local assumir esta atitude, isso vai trazer a paz e entendimento na tabanca.
Embora reconheça o nível avançado de degradação dos edifícios onde funcionam a escola e posto avançado de saúde em Coladje, Bubacar Turé aconselhou a comunidade local a levar sempre os seus filhos doentes para o centro de saúde mais próximo, antes de os levar para o vidente, sublinhando que uma das melhores maneiras de combater o feiticeiro na tabanca é procurar um profissional de saúde.
O ativista aconselhou ainda os pais e encarregados de educação para investirem. Na educação dos jovens e raparigas para combater à feitiçaria.
Aos jovens, pediu que não desistam de prosseguir os seus estudos devido às dificuldades de ordem financeira, convidando-os a abandonar o estilo de “vida fácil” que não é sustentável.
Por outro lado, Bubacar Turé apelou ao respeito aos direitos das mulheres, ao abandono à violência contra as mulheres, por considerar que não há paz e consequente desenvolvimento onde as mulheres são maltratadas e onde as mulheres não são convocadas para participar e opinar na tomada de decisões na comunidade.
Por fim, Turé prometeu trabalhar com outras instituições para a soltura dos inocentes, sublinhando que a sua organização aceita o perdão na base da justiça para que haja a paz, o sucesso e a tranquilidade em Coladje, mas avisou que a liga não vai advogar pelas pessoas implicadas na morte dos oito idosos na sua maioria homens (três mulheres e cinco homens) na tabanca de Coladje.
Refira-se que o Observatório da Paz – Nô Cudji Paz é um projeto financiado pela União Europeia e cofinanciado pelo Instituto Camões e implementado pelo Instituto Marquês de Valle Flôr em parceria com a Liga Guineense dos Direitos Humanos. Pretende-se com o projeto contribuir para o diálogo, promoção da paz e a prevenção da radicalização e do extremismo violento na Guiné-Bissau, através do reforço da participação, trabalho em rede e o estabelecimento de parcerias estratégicas entre as Organizações da Sociedade Civil (OSC) e outros atores sociais e políticos.
Por: Tiago Seide
Foto: TS