Sete milhões de eleitores senegaleses são chamados este domingo, 24 de março de 2024, a escolher o novo Presidente da República numa eleição em que os seus maiores protagonistas não vão a votos e pode resultar numa mudança “profunda” nas relações externas do país, regionais e internacionais.
Entre os 16 homens e uma mulher inscritos no boletim de voto, os dois favoritos – Bassirou Diomaye Faye, pela oposição, e Amadou Ba, pela coligação no poder, Benno Bokk Yakaar (BBY, Unidos pela Esperança, em wolof) – destacam-se precisamente por terem sido escolhas pessoais de duas individualidades políticas excluídas do escrutínio: o Presidente cessante, Macky Sall, e o líder da oposição, Ousmane Sonko.
Bassirou Diomaye Faye apresenta-se como uma figura anti-sistema, tendo sido a figura escolhida pelo Patriotas Africanos do Senegal para o Trabalho, a Ética e a Fraternidade (Pastef, partido ilegalizado em meados do ano passado pelo regime de Macky Sall), para representar a oposição, perante a impossibilidade de Sonko, 49 anos, antigo presidente da câmara de Zeguinchor, concorrer.
Ousmane Sonko foi perseguido ao longo do último ano pela justiça senegalesa, que o condenou por um crime sexual mas também por incitamento à insurreição, associação criminosa no âmbito de um projeto terrorista e atentado à segurança do Estado.
A sua retórica soberanista e pan-africanista, assim como as declarações contra a “máfia do Estado”, as multinacionais e o domínio económico e político, que considera ser exercido pela antiga potência colonial – a França -, granjearam-lhe um forte apoio entre os jovens, que constituem metade da população.
Sonko e Faye estiveram detidos até há pouco mais de duas semanas, tendo apenas sido libertados na sequência de uma amnistia assinada por Macky Sall, depois de defraudada pelo Conselho Constitucional senegalês, a entidade responsável por supervionar o processo eleitoral, a tentativa para adiar estas eleições para dezembro.
Amadou Ba, primeiro-ministro até há pouco mais de duas semanas, foi a segunda escolha de Macky Sall — impedido constitucionalmente de se recandidatar a um terceiro mandato -, para empunhar a bandeira da BBY na corrida à eleição do quinto presidente do país desde a sua independência de França em 1960.
A votação estava inicialmente prevista para 25 de fevereiro, mas um adiamento de última hora provocou distúrbios e várias semanas de confusão que puseram à prova as práticas democráticas do Senegal.
Com uma população de 18 milhões de habitantes, o Senegal é um dos países mais estáveis de uma África Ocidental abalada por golpes de Estado, que tem mantido fortes relações com o Ocidente.
O discurso da oposição na campanha para estas eleições presidenciais foi sentido como portador de algumas ameaças pelo estrangeiro, que está a seguir o processo com particular atenção.
A dupla Sonko/Faye prometeu, caso seja poder, renegociar os contratos de exploração mineira e de energia que farão do Senegal um produtor de petróleo e gás natural a partir do final do ano.
A carta da energia senegalesa é particularmente sensível à Europa, desde que foi forçada a procurar alternativas à Rússia, mas também num contexto em que a França — o país com a presença mais influente na região — está a ser literalmente expulsa de várias das suas antigas colónias na África ocidental, nomeadamente no Sahel, onde a Rússia tem vindo a ocupar o seu lugar.
Amadou Ba, por outro lado, posicionou-se como um político com a experiência necessária para conduzir os destinos do país e fez campanha pela continuidade do plano “Senegal Emergente”, que marcou o essencial do desempenho governativo de Macky Sall, assente na construção de infraestruturas.
In lusa