50 anos após 25 de Abril: EX-COMBATENTES CLAMAM PELA JUSTIÇA DA “REVOLUÇÃO DOS CRAVOS” E PEDEM RECONHECIMENTO DE PORTUGAL  

Os ex-combatentes guineenses que lutaram por Portugal na guerra colonial disseram que foram convocados através de uma lista nominal de recrutamento e cumpriram o serviço militar há mais de trinta anos, por isso merecem usufruir da justiça da revolução dos Cravos que trouxe a justiça e liberdade ao povo português e exigiram o reconhecimento pelo serviço prestado à bandeira portuguesa para que possam beneficiar dos seus direitos, à semelhança dos seus colegas de Angola e Moçambique.  

“É urgente legitimar-nos como portugueses. Portugal deixou-nos numa situação de miséria extrema, não reconheceu uma das províncias que tinha dominado. Os ex-combatentes portugueses na Guiné são discriminados. Se estamos contemplados no mesmo circuito com Angola e Moçambique, porque é que Portugal sempre atendeu e continua a atender estes dois países, mas não a Guiné-Bissau. Não somos mercenários. Fomos colonizados, convocados através de uma lista nominal de recrutamento e cumprimos o serviço militar trina e seis anos, igual período que os de Angola e de Moçambique, portanto estamos à sombra dessa bandeira portuguesa e merecemos ser reconhecidos e devolvida a nossa nacionalidade”, afirmou, Abel de Barros, veterano de guerra que lutou pela bandeira portuguesa.  

Em entrevista ao Jornal O Democrata no âmbito das celebrações dos 50 anos do 25 de abril, conhecido por revolução dos Cravos, afirmaram que há 50 anos Portugal apenas colocou a Guiné-Bissau numa situação de miséria, levou tudo que estava nos cofres da administração colonial e não permitiu que os guineenses conseguissem consolidar a sua independência eficazmente.  

Numa primeira abordagem pormenorizada sobre 25 de abril de 1974, Abel de Barros, antigo combatente da época portuguesa, recorda dos 50 anos de 25 de abril como um “caminho da liberdade dos portugueses”, conquistada por meio de sangue e suor dos ex-combatentes guineenses que lutaram por Portugal, porque “estávamos sob dominação colonial e provocámos o 25 de abril em Portugal contra o regime fascista”.

“Nunca nos posicionamos contra Portugal, nunca. Lutamo-nos lado a lado com os portugueses, mas dada à desordem da colonização desenfreada, desencadeou-se a luta de libertação em 61 que se prolongou até ao 1974. Portugal ganhou a liberdade por nossa causa. Todos os membros, militares, corpo dirigente português que saiu de Bissau é que fizeram o golpe de Estado de 25 de abril”, lembrou e disse que foi uma satisfação para os guineenses, porque a revolução de 25 de abril desalojou a província da Guiné, que passou a ser um país independente, uma República.

“O 25 de abril foi preparado por todos os combatentes portugueses que saíram da Guiné, nomeadamente António Spínola, Otelo de Carvalho, Galvão e companhia limitada”, insistiu.  

Disse que antes do 25 de abril, na Guiné Portuguesa tudo era “uma desordem total”, os guineenses eram discriminados, não tinham o acesso à escola, eram oprimidos e os direitos fundamentais dos cidadãos foram aniquilados pelos portugueses, pelo regime que vigorava, salientando que era necessário o 25 de abril, caso contrário jamais os guineenses estariam estáveis.

Abel de Barros afirmou que o direito à nacionalidade portuguesa é “inegociável” e exigiu que Portugal retribua esse direito a todos os ex-combatentes guineenses que prestaram serviço a este país europeu, porque” cumprimos tudo o que era de especial, o dever de um oprimido por Portugal”.

“Não um favor, uma obrigação. Mais de 500 anos de dominação, não é agora que Portugal vai tirar-nos o nosso direito, não”, repudiou.

ADULAI BALDÉ: “EX-COMBATENTES SENTEM-SE ISOLADOS E ABANDONADOS POR PORTUGAL”

Interpelado pelo o semanário O Democrata, Adulai Baldé, Conselheiro Principal do presidente da Associação dos Ex-combatentes das Forças Armadas Portuguesas na Guiné-Bissau, denunciou que Portugal isolou e abandonou os ex-combatentes, que há vários anos reclamam que lhes sejam devolvidos os seus direitos à nacionalidade.

“Se alguém tem meios para se deslocar a Portugal, é abandonado. Até os feridos em combate são vítimas dessa desordem de Portugal. Exigem-nos muita papelada e depois não fazem nada. Não há um único elemento dos ex-combatentes, que tenha cumprido o serviço militar que não foi descontado para a segurança social. A Segurança social era descontada e ia para caixa geral de aposentação, mas se for exigir hoje vão dizer que nunca existiu. O 25 não favoreceu os guineenses, apenas os portugueses. Há mais de 500 anos, o que Portugal fez para a Guiné-Bissau?”… disse, salientando que nunca Portugal se pronunciou sobre a situação dos seus ex-combatentes guineenses, apenas Angola e Moçambique.    

Lembrou que a bravura dos guineenses resultou num livro “Portugal futuro e Guiné-Bissau futuro”, que era um instrumento que revelava que a Guiné-Bissau foi determinante para as independências dos outros países africanos lusófonos, mas depois do 25 de abril e do processo da independência, que foi dada como quem diz “dá lá, toma lá”, jamais Portugal se interessou pelas questões da Guiné-Bissau.

O ex-combatente português disse que toda a revolta portuguesa contra a Guiné-Bissau deve-se ao facto deste país ter perdido o maior número dos seus soldados aqui, nove mil na Guiné Portuguesa.

“Isso ficou na pele dos portugueses e retalharam a Guiné-Bissau. Cada vez que levantamo-nos para reivindicar, há vozes que tentam silenciar-nos, porque não querem trazer à tona os verdadeiros problemas. Essa narrativa nunca vai funcionar, somos povo português e Portugal deve devolver-nos esse direito que nos assiste. Tínhamos documentos de cidadãos portugueses, mas Mário Soares e Cavaco Silva aniquilaram esse direito, em 1981”, indicou.

Numa curta mensagem dirigida ao povo e às novas autoridades portuguesas, António Cadi Camará, ex-1º cabo de transmissões do exército português, lembrou que o 25 de abril colocou um ponto final no “mito fascista” que ensombrava, tanto os portugueses quanto os povos das suas antigas colónias, lembrando ao povo e aos atuais dirigentes que “ontem estivemos todos na mesma trincheira para lutar contra injustiças, matanças e abusos cometidos antes da revolução”.

“Infelizmente, hoje sentimo-nos discriminados e desprezados pelo Estado português, por não ter honrado os compromissos assinados no passado, razão pela qual exigimos, mais uma vez, o cumprimento de todos os acordos assinados em nome dos ex-combatentes que estiveram ao serviço de Estado português no Ultramar”, pode ler-se na mensagem.

Por: Filomeno Sambú

Author: O DEMOCRATA

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