O diretor geral do Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Júlio Malam Injai, afirmou esta quinta-feira, 25 de abril de 2024, no âmbito da estratégia de garantias da segurança alimentar e nutricional que há várias componentes concernentes, nomeadamente a produção nacional, mas quando na produção não favorece o consumo, o país recorre às doações ou às importações para poder cobrir as lacunas em termos alimentares, numa clara alusão à escassez do arroz no país.
Em declarações aos jornalistas, à margem do ateliê nacional de consultas estratégicas no âmbito da preparação do novo quadro de programação por PAIS da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura para a Guiné-Bissau, Júlio Malam Injai lembrou que é uma coisa que se planeia para a gestão bem definida do stock dos produtos nacionais e para que não haja rutura e que é preciso “ter uma planificação eficiente e eficaz para abastecer o mercado nacional com todos os produtos consumidos pela população”.
“No caso específico da produção, está ligada ao Ministério da Agricultura. O plano nacional do investimento agrário foi aprovado desde 2017. Este plano contempla várias iniciativas, incluindo o setor das pescas, componentes do domínio agrário, quer pecuária, quer produção vegetal e florestal”, precisou.
Lembrou que, no âmbito deste plano, o país esteve presente, em 2023, na Dakar II, uma Cimeira organizada pela União Africana (UA) em colaboração com o Banco Africano de Desenvolvimento ( BAD), na qual a Guiné -Bissau apresentou nove fichas de projetos, nomeadamente os projetos relacionados com o GAP nacional, o deficit alimentar que o país tem em certos produtos, por exemplo, o arroz, com uma importação de mais 155 mil toneladas, bem como a carne (frangos) e ovos, sem contar com as cebolas, que poderiam ter sido produzidas localmente em quantidade, “dada às condições propícias do solo do nosso país”.
Reconheceu que tudo isso não está a acontecer porque falta e tem faltado investimento sério no setor agrícola e modernizar a agricultura, por ser uma economia da Guiné-Bissau, tendo admitido que o país tem condições favoráveis de fazer três colheitas de arroz ao ano.
“A agricultura é onde há maior riqueza do mundo. São recursos renováveis, ao passo que o petróleo, os diamantes, etc, não são renováveis. Quando se esgotam, não há mais nada que se possa fazer, portanto a agricultura poderia ser uma alavanca do desenvolvimento deste país”, enfatizou e desafiou as autoridades a apostarem neste setor, por ser uma área que pode ajudar o país a dar aos guineenses de comer, vender o excedente, criar as condições para a construção de novas escolas modernas bem equipadas com carteiras de qualidade, hospitais com equipamentos de ponta e o abastecimento de medicamentos de qualidade.
Defendeu que o país não pode e nem deve aceitar a proliferação de medicamentos, porque “ temos medicamentos que veem do Líbano, de Portugal, da Índia, da Nigéria e de toda parte do mundo, não é possível. Temos que organizar essa esfera para preservar a saúde dos nossos consumidores”, criticou, sustentando que foi lá para dar exemplos de medicamentos porque um agricultor deve ser uma pessoa que tem boa saúde para desempenhar as suas atividades de campo.
Segundo Júlio Malam Injai, o programa que o país apresentou em janeiro 2023, em Dakar, contempla um projeto apenas para produção de arroz que poderia permitir à Guiné-Bissau criar um excedente, orçado em trezentos mil milhões de francos CFA.
O projeto iria ordenar 15 mil hectares de terras e produzir arroz em três colheitas de arroz por ano, o que colocaria o país na posição de exportador, não importador ou estar a pensar na rotura deste produto no mercado nacional.
Disse que o projeto é do conhecimento do governo, aliás foi a entidade que organizou a conceção das nove fichas do projeto e implicou todas as estruturas estatais, o setor privado e os agricultores, apenas faltam financiamentos.
“Não podemos estar a admitir que a Guiné-Bissau esteja a importar cebolas do Senegal, deveria ser ao contrário, porque temos as melhores condições naturais que o Senegal, as terras são mais férteis. Nada justifica importar cebolas, cenouras, repolhos, etc.”, defendeu e disse que a FAO tem sido um parceiro da Guiné-Bissau e apoiado país em vários domínios e que o projeto que as partes estão a analisar é catalisador, de cooperação técnica (TCP) e o passo seguinte será o de buscar de financiamentos.
Por: Filomeno Sambú