O pároco da Paróquia de Bambadinca, Padre Paulo de Pina Araújo, denunciou que a população da tabanca de Sancorla, naquela zona leste, encontra-se numa situação de sofrimento “gritante” e que não tem o que comer e está a viver nas ruas, com o aproximar da época das chuvas.
Cerca de 195 famílias estão em conflito de natureza fundiária, há mais de 10 anos, com Bacar Biai, o atual Procurador-Geral da República, e na semana passada, várias casas de Sancorla foram destruídas supostamente pelas forças de ordem, alegadamente, a mando de Bacar Biai.
Na publicação, Padre Paulo de Pina Araújo pede ajuda em géneros alimentícios, produtos de higiene e dinheiro para fazer casas improvisadas que possam impedir a penetração de chuva, para 45 crianças e 150 adultos da tabanca de Sancorla, no setor de Bambadinca.
“A minha publicação é um pedido de socorro urgente e uma manifestação clara da minha indignação perante o tratamento desumano que estas pessoas sofreram (não importa se têm culpa ou se perderam a justiça sobre o terreno). Por favor, apoiemos naquilo que for possível” apelou o Padre Paulo de Pina Araújo.
Entretanto, esta segunda-feira, 6 de maio de 2024, Marcelino Intupé, advogado da família Bamba, acusou o Procurador-geral da República, Bacar Biai, de ter alegadamente expulsado os seus clientes do espaço com o apoio do Estado.
Em conferência de imprensa conjunta com a Liga Guineense dos Direitos Humanos para reagir à situação, Marcelino Intupé afirmou que, do ponto de vista legal, não há nada que justifique a atitude de Biai.
“Mesmo que admitamos que haja uma sentença, nenhum artigo habilita Bacar Biai para expulsar e humilhar a população. Se não fosse procurador não faria o que fez. Aliás, porque não tomou esta decisão de destruir as casas quando deixou, no passado, de exercer as funções de procurador? Porque não estava coberto do capote do Estado. Aliás, se o Estado não tivesse uma mão oculta, Bacar Biai teria sido demitido. Não foi demitido, porque o Estado é cumplice” acusou.
Um dos membros da família, Fodé Bamba, diz que já não acredita na justiça guineense, tendo exigido a exoneração do procurador-geral da República, Bacar Biai, do Ministro do Interior, Botche Cande, do Secretário de Estado da Ordem Pública, José Carlos Macedo, por sua inação perante a destruição das suas casas em Sancorla.
“Não vamos baixar os braços, vamos continuar a luta. Se o Presidente não tiver como resolver este problema, vamos para outras instâncias, porque a justiça da Guiné-Bissau não é credível. Ao povo, quero dizer que este não é um problema da família Bamba é um problema do país. Se deixarmos isso hoje, amanhã vai acontecer o pior” avisou.
Presente na conferência de imprensa, o vice-presidente da Liga Guineense da Liga Guineense dos Direitos Humanos, Edmar Nhaga, exigiu a devolução do espaço e das casas à família Bamba.
“Registamos com muita preocupação esta situação. Não é normal ter mulheres grávidas, crianças em idade escolar, e outras ainda de tenra idade estarem a dormir debaixo de cajueiros, por causa de uma decisão ilegal, que saiu do Tribunal do Setor, que ordenou o despejo e consequente demolição de casas, deixando várias famílias sem teto. Esta é uma atitude que devemos condenar com toda a força. Nós exigimos a devolução de espaço e casas à família Bamba, e que as casas destruídas sejam reconstruídas o mais breve possível, por aquela execução ter sido ilegal. Sendo uma execução ilegal, o Ministério do Interior, que assegurou a efetivação dasentença, deveria abster-se de intervir neste processo” concluiu Edmar Nhaga.
O jornal O Democrata contactou Bacar Biai para obter a sua reação sobre as acusações da família Bamba, mas o seu gabinete de assessoria de imprensa prometeu que o PGR vai reagir oportunamente.
Por: Tiago Seide