A cidade de Bissau, que no passado gozava de estatuto da capital mais limpa da África Ocidental e com ar considerado puramente saudável, está completamente inundado de lixos que causam odores insuportáveis à população, tornando-se assim uma ameaça a saúde pública.
O rosto da cidade capital está emporcalhado por lixos que proliferam as principais avenidas, nos campos de futebol improvisados, espaços de lazer, nas ruas, nas bolanhas e se vê em todos os lugares lixos amontados. A falta de uma política eficaz de saneamento ou de tratamento de lixo está igualmente associada ao comportamento das populações que não sabem separar lixos, dado que nota-se nas ruas aglomerações de dodotes de crianças, garrafas de bebidas, latas de refrigerantes, sacos de plásticos e até de sofás de salas, são todos arrumados num local.
A sociedade guineense não foi instruída a cuidar dos seus resíduos, em como reciclar, por exemplo. Resultando tudo isso na formação de montes de lixos que hoje são cartões de visita da cidade de Bissau.
FALTA DE LIXEIRAS NAS RUAS INCENTIVAM PESSOAS A DEITAREM MAIS LIXO NO CHÃO
O lixo é um dos grandes problemas ambientais urbanos e constitui uma preocupação ambiental mundial, uma vez que se não for bem gerido pode contaminar o solo, o ar e a água, causando as inundações e a proliferação de doenças.
As consequências de tudo isso são mais graves do que se imagina, não só nos problemas visíveis nas ruas de Bissau. O lixo tem grande responsabilidade na queda de casas construídas nos corredores de águas pluviais, constituindo atualmente, uma ameaça às habitações nas zonas urbanas.
Ao nível da saúde, o mau destino do lixo e a inalação da fumaça que vem da queima de resíduos amontoados em diferentes lugares, tem contribuído também na proliferação de doenças respiratórias, do paludismo, da tifóide e diarreias, alerta, o médico clínico geral.
Para Mário Ianta, a saúde pública está em risco por causa do lixo. Entretanto de acordo ainda com o técnico de saúde, podemos ter várias doenças que podem provocar mortes prematuras e outros males à sociedade.
É visível a olhos nus vê ao longo da avenida de combatente de liberdade da pátria lixos deitados no passeio sobretudo no mercado de Bandim, maior espaço de concentração comercial da cidade, que de certo modo dificulta a mobilidade das pessoas que ali procuram a sobrevivência e o sustento familiar.
CÂMARA DE BISSAU RECOLHE DIARIAMENTE MAIS DE 500 TONELADAS DE LIXO
Apesar disso, na praça pública é notável ver todos os dias a presença dos agentes da Câmara Municipal, a recolherem lixo nas ruas, sobretudo nos principais mercados, de manhã, a tarde e a noite, sem descanso. Mesmo assim, o comportamento dos guineenses continua a ser negligente em deitar sujeiras em qualquer lugar.
“Muitas vezes, tomam-nos como pessoas que não têm trabalho ou de fazer, mas não. Nós escolhemos o trabalho de limpar a cidade para dar a nossa contribuição em tornar o rosto de Bissau limpo como no passado, quando era considerada a cidade mais limpa da África Ocidental”, dizem à nossa reportagem, os funcionários de limpeza da edilidade.
As populações foram unânimes em afirmar que deitam lixo em qualquer lugar por falta de lixeiras nas principais ruas de Bissau, garantindo que se a câmara colocar objetos para pôr lixo, seremos nós próprios os primeiros ajudar nos cuidados de lixos”, sublinham os cidadãos.
Apesar da afirmação dos cidadãos, o diretor do serviço de saneamento da câmara Municipal de Bissau tem uma outra explicação. Segundo Homena Abenandó Ferreira, a instituição camarária havia colocado nas principais avenidas de Bissau lixeiras, mas que foram todas roubadas por desconhecidos.
“Na verdade os guineenses não têm a cultura de cuidar dos resíduos que eles próprios produzem, deitam-nos em qualquer lugar, e este comportamento não ajuda os trabalhos de evacuação de lixo por parte da Câmara Municipal de Bissau” observou o também especialista em estudos de impacto ambiental e avaliação de resíduos hospitalares e urbanos.
O serviço do saneamento da Câmara Municipal de Bissau recolhe diariamente, 500 a 550 toneladas de lixo numa escala de 24 horas, por este motivo, o responsável da limpeza da cidade de Bissau pediu a máxima colaboração dos citadinos nos cuidados com o lixo, chamando atenção neste particular que o lixo constitui hoje o maior fator de doenças na Guiné-Bissau.
Na opinião de Isnaba Posto Merba, ativista ambiental formado em gestão de lixo, é da responsabilidade do governo criar condições de espaço adequado como destino final do lixo e não criar um lixão ao céu aberto como aquele de Safim, porque constitui um perigo à sociedade e pode até contaminar a qualidade do ar que respiramos através do fumo, reduzindo a visibilidade, provocando a irritação nasal e ocular.
SACOS PLÁSTICOS E GARRAFAS AMEAÇAM PRÁTICA AGRÍCOLA E ESPÉCIES MARINHAS
Apesar da existência da lei número 01/2010, de 02 de março que proíbe o fabrico, importação, comercialização e distribuição de sacos plásticos não Oxi-biodegradáveis, o fenómeno continua a constituir o maior problema de poluição ambiental nos últimos vinte anos no país.
“Os sacos plásticos e garrafas que têm tomado conta das bolanhas e zonas húmidas degradam o solo, ameaçam a prática da lavoura e de produção de arroz e legumes como alface, repolho, cenoura e couve. Também pode impedir até a passagem da água que alimenta o lençol freático”, explica o engenheiro agrónomo, Domingos da Fonseca. O técnico disse ainda que se os guineenses não tomarem a consciência de cuidar do lixo, o país corre o risco, sobretudo a capital Bissau, de vir a não ter bolanhas para os cultivos.
Já ao nível do governo e perante a realidade sufocante da proliferação de sujeira, o ministro do Ambiente, Biodiversidade e Ação Climática considera de “gritante a questão dos sacos de plástico”, e diz que requer o envolvimento de todos para o seu combate.
Em declaração a nossa reportagem, Viriato Soares Cassamá apontou a tomada de medidas fortes pelo governo na importação de sacos plásticos como forma de estancar o fenómeno.
Para o responsável do Ambiente, o ministério do Comercio, alfândegas e guarda nacional têm um papel fundamental na eliminação de uma vez por todas de sacos de plástico.
Enquanto isso, a inspetora-geral do ambiente, numa declaração à agência Lusa, determinou que o governo dentro de três meses vai avançar com a campanha de recolha coerciva de sacos de plástico.
Isabel Sanhá sustentou a medida das autoridades ambientais, relativo ao incumprimento da lei aprovada no Parlamento desde de 2013, que proíbe o fabrico, a importação, a comercialização e a distribuição de sacos plásticos.
Além da poluição do ar, terra e água, a má gestão de lixo tem efeitos prejudiciais à saúde pública na transmissão de doenças infeciosas e à degradação ambiental em geral. Da mesma forma, a degradação ambiental implica custos sociais e econômicos, como a desvalorização de propriedades, a perda de qualidade ambiental e seus efeitos sobre o turismo.
Por: Mamudo Dansó