O escritor, poeta e ativista social de combate ao tráfico e ao consumo de drogas, Coronel Eng.º Manuel da Costa, disse que os assassinatos de personalidades políticas e militares ocorridos na Guiné-Bissau estão ligados indiretamente com a questão do tráfico de drogas, tendo acrescentado que a entrada de grandes quantidades de drogas no nosso país começou a partir de 2005. Contudo, afirmou que o consumo deste estupefaciente aumentou mais no final do conflito político e militar de 7 de junho de 1998.
“Houve, na verdade, o envolvimento de políticos e alguns elementos das forças de defesa e segurança no tráfico de drogas, tornando-se num perigo para o país e criando a instabilidade política que estamos a viver até hoje”, revelou o escritor, assegurando que a partir daí, cimentou-se uma ligação de alguns guineenses com o mundo do tráfico e que “cada vez mais se confirma a existência demãos invisíveis de personalidades políticas guineenses no tráfico de drogas”.
O ativista de luta contra o tráfico e o consumo de drogas na Guiné-Bissau fez estas afirmações na entrevista ao Boletim “Info-Droga” da Organização Não Governamental – Observatório Guineense de Droga e da Toxicodependência (OGDT), para falar do combate contra o tráfico e o consumo de estupefacientes ilícitos através das suas escritas, sobretudo das histórias relatadas no seu segundo romance publicado em janeiro de 2023, retomado pelo nosso semanário.
“Os Caminhos da Morte” é um romance escrito pelo Coronel Manuel da Costa, no qual relata, através demetáforas, os assassinatos políticos registados na Guiné-Bissau e nos outros países da África Ocidental, associados ao tráfico de drogas. O romance policial “Os Caminhos da Morte” de 83 páginas está recheado de suspense e drama.
“CRITICAVAM-ME QUE NÃO PODIA ESCREVER SOBRE A DROGA! AGORA RECEBO APOIO ATÉ DOS MEUS SUPERIORES”
Sobre o envolvimento das personalidades políticas no tráfico de drogas, Manuel da Costa, que também exerce a função do Secretário Executivo Adjunto do Observatório Guineense da Droga e da Toxicodependência, disse que atualmente um antigo deputado guineense e filho de um ex-Chefe de Estado da Guiné-Bissau está detido no estrangeiro com acusações de envolvimento no tráfico de drogas, bem como está a ser acusado de participar em tentativas de golpe de Estado no nosso país.
O escritor disse na entrevista que a parte mais importante da sua obra literária diz respeito aos assassinatos de figuras políticas ocorridos no país e na África Ocidental, acrescentando que as suas fontes e colaboradores fizeram “finca-pé” para que as informações concernentes aos assassinatos políticos aparecessem no livro.
“Foi uma grande ginástica criar cenários para essa parte, porque se alguém passar uma informação é porque quer que essa informação seja publicada. Eu fiz o trabalho que resultou neste livro que chamei, “Os caminhos da morte”, contou, justificando que escolheu este nome, porque narra no livro que todas as mortes que aconteceram, ocorreram num caminho ou numa estrada e que enveredar pelo tráfico de drogas é escolher o caminho que leva à perdição.
“O significado mais poético ou mais filosófico, indica que é o caminho do mal e que as pessoas não devem enveredar por esse caminho, foi por isso que escolhi este título, “Os caminhos da morte”. Sabe que são os caminhos da morte ou do mal, então não vá, arranje outra alternativa”, exortou.
Questionado se não sente medo de falar abertamente ou escrever sobre o tráfico de drogas que é tido como um tabu na Guiné-Bissau, enquanto militar que é, sujeito a certas normas, respondeu que na verdade não sente medo, apesar de ter notado muitas vozes contra e críticas sobre as suas críticas em relação ao tráfico de drogas.
“Quando escrevi o meu primeiro romance que relata e retrata o tráfico de drogas, não digo assim que sofri uma perseguição, mas na verdade houve vozes que se levantaram contra, afirmando que eu não deveria fazer isso, porque sou militar…houve até algumas pessoas ligadas ao tráfico que compraram o livro e deram aos juristas para lerem e ver se eu estava a referi-lhes, felizmente não conseguiram provar que de facto eu estava a referi-lhes”, disse, assegurando que não sente medo, “porque sei o que estou a fazer e também não estou a mentir, escrevi histórias que ocorreram e que podem ser testemunhadas, portanto, não há nenhuma mentira no meu livro”.
Lembrou que um ex-diretor da Polícia Judiciária (PJ) que trabalhava no UNIOGBIS, leu o livro e confrontado com uma parte da história, telefonou para lhe dizer que estava a ler uma história no livro e que parecia que estava a ver um filme daquele acontecimento.
“Este antigo diretor da PJ ligou-me e confirmou a história que estava a ler no livro, afirmando que foi ele mesmo que ajudou a solucionar o problema que deu naquele acontecimento. Ele teve acesso ao livro antes mesmo da publicação, porque solicitei o apoio do UNIOGBIS para financiar a sua publicação, então pediram-lhe para analisar o livro e ver se o mesmo não comprometia diplomaticamente aquela instituição com o Governo da Guiné-Bissau”, contou.
Explicou que recebeu as chamadas de telefone dos seus colegas a nível das forças de defesa e segurança, e também dos civis para confirmar as histórias que testemunharam e que foram relatadas no livro, recordando que um dos seus colegas de serviço de contra inteligência militar telefonou-lhe para confirmar a história relatada no livro, história que ocorreu naquele serviço, sem, no entanto, avançar com mais pormenores sobre estas histórias.
Indagado ainda sobre como o livro é apreciado a nível das forças de defesa e segurança, particularmente pelos seus superiores, assegurou que no início, o primeiro livro não teve grandes apreciações e que havia muitas críticas de que é militar e que não podia escrever ou falar abertamente sobre o tráfico de drogas.
“Agora não tenho problemas em escrever, porque este segundo livro é muito apreciado no seio dos meus colegas e até o chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas apoia a iniciativa, porque eu também, neste momento, estou a promover a literatura no setor da defesa e segurança. Ainda este ano queremos publicar três livros, aliás já publicamos o primeiro sobre a poesia e, vamos publicar um livro de contos e dois livros de ensaios sobre a história da luta de libertação nacional e a imprensa militar”, contou, enfatizando que agora recebe apoios dos seus superiores e que já não tem problemas em publicar histórias sobre o tráfico de drogas.
Sublinhou que o livro tem uma mensagem forte para a juventude, que, para além de elucidar o mal causado pelo tráfico, aconselha igualmente os jovens para não andarem neste caminho em que se acaba sempre por morrer e com problemas de toxicodependência, sobretudo quando a pessoa enveredar por consumir de estupefacientes.
“Fala-se sempre de mortes de personalidades políticas e outras figuras influentes, mas antes destas que são consideradas de mandantes ou atores morais, há primeiramente as mortes dos jovens que se envolveram nos negócios do tráfico”, referiu.
Questionado ainda se as vítimas mortais, sobretudo de personalidade políticas e militares ocorridas na Guiné-Bissau, têm a ver com o tráfico de drogas, respondeu, “eu não digo diretamente, mas indiretamente”.
Por: Redação
Democrata/Boletim Info-Droga