A Organização Não Governamental – Guiné Arroz (Guiarroz), desenvolveu um projeto de reabilitação e exploração de bolanhas do mangal na região de Bafatá, concretamente no setor de Bambadinca, que tinha a previsão de reabilitar 295 hectares de várzeas (bolanhas), mas devido a persistência dos seus técnicos conseguiram ultrapassar a expetativa e recuperaram 307 hectares de bolanhas abandonadas há 12 anos pela comunidade local e que hoje estão a ser exploradas por mais de cem produtores de diferentes aldeias daquele setor.
Os trabalhos de assistência técnica e produção agrícola levados a cabo por aquela organização formada na sua maioria por engenheiros agrônomos que pertenciam ao então Departamento de Experimentação da Pesquisa Agrária (DEPA) no setor de Contuboel, região de Bafatá, no leste da Guiné-Bissau, foi revelada ao nosso semanário por seu encarregado do Programa, Malam Mané, jurista de profissão, mas que dedicou ao trabalho agrícola, durante uma entrevista por telefone.
Mané explicou na entrevista que as bolanhas da água salgada sempre enfrentam grandes problemas, desde os tubos de drenagem e de irrigação, submersão da água que vem da zona da costa do rio, de inundações ou concentração da água que não encontra caminhos ou canais de saída e de assoreamento.
“Tomamos a iniciativa de fazer uma limpeza geral da bolanha. O terreno tinha apenas um canal principal, criamos canais secundários e terciários, construímos diques de proteção destes canais todos. Para quem conhece Nhabidjon, sabe que tem cinco Bairros, mas o projeto interveio apenas em dois Bairros, Bidinca e Caur e 1 ano e picos, os 128 produtores que cultivavam naquela bolanha retomaram as suas atividades. Em 2023, a produção aumentou e resolvemos mais de cem por centro das preocupações ligadas à bolanha de Nhabidjon, em Bambadinca”, assinalou.
GUIARROZ APOIA PRODUTORES COM SEMENTES E FERTILIZANTES POR MEIO DO PROJETO PAUSA
Criada em 1993, a ONG Guiarroz tem como objetivo apoiar a produção do arroz irrigado, através do sistema de irrigação, quer pluvial, quer por meio de motobombas, porque na altura não havia sistema fotovoltaico ou painéis solares.
“A Guiarroz surgiu quando o antigo Departamento de Experimentação da Pesquisa Agrária, DEPA, que depois foi designado Instituto Nacional de Pesquisa Agrária, INPA, estava a ser extinguido. Depois da extinção do DEPA, um grupo de dez técnicos que trabalharam no Centro de Contuboel decidiu dar continuidade às iniciativas de irrigação, atividades de apoio técnico de produção de arroz para que essa componente de apoio também não parasse, porque o projeto estava a chegar ao fim e o estado estava a ponderar criar outra estrutura, hoje, INPA-Instituto Nacional de Pesquisa Agrária e desde então continuamos a dar apoios, sobretudo na temática de produção de arroz”, sublinhou.
Informou que depois do fim do projeto DEPA, a Guiarroz estabeleceu em 2011 uma parceria com a SWISSAID para a produção agro-ecológica, uma técnica de produção fora de uso da água tóxica, a partir de 2019.
“Os tóxicos são produtos químicos como os adubos, fertilizantes, pesticidas, sementes, enfim tudo que é químico e melhorado. Tudo isso aconteceu no âmbito da política de mudança da linha de atuação estabelecida pela Swissaid, pensando numa produção de produtos tipicamente tradicionais voltado à produção antiga dos nossos ancestrais, quer dizer, conservar, produzir e consumir as sementes puramente tradicionais”, enfatizou.
O encarregado do programa defendeu que é possível continuar a implementar essa técnica, usando os excrementos (fezes dos animais) para a fertilização dos solos e das plantas, como também “podemos utilizar ainda cavacos de Bissilão e Mim (Cassia), tabaco, malagueta no combate às pragas, nomeadamente fungos, moscas tripes, lesmas e caracóis, lagartas, besouros gafanhotos, mosca-branca, larva-minadora, mosca-de-fruta, Pulgão, nematóide, formigas-cortadeiras, cochonilha e outros tipos de insetos.
“Combater pragas, não significa que vamos usar todas essas técnicas para matar insetos, apenas para combatê-los, porque na agro-ecologia, os insetos são extremamente importantes e ajudam muito na produção de estrumes e adubos”, aconselhou.
Sobre os projetos desenvolvidos neste momentos com os parceiros internacionais, Malam Mané revelou que a ONG Guiarroz está a desenvolver neste momento com o Programa Alimentar Mundial (PAM) dois projetos, PAUSA – Projeto Agrícola de Urgência à Segurança Alimentar, devido a vários problemas que a Guiné-Bissau e o mundo enfrentaram e estão a enfrentar até ao momento, nomeadamente a Covid-19, a guerra no leste europeu entre a Rússia e a Ucrânia e as alterações climáticas (temperaturas e chuvas fracas).
“Todos esses fatores associados a outros fenómenos naturais e interesses do homem que convulsionaram na guerra da Ucrânia e levaram o PAM a criar este projeto PAUSA para minimizar o sacrifício dos produtores que tinham dificuldades em conseguir as sementes, fertilizantes, materiais para que pudessem desenvolver as suas atividades como se estivessem numa situação normal”, afirmou.
GABÚ DEPARA-SE COM CONFLITOS DE POSSE DE TERRA ENTRE AGRICULTORES E CRIADORES DE GADO
Segundo Malam Mané, o projeto PAUSA foi desenvolvido em onze setores da zona leste. Em Bafatá, por exemplo, nos setores de Bafatá, Cosse, Bambadinca, Xitole, Contuboel e Ganado. Na região de Gabu, PAUSA foi desenvolvido em cinco setores.
“Nesses setores, as populações locais, agricultores, beneficiaram de adubos, de sementes de arroz, de milhos bachil, cavalo e preto, de mancara, de feijão, portanto de um conjunto de sementes e de fertilizantes para que pudessem relançar as suas atividades agrícolas”, sublinhou, tendo acrescentado que na região de Gabú, a Guiarroz trabalhou em Gabú, nos setores de Pitche, de Pirada, de Sonaco e de Boé.
“Este projeto está a funcionar até agora. Há duas semanas terminamos o processo de entrega de cordas de batatas, das sementes de manfafa, inhame, bem como noutras zonas onde estão a ser distribuídas as sementes e tubérculos de mandioca, embora não tenhamos ainda as estacas disponíveis. Em breve, vamos começar o processo de distribuição nestes cinco setores que compõem a região de Gabú”, anunciou e disse que a ONG Guiarroz também está a desenvolver paralelamente outro projeto com o PAM, PBF, um programa de apoio à agricultura, que visa a criação de um espaço público seguro para a capacitação de mulheres da componente da horticultura, na mitigação de riscos de segurança climática e assegurar a paz na Guiné-Bissau, no computo geral.
Revelou que, de acordo com um diagnóstico realizado pela Guiarroz, foi detectado que na região de Gabú, em específico, enfrenta um fenómeno derivado de conflitos de posse de terras entre agricultores e criadores de gado, tendo afirmado que o projeto identificou também para outros parceiros que, para além de Gabú (Zona 01), existem outras zonas onde há problemas de riscos, nomeadamente zona 02 (Quinara) que enfrenta problemas de delimitação de fronteiras, devido ao Parque Natural da Lagoa de Cufada, envolvendo o Instituto da Biodiversidade das Áreas Protegidas (IBAP), uma entidade do Estado, e a comunidade produtora que se encontra sedeada na zona da Lago de Cufada, que acha que não foi feita uma delimitação justa, com também na zona (03), setor de São Domingos.
Destacou que a região de Gabú, para além de conflitos entre agricultores e criadores de gado, enfrenta também o problema da seca que avança a cada dia através da costa do Senegal, chuvas fracas, falta da floresta. Um conjunto de problemas que o diagnóstico apresentou e o projeto interveio para mitigar esses riscos, através de cinco campos para a produção hortícola, um investimento em cinco furos de água do sistema fotovoltaico para a irrigação destes campos hortícolas, nas localidades de Camadjaba, do Benfica, de Sintchã Bali, de Copiro e da Tabanca de Padjama, concretamente no setor de Pitchi, no âmbito do projeto PBF com o Programa Mundial de Alimentação.
“O programa visa ajudar essas mulheres a mitigarem riscos que aquela população enfrenta, resolver os problemas de conflitos de animais, da falta da chuva, da seca, das alterações climáticas, de bebedouros para vacas que estão a morrer por falta da água, enfim um conjunto de problemas”, indicou.
Malam Mané afirmou que o projeto poderia ter experimentado ou evitado também outro plano de trabalho, com abertura de cinco campos (15 hectares) para a produção de arroz nessas tabancas, solicitar sementes, materiais para a construção de diques, abertura de canais, prestar assistência aos técnicos que iriam atuar nestes campos e levar essa técnica melhorada de produção de arroz a Gabú, atingindo a maior área possível, mas não conseguiu faze-lo devido às limitações.
Revelou que a ONG Guiarroz implementou também um projeto com “Ianda Guiné Arroz” em 2023 com a União Europeia, que foi desenvolvido na região de Bafatá, concretamente no setor de Bambadinca, um projeto de apoio técnico para o enquadramento comunitário, de reabilitação e exploração das bolanhas do mangal.
Explicou que as bolanhas da água salgada sempre enfrentam grandes problemas, desde os tubos de drenagem e de irrigação, submersão da água que vem da zona da costa do rio, de inundações ou concentração da água que não encontra caminhos ou canais de saída e de assoreamento.
Informou que o projeto PBF tinha seis meses de duração e terminaria em junho de 2023, mas apresentaram uma adenda aos parceiros e foi prolongado para dezembro do mesmo ano e na segunda adenda para janeiro para que pudessem terminar os trabalhos e que o projeto PAUSA tinha três meses (setembro, outubro e novembro de 2023), mas dada às necessidades, prolongou-se até maio deste ano e neste momento os trabalhos continuaram com a ação de distribuição das sementes e tubérculos no terreno.
“Mas há indicações de que está em curso a elaboração de uma adenda que poderá levar o projeto, em princípio, até dezembro de 2024”, disse, para de seguida frisar que o projeto de agro-ecológica com Swissaid, iniciado em 2019, deverá terminar em dezembro deste ano, contudo avançou que estão em perspectiva novos planos, novos projetos que poderão ser lançados e submetidos aos parceiros, depois de ateliês de restituição com técnicos, comunidades e parceiros em diferentes zonas onde os dois projetos (PAUSA PBF) foram desenvolvidos por 4 anos para analisar os fracassos e sucessos, o que é preciso consolidar ou reforçar.
“Dentro de uma semana teremos um encontro com o coordenador de programas da Swissaid, Rui Fonseca, com quem faremos visita ao terreno, depois analisaremos todos os trabalhos em conjunto no gabinete, bem como trabalharemos na previsão do plano estratégico de tudo que será as nossas ações de 2025 para frente. Em relação ao Ianda Guiné Arruz, concluiu-se que é necessário continuarmos a dar assistência aos agricultores e técnicos, reforçar da sua capacidade na gestão das infraestruturas hidroagrícolas”, referiu, lembrando que neste momento, os agricultores intensificaram o processo de instalação de arroz nos viveiros e que eles enquanto técnicos devem acompanhá-los nesse processo, sobretudo instruí-los a reduzirem sementes que serão colocados nos viveiros e na plantação do arroz, na manutenção das obras agrícolas, nomeadamente diques, canais e valetas, posicionamento de tubos, medição do nível da água para adequá-la a tipo de arroz que têm e ciclo adaptável a cada terreno.
“É preciso um acompanhamento intenso para que haja um impulso a regulação de aumento de produção e produtividade nos seus campos agrícolas”, defendeu, destacando Nhabidjon como zona com maior área em que Guiarroz desenvolveu as suas atividades de produção de arroz, com 307 hectares e 75 em Gabú.
Em relação ao projeto desenvolvido com a Swissaid, o especialista revelou que em 2024 o projeto melhorou 10 bolanhas e cada um tinha 15 hectares e em cinco anos foram melhorados 150 hectares com o apoio de Swissaid.
“Mas o problema não reside aqui. Em Bafatá, por exemplo, o projeto interveio em duas localidades, Djana e Djabicunda. Em Djana, interveio num campo agrícola e em Djabicunda no melhoramento de canais de irrigação para a produção de arroz até à seca. Em Gabado, temos estado a intervir em Sintchã Baite e Sintchã Sutu e Fode Sala, nos campos hortícolas e na bolanha. Em Farãm Cunda, Cambadjaba e Gã Nhala, a Guiarroz interveio no campo de produção de arroz. A grande novidade no nosso relacionamento com a Swissaid é que trouxe a redução de incidência de desmatação descontrolada da floresta, porque há já essa percepção em quase todas as comunidades onde estamos a desenvolver as nossas ações de que a devastação da floresta é o nosso maior pecado e que futuramente poderemos pagar uma fatura muito cara com as alterações climáticas [seca, chuvas fracas e entre outros fenómenos]”, frisou.
Por: Filomeno Sambú/Assana Sambú