Embaixador António Serifo Embaló: “COOPERAÇÃO CHINA-ÁFRICA É CRUCIAL PARA O DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÓMICO DOS PAÍSES AFRICANOS”

O Embaixador Plenipotenciário da Guiné-Bissau na República Popular da China, António Serifo Embaló, disse que a cooperação China-África é crucial para o desenvolvimento socioeconómico dos países africanos, acrescentando que os setores como a educação, a agricultura, a indústria e as infraestruturas dependem das oportunidades de desenvolvimento trazidas pela China. 

“A relação de cooperação estabelecida entre a China e os países africanos é de longa data e mutuamente benéfica”, disse o diplomata na entrevista exclusiva ao diário chinês “Beijing Daily” para falar das perspectivas da Cúpula do Fórum de Cooperação China – África, prevista no início do mês de setembro próximo, na qual confirmou a presença do Chefe de Estado da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, na conhecida cimeira China e África.  

Na entrevista, o diplomata lembrou, neste particular, que a visita do Presidente Embaló à China Popular de 9 a 13 de julho deste ano foi “extremamente bem-sucedida, recebendo grande atenção e elogios de diversos setores da sociedade guineense”. 

Nesta visita de Estado, recordou que foram discutidos tópicos importantes para as relações bilaterais e a Guiné-Bissau e a China estabeleceram uma parceria estratégica e essa cooperação estratégica certamente promoverá o desenvolvimento sustentável da Guiné-Bissau em várias áreas.

Lembrou, neste particular, que a agricultura foi destacada como uma das principais áreas de cooperação entre a China e a Guiné-Bissau, frisando que no ano passado o cajú guineense foi exibido na Exposição Internacional de Importação da China. Lembrou que, de acordo com um memorando de entendimento assinado entre os dois países, a partir do próximo ano haverá um aumento significativo nas exportações de cajú da Guiné-Bissau para a China

Sobre a acusação feita pela imprensa ocidental, apontando que a cooperação da China na África é uma forma de neocolonialismo, o embaixador disse que os ocidentais podem pensar dessa maneira, tendo assegurado que a grande maioria dos africanos não acredita nesse suposto neocolonialismo, porque “simplesmente não existe”.  

“É de conhecimento geral que a China, ao longo de décadas, tem prestado assistência e cooperação aos países africanos, transformando significativamente o panorama dessas nações, especialmente no que diz respeito à construção das infraestruturas. Fomos colonizados pelos ocidentais durante 500 anos – a Guiné-Bissau foi uma colónia portuguesa. No entanto, se compararmos o nível de infraestruturas que tivemos nesses 500 anos com o que construímos nos 50 anos desde a independência, a diferença é gritante”, notou o diploma.

Beijing Daily (BD): A cúpula do Fórum de Cooperação China-África será realizada no início de setembro em Pequim. Quais são as suas expectativas?

António Serifo Embaló (ASE): Esta importante cúpula, que ocorrerá no início de setembro, contará com a participação de 53 países africanos, incluindo a Guiné-Bissau, e o Presidente Embaló estará presente. Estamos profundamente otimistas em relação ao Fórum de Cooperação China-África, que tem um significado global importante, e a Guiné-Bissau participará ativamente. A presença do Presidente Embaló fortalecerá ainda mais as perspectivas de cooperação com a China, destacando o papel vital dessa cooperação para o desenvolvimento africano.

A cooperação China-África é crucial para o desenvolvimento socioeconômico dos países africanos. Diversos setores, como educação, agricultura, indústria e infraestrutura, dependem das oportunidades de desenvolvimento trazidas pela China. A relação de cooperação estabelecida entre a China e os países africanos é de longo prazo e mutuamente benéfica. Estou confiante de que esta cúpula resultará em benefícios mútuos para todos os envolvidos.

BD: O Presidente Umaro Sissoco Embaló já visitou a China em julho. Ele participará pessoalmente da cúpula em setembro?

ASE: Sim, o Presidente confirmou durante a sua visita à China que ele definitivamente participará da cúpula. Na verdade, antes mesmo da visita em julho, o Presidente já havia confirmado sua presença na cúpula.

BD: Durante a reunião de diálogo entre líderes da China e da África realizada na África do Sul em agosto do ano passado, a China anunciou a iniciativa “Apoio à Industrialização Africana” e planos de cooperação nos campos da agricultura e do desenvolvimento de talentos. Qual é a sua avaliação sobre isso?

ASE: Esses são precisamente os setores que a África mais necessita desenvolver atualmente. A África possui uma vasta riqueza de recursos naturais e matérias-primas, mas muitos produtos ainda não são industrializados localmente. A China tem se empenhado em ajudar os países africanos a processar e agregar valor aos seus produtos localmente, gerando empregos e impulsionando o desenvolvimento. Esses esforços já estão em andamento e têm gerado impactos positivos.

BD: Durante a visita do Presidente Umaro Sissoco Embaló à China, foram estabelecidas parcerias estratégicas e assinados acordos de cooperação em diversas áreas. Como o senhor avalia os resultados dessa visita?

ASE: Nesta visita de Estado, foram discutidos tópicos importantes para as relações bilaterais, e a Guiné-Bissau e a China estabeleceram uma parceria estratégica. Essa cooperação estratégica certamente promoverá o desenvolvimento sustentável da Guiné-Bissau em várias áreas. Os Chefes de Estado dos dois países reafirmaram seu compromisso de continuar colaborando estreitamente para alcançar resultados ainda mais significativos nos próximos anos.

Vale ressaltar que a cooperação entre a China e a Guiné-Bissau remonta a um longo período. Durante os momentos mais difíceis da luta pela independência e libertação nacional da Guiné-Bissau, a China ofereceu seu apoio. As relações entre os dois países começaram antes mesmo do estabelecimento formal das relações diplomáticas em 1974, constituindo uma história de amizade digna de ser lembrada.

BD: A agricultura foi destacada como uma das principais áreas de cooperação entre a China e a Guiné-Bissau. No ano passado, o caju guineense foi exibido na Exposição Internacional de Importação da China.

ASE: O caju é um produto estratégico para a Guiné-Bissau. A qualidade do caju guineense é reconhecida mundialmente. Participamos da Exposição China-África em Changsha e da Exposição Internacional de Importação em Xangai, onde tivemos a oportunidade de apresentar os produtos agrícolas da Guiné-Bissau, especialmente o caju. 

A Guiné-Bissau produz anualmente mais de 250.000 toneladas de caju, que são principalmente exportadas para o exterior, especialmente para a Índia e o Vietnã, que são os principais destinos de importação e processamento de caju. Também buscamos fortalecer a cooperação com a China, convidando empresas chinesas a participar da transformação da indústria de caju na Guiné-Bissau, criando mais oportunidades de emprego para o povo guineense.

De acordo com um memorando de entendimento assinado entre os dois países, a partir do próximo ano, haverá um aumento significativo nas exportações de caju da Guiné-Bissau para a China.

BD: Os dois países também destacaram a cooperação no campo da educação em sua declaração conjunta.

ASE: A cooperação no setor da educação é de extrema importância para a Guiné-Bissau. Embora a Guiné-Bissau possua algumas universidades, o desenvolvimento educacional da China é amplamente reconhecido a nível global. Por isso, a Guiné-Bissau tem enviado ativamente estudantes para a China, onde podem cursar bacharelado, mestrado e doutorado. Atualmente, há cerca de uma centena de estudantes guineenses na China. 

No futuro, continuaremos a colaborar com o governo chinês para oferecer mais bolsas de estudo aos nossos jovens talentos, ajudando-os a receber uma educação de qualidade na China, uma vez que os jovens representam o nosso futuro. Isso também reflete a visão estratégica da China no desenvolvimento das relações bilaterais, especialmente em termos de cooperação amigável com os países africanos.

BD: A China valoriza a cooperação China-África e propôs a política de sinceridade, pragmatismo e afinidade em relação à África. Qual é a sua interpretação dessa abordagem?

ASE: Sem dúvida, essa é a abordagem mais acertada. A cooperação entre a Guiné-Bissau e a China, assim como entre a China e a África, tem, ao longo dos anos, aberto portas ao desenvolvimento para os africanos. Estudantes africanos têm tido a oportunidade de estudar e viver na China, e as trocas comerciais entre a China e os países africanos têm se intensificado cada vez mais.

BD: No entanto, atualmente, alguns meios de comunicação ocidentais acusam a cooperação da China na África de ser uma forma de “neocolonialismo”.

ASE: Cada um tem a sua opinião. Talvez alguns ocidentais pensem dessa maneira, mas para os africanos, a grande maioria não acredita nesse suposto neocolonialismo – simplesmente não existe. É de conhecimento geral que a China, ao longo de décadas, tem prestado assistência e cooperação com os países africanos, transformando significativamente o panorama dessas nações, especialmente no que diz respeito à construção de infraestrutura. 

Fomos colonizados pelos ocidentais durante 500 anos – a Guiné-Bissau foi uma colônia portuguesa. No entanto, se compararmos o nível de infraestrutura que tivemos nesses 500 anos com o que construímos nos 50 anos desde a independência, a diferença é gritante. Temos a sorte de viver em uma era de desenvolvimento e cooperação com a China, uma parceria que tem sido altamente benéfica e extremamente pragmática. Portanto, na minha opinião, o suposto neocolonialismo não existe. Os países, os meios de comunicação e as pessoas que fazem tais declarações precisam assumir a responsabilidade por suas palavras. Claro, eles têm liberdade de expressão, mas para os africanos, especialmente para os guineenses, eu discordo totalmente dessas afirmações. No contexto da cooperação China-África, o neocolonialismo simplesmente não existe.

BD: A Guiné-Bissau está desempenhando um papel cada vez mais importante no cenário internacional, como a participação ativa do Presidente Embaló na mediação dos conflitos entre a Rússia e a Ucrânia, e entre Israel e a Palestina.

ASE: O Presidente Embaló tem realizado inúmeras ações em prol da paz mundial. Durante sua presidência na Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), o Presidente Embaló viajou à Rússia em esforços de paz e também manteve conversas estreitas com a Palestina para promover a paz. Isso demonstra o seu compromisso político com a manutenção da paz.

BD: A China tem enfatizado fortemente o desenvolvimento das novas forças produtivas. Como o senhor avalia esse desenvolvimento e as perspectivas econômicas da China?

ASE: Minha avaliação do conceito das novas forças produtivas é 100% positiva. Ele reflete o compromisso da China não apenas com o seu próprio desenvolvimento, mas também com o auxílio ao desenvolvimento de outros países. As novas forças produtivas representam um avanço qualitativo no desenvolvimento. Para nós, o progresso da China é benéfico não apenas para o próprio país, mas também tem um impacto positivo em todo o mundo – isso é inquestionável. 

O mundo está passando por uma era de rápido desenvolvimento tecnológico, e a Guiné-Bissau não pode ficar à margem desse processo. Nesse contexto, a Guiné-Bissau precisa da tecnologia chinesa para impulsionar o desenvolvimento de sua indústria. 

No campo da tecnologia ecológica, existem muitas possibilidades de cooperação. Durante a visita do Presidente Umaro Sissoco Embaló à China, foi assinado um acordo sobre tecnologia ecológica. A Guiné-Bissau está se esforçando para se integrar ao novo quadro de desenvolvimento tecnológico, e a China será uma parceira importante nesse processo.

BD: O senhor está há mais de três anos como Embaixador na China. Poderia compartilhar suas impressões sobre viver e trabalhar na China e em Pequim?

ASE: Para mim, a China é um país único, especialmente no que diz respeito à cultura. Qualquer pessoa que venha à China fica impressionada com a riqueza cultural, o desenvolvimento socioeconômico e a infraestrutura do país. Trabalhar e viver na China é, sem dúvida, algo de que se orgulhar. 

Apesar de minha agenda ocupada, visitei muitos museus, parques e sítios históricos, como a Grande Muralha, em Pequim. Outras províncias chinesas também possuem muitos locais históricos. Minhas impressões sobre a China são extremamente positivas, muito positivas mesmo. Eu aprecio muito essa experiência de viver e trabalhar na China.

Por: Redação

Democrata/Beijing Daily

Author: O DEMOCRATA

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