Região de Gabú: CRIADORES DENUNCIAM O ENVOLVIMENTO DAS AUTORIDADES NO ROUBO DE GADO E NA IMPUNIDADE DE LADRÕES

O presidente da Associação dos Criadores de Gado e Suíno da região de Gabú, Aladje Amadu Tidjane Candé, denunciou o envolvimento das autoridades no roubo de gado na região e a impunidade de que gozam os ladrões, colocando em risco centenas de vidas das pessoas que se dedicam à atividade.  

Contudo, Amadu Tidjane Cande disse que a organização que dirige está a trabalhar em colaboração com a Polícia da Ordem Pública, o serviço de informação do Estado, o Ministério Público e o Tribunal Regional de Gabú na luta contra o roubo de Gado, através de seguimento de processos até ao julgamento e à condenação de ladrões.

Em entrevista ao jornal O Democrata para falar de constantes conflitos entre criadores e agricultores, bem como de roubo de gado  e da insegurança dos criadores nessa região, indicou que graças a essa dinâmica os criadores de gado estão com ânimo leve, porque os seus problemas estão a ser resolvidos nas instâncias competentes, ao contrário dos anos anteriores em que havia “impunidade total” para os ladrões, que têm trabalhado em conluio com as autoridades da região, mas esse esquema já foi desmantelado depois do engajamento sério de ambas as partes.

PR ASSOCIAÇÃO: ESTAMOS A PAGAR A FATURA DOS EFEITOS DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS QUE GRASSAM A REGIÃO

O presidente da Associação dos Criadores de Gado e Suínos da região de Gabú, Aladje Amadu Tidjane Candé, revelou que o povo guineense está a sofrer das consequências da alteração climática que se faz sentir no país e no mundo em geral, mas os criadores de gado são as pessoas que estão a pagar a fatura na pele com esse fenómeno, devido à seca que se regista na zona leste.

Aladje Amadu Tidjane Candé disse que na época da seca, os animais passam por muitas dificuldades e não conseguem alimentos, nem água para sobreviverem e muitos não resistem a essa pressão e morrem, causando prejuízos enormes para os criadores que, na sua maioria, vivam exclusivamente desta atividade económica.

Revelou que no passado, o Estado conservava algumas zonas em que não permitia o corte de árvores na floresta, mas nos últimos tempos esse mecanismo não está a funcionar, porque o Estado perdeu o controlo de terras, deixando tudo à mercê das populações para fazerem o que entendem, sem nenhuma responsabilização.

“Não é possível uma pessoa comprar uma quantidade de hectares de terras e desmatar aquele espaço por completo. A consequência disso é estamos, nós, a pagar a fatura”, lamentou.

Segundo Amadu Candé, o estado deve fazer ordenamento, limitando as fronteiras de tabancas que fazem parte da região de Gabú e criar uma zona em que criadores possam ficar para cuidarem dos seus animais.

Amadu Tidjane Cande disse que a organização que dirige está a trabalhar em colaboração com a Polícia da Ordem Pública, o serviço de informação do Estado, o Ministério Público e o Tribunal Regional de Gabú na luta contra o roubo de Gado, através de seguimento de processos até ao julgamento e à condenação de ladrões.

Indicou que graças a essa dinâmica os criadores de gado estão com ânimo leve, porque os seus problemas estão a ser resolvidos nas instâncias competentes, ao contrário dos anos anteriores em que havia “impunidade total” para os ladrões, que têm trabalho em conluio com as autoridades da região, mas esse esquema foi desmantelado depois do engajamento sério de ambas as partes.

MAMADU CANDÉ REVELA QUE FOI DESMANTELADA UMA REDE DE ROUBO DE CABRAS EM PITCHE

O responsável da Associação de Criadores de Gado informou que recentemente foi denunciado uma rede de roubo de gado no setor de Pitche que faz roubo de cabras no Senegal e transporta os animais  para vender em Pitche, mas como existe um acordo entre Associações de Criadores de Gado da Guiné-Bissau,  do Senegal, da  Gâmbia e da Guiné-Conacri no quadro de livre circulação de pessoas e bens, conseguiram descobrir e prender os ladrões que roubaram 36 cabras, que já foram devolvidas aos legítimos donos, sem nenhuma condição, para garantirem a paz entre os dois países vizinhos e que  neste momento um ladrão está preso a aguardar julgamento.

Amadu Tidjane Cande disse que neste momento a direção daquela organização está  a levar a cabo uma campanha de sensibilização em todos setores da região de Gabú junto dos seus associados sobre como  proteger melhor os seus animais e evitar danos nos cultivos dos agricultores, graças ao apoio do FAO – Fundo das Nações Unidas Para a Alimentação,  e ONU Habitat, o que tem ajudado  na redução de conflitos entre agricultores e criadores de Gabú, contudo  afirmou que o problema não está totalmente resolvido, porque pontualmente registam-se desentendimentos no momento  das  colheitas.

Lembrou que 99 por cento de criadores de gado são agricultores, razão pela qual devem sentar à mesa para conversar com os criadores, envolvendo outras entidades como anciões e régulos, caso aconteça essa situação, porque “são condenados a viverem juntos para sempre”.

“Quando gados estragam os cultivos dos agricultores, primeiro a organização e outras pessoas influentes da aldeia sentam as partes, para tentar chegarem a um entendimento e caso não haja um consenso o assunto é levado para as autoridades da região e aí os técnicos da delegacia regional do Ministério da Agricultura fazem uma avaliação dos danos causados e na base dessa avaliação, o dono de gado indemniza o agricultor, evitando conflitos e confrontos entre as duas partes”, sublinhou.

É URGENTE O GOVERNO FAZER O ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO PARA EVITAR CONFLITOS

Amadu Tidjane Candé apelou ao governo para que faça o ordenamento do território, delimitando aos criadores de gado zonas em que podem praticar a pastagem, para deixarem de frequentar zonas de cultivo.

Segundo avançou, neste momento, os donos de gado estão a enfrentar enormes dificuldades para conseguir zonas férteis para a pastagem, devido às alterações climáticas e  à destruição desenfreada das matas que está a ter efeitos nefastos nas plantas que serviam como alimento de gado, como também a falta de água que acaba de provocar mortes nos animais e deslocações de criadores para zonas com condições aceitáveis.

Questionado sobre se o volume de  conflitos  que se registavam no passado entre os criadores de gado e  os agricultores continuam a acontecer, Amadu Tidjane Candé assegurou que os conflitos diminuíram drasticamente, devido à campanha de sensibilização realizada em todos setores que fazem parte da região de Gabú junto dos criadores de gado, no sentido de evitarem fazer pastagem nas zonas cultivadas, sobretudo no momento de amadurecimento de cultivos e nas fases das colheitas em que qualquer dano é irreparável.

“A história de Gabú está ligada a criação de gado. Noventa e nove por cento da população da região de Gabú é criadora de animais, porque é a nossa tradição. A partir das nossas atividades diferentes mercados guineenses são abastecidos de carne de gado e neste momento temos mais de 800 mil cabeças de gado em 754 tabancas que fazem parte da região, porque todos são criadores destes animais. As mulheres têm maior número de gado, devido às prendas que recebem de casamento”, assinalou.

O responsável daquela organização sediada em Gabú, leste do país, disse que na época da seca, cada criador é obrigado a juntar a sua família, filhos e mulheres para procurarem água nos fontenários a fim de dar ao gado e às vezes levam apenas 20 minutos o fontenário seca.

“Às vezes levamos uma ou duas horas para esperar a água sair de novo para alimentar o nosso gado. É um cansaço enorme na vida dos criadores de gado. Não podemos parar ou abandonar essa atividade, por ser uma das atividades com maior rendimento económico na região e sustento de muitas famílias cá, começando pelo criador, passando pelo comerciante até ao consumidor final. O gado tem um benefício enorme que o Estado não está a ter em conta”, enfatizou.

Informou que um criador de gado leva muitos anos a cuidar dos seus animais, com tanto sacrifício, mas quando vende uma cabeça no valor de 250 mil francos CFA não consegue recompensar nada e quando faz uma equivalência durante anos da cria, chega à conclusão que não houve nenhum benefício, mas como é tradição e hábito, não “podemos desistir da cria destes animais”.

“O preço de um touro de 08 anos na região de Gabú não ultrapassa 500 mil francos CFA, com tantos riscos de vida que os criadores correm e as ameaças à sua integridade que recebem dos ladrões”, sublinhou, para de seguida afirmar que os ladrões não roubam apenas o gado, também tiram vidas aos proprietários, portanto “não é um trabalho fácil para quem está desse lado de ramo de negócio”.

“Eu também, enquanto presidente desta organização, sofri várias ameaças vindas dos ladrões, porque sou tido como uma pessoa que cria obstáculos às suas atividades, devido às denúncias que fazemos junto das autoridades competentes para garantir a segurança aos criadores de gados na região.

Por: Aguinaldo Ampa

Author: O DEMOCRATA

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *