PRAIA E BISSAU ACOLHEM SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE O LEGADO E VISÃO DE CABRAL PARA O FUTURO DE ÁFRICA

[Especial centenário Amílcar Cabral] Praia e Bissau vão acolher de 9 a 12 de setembro de 2024, o Simpósio Internacional Amílcar Cabral – “Um património nacional e universal”, no âmbito da celebração do centenário do líder da guerra e fundador das nacionalidades guineense e cabo-verdiana, Amílcar Lopes Cabral, uma iniciativa conjunta do Centro de Estudos Sociais Amílcar Cabral (CES-AC) da Guiné-Bissau e a Fundação Amílcar Cabral, em Cabo Verde.

O Simpósio realiza-se nas cidades da Praia (Cabo Verde) e Bissau (Guiné-Bissau). A conferência decorre em Praia de 9 e 10 de setembro, nas instalações da Universidade de Cabo Verde e a cerimónia de abertura vai ser presidida pelo chefe de Estado cabo-verdiano, José Maria Neves. Em Bissau, a conferência vai decorrer nas instalações do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP) nos dias 11 e 12 e a cerimónia de encerramento será presidida pelo ministro da Educação Nacional, Ensino Superior e Investigação Científica, Henri Mané.

Os participantes e convidados em Bissau seguirão a conferência em direto a partir do Cabo Verde, durante os dias 9 e 10 por meio da internet, assim também as sessões de debates e discussões de temas em Bissau, serão acompanhadas em direto por cabo-verdianos e convidados pela internet.

A comissão organizadora de Bissau espera contar com a presença de quatro figuras cabo-verdianas, bem como de altas personalidades e académicos estrangeiros, particularmente africanos, gambianos, senegaleses, Conacri-guineense e um representante do “CODESER”, que vai enviar um professor e jurista muito conhecido que tem várias obras literárias publicadas sobre as questões dos direitos humanos, como também publicou recentemente um livro de mais de mil páginas sobre o ex-presidente tanzaniano, Julius Nyerere, e também um representante da organização “Trust – África”.

Os participantes da conferência em Bissau debaterão durante dois dias seis temas apresentados por peritos nacionais e estrangeiros. Os temas apresentados em diferentes painéis para debate são: A mulher no pensamento de Amílcar Cabral; Cabral e o debate em torno de unidade e luta; Cabral, educação e mudança transformacional; Cabral e a centralidade da cultura; Cabral e as pontes para o novo diálogo Norte-Sul e Sul-Sul e  Cabral e a Juventude: Um debate inter-geracional. 

Em entrevista ao Jornal O Democrata para falar dos objetivos para a realização do simpósio internacional sobre o Centenário de Amílcar Cabral, o coordenador do CES-AC, Carlos Cardoso, explicou que o simpósio se insere no âmbito de uma série de atividades que o centro que dirige está a organizar para não só comemorar o centenário como também o próprio cinquentenário da morte de Amílcar Cabral. Lembrou que em janeiro do ano em curso realizaram uma conferência sobre o cinquentenário do assassinato de Amílcar Cabral.

Cardoso disse que para a celebração do centenário do nascimento de Amílcar Cabral, traçaram alguns objetivos que,segundo a sua explanação, em primeiro lugar, visa revisitar,de uma forma geral, o legado de Amílcar Cabral, tanto na sua dimensão teórica e como na prática.

“No segundo ponto que está ligado com este primeiro, nós quisemos explorar os eixos temáticos que fizeram objeto de contribuição de Amílcar Cabral e principalmente, na sua vertente teórica. Em terceiro lugar, quisemos analisar a atualidade do seu pensamento e dos seus ensinamentos e em quarto lugar, chamar a atenção da nova geração para a necessidade do estudo das obras de Amílcar Cabral”, contou.  

Questionado sobre a realização do Simpósio entre Cabo Verde e a Guiné-Bissau, respondeu que a iniciativa visa render uma homenagem ao sonho de Amílcar Cabral, que é a unidade entre a Guiné e Cabo Verde.

“Simbolicamente isso é de uma importância extrema, embora sabemos que isso depende da vontade dos povos da Guiné e Cabo Verde, como também depende dos dirigentes dos dois Estados, essa questão da construção ou não da unidade da Guiné e Cabo Verde”, assegurou, avançando que quiseram com a iniciativa render uma homenagem a ideia de Cabral, a unidade da Guiné e Cabo Verde.

Indagado ainda sobre o papel que a conferência pode desempenhar na atualidade em relação às lutas sociais e políticas contemporâneas, Carlos Cardoso disse que Cabral continua a ser a atualidade deste ponto de vista.

“A nossa contemporaneidade é marcada ainda por lutas sociais que se passam não só em África, mas pelo mundo fora. Luta social, por exemplo, luta contra o racismo nos Estados Unidos da América, luta social contra a descriminação do sexo feminino. Pensamos que todas essas lutas continuarão a ser inspiradas pelo pensamento de Cabral”, enfatizou.

Sobre a influência do pensamento de Cabral nas novas gerações de ativistas e intelectuais, Carlos Cardoso afirmou que o pensamento de Cabral está a influenciar as lutas sociais de ativistas assim com dos intelectuais tanto na África como a nível internacional, acrescentando que os ativistas têm muita coisa de “beber” no pensamento de Cabral, tendo exemplificado, que a questão da emancipação de todos os povos é uma questão que continua a ser atual.

Questionado ainda sobre as expectativas em relação à participação e ao envolvimento do público na conferência, respondeu que as suas expectativas são altas, dado que trabalharam há muito tempo para a realização desta conferência.

“Pensamos que podemos angariar um público grande que vá assistir a conferência. Para além do próprio tema em si que atrai o público. Cabral, apesar de não ser nesta dimensão de que nós gostaríamos, continua a ser uma referência para muita gente, muitos jovens e também muitos políticos continuam a referenciar Cabral, portanto pensamos que com toda essa realidade podemos ter um público bastante interessante para o simpósio”, descreveu.

Solicitado a avaliar a relevância do legado de Cabral nos dias de hoje, especialmente em relação às questões de identidade e nacionalismo, enfatizou que a questão da identidade esteve no centro das reflexões de Cabral, recordando que o Amílcar Cabral dizia, entre outras coisas, que a “luta de libertação nacional é um ato cultural, e, é um fator da cultura”.

“Cabral quer dizer com isso que o colonialismo português significa a negação da cultura e da identidade da história dos povos colonizados, neste caso, da Guiné. O que eles tentavam fazer prevalecer é que os povos, como da Guiné, eram um povo sem cultura, porque eram povos que tinham usos e crenças baseados em irãs…”, referiu, afiançando que Cabral, mostrou que a Guiné tinha uma identidade e que estava a lutar para afirmação dessa identidade.

O académico e investigador aproveitou a entrevista para falar da falta do respeito das políticas públicas concernente a criação de melhores condições para o povo guineense. Frisando que os indicadores sociais da Guiné-Bissau a nível da saúde e da educação não melhoraram depois da independência, frisando que houve retrocesso.

“A Guiné-Bissau continua a ser uma sociedade bastante desigual e empobrecida na medida em que as políticas públicas não estiveram sempre voltadas para a melhoria das condições de vida das populações e para o desenvolvimento”, assegurou, afirmando que a Guiné-Bissau é um país de eterno recomeço, tendo defendido a refundação do Estado, “porque mesmo no período da luta começou-se a construir o Estado e depois da independência continuou-se com o processo da construção do Estado”.

Por: Assana Sambú

Author: O DEMOCRATA

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