A resistência secular neste território foi assegurada pelo povo guineense. As páginas da história são inundadas de exemplos de bravura da população que hoje compõe a chamada Guiné-Bissau.
Foram variadíssimas as batalhas contra as aventuras da ocupação estrangeira. Os grupos étnicos, na sua diversidade, tiveram participação, cada uma à sua maneira, na defesa do território. A criminosa campanha de ocupação portuguesa do final do século XIX na Guiné, apesar do poderio de fogo do invasor, apesar do esquema deste último em dividir para melhor reinar, não retirou o povo guineense o seu fervor em resistir.
A histórica tradição de resistência foi gerando tentáculos que culminaram na luta pela independência nacional.
Sem a resiliência do povo guineense, a luta armada, no modelo concebido por Cabral, na sua versão prática, não seria possível. Sem a determinação efetiva deste povo, a luta seria condenada ao fiasco.
Quem alimentou a luta foi a população guineense através da produção agrícola, sobretudo as comunidades das zonas onde o teatro militar era mais presente e intenso.
A minha avô me contava como estabelecia contactos com os combatentes da linha de frente em Kamkpass, Kamkpon (sector de Quitafine), dos quais o Nino Vieira.” Ora ki Nino ki si colegas bin kassa di noti nta kusinha bianda. Manga di bias e tan falan no mame ndeki ki po cortadu dita nel peranu la. Ora ki ntchiga la, nbocado e ta bin kume“, contava Mbéga Na Branga, minha avó.
Quem nurriu a luta na primeira mão foi o povo produtor guineense. Acreditou na luta e apropriou-se dela, sem descartar situações de violência e abusos registados em diversos momentos e várias zonas contra a população. Apesar desses episódios, a população na sua maioria aderiu à causa revolucionária sob o comando de Amilcar Cabral.
Quem ofereceu os abrigos e a proteção aos combatentes armados material e apoio espiritual? Foram os anciãos das aldeias, das “moransas”.
Haviam combatentes armados e não armados
As mulheres, coluna vertebral da cadeia produtiva no campo, eram peças chave.
Sem as mulheres não havia luta e daí, uma questão que paira no ar:
1- Como explicar a exclusão dos combatentes não armados das fileiras dos combatentes da liberdade da pátria no período pós independência?
Enquanto se tenta sacudir o fardo desta República em falência, enquanto se tenta navegar nas ondas de desilusões, haverá sempre espaço para abraçar o vento e apreciar as folhas das árvores de setembro constituinte.
É tempo de celebrar o povo guineense, o verdadeiro herói!
Bissau, 10 de setembro de 2024
Por: Armando Lona