Crónica do centenário: Há 100 anos, nascia em Bafatá um gigante!

Em setembro chuvoso, dia 12, nascia em Bafatá um menino que viria a marcar a história e tornar-se uma figura singular pela inteligência, ousadia, persistência e resiliência.

A tumultuosa infância do menino, a separação dos seus progenitores nos primeiros anos da sua vida, as mudanças que se registaram entre Bafatá, Geba, Ilha de Santiago, Bissau, e novamente para a Ilha de Santiago, refletiram fortemente na formação da sua personalidade. 

O regresso definitiva do pai Juvenal, a Cabo Verde, foi uma difícil etapa na vida do menino. Os relatos de historiadores apresentam-no como um inconformado assumido, um destemido exemplar. 

Ainda sob custódia do pai, Juvenal Cabral, em Achada Falcão, Ilha de Santiago, o menino recebeu a visita da mãe Ivã Pinhel Évora que, emocionada com a situação do filho, chorou amargamente. “Não chore, mãe. Um dia hei de te fazer feliz”, consolava o menino Cabral a mãe, citação do historiador Julião Soares, no seu livro “Amílcar Cabral: Vida e obra de um revolucionário africano”. A sensibilidade de Cabral para com a questão da equidade de género durante o processo da luta tinha ligação com a sua infância, o ambiente familiar as marcas deixadas pelas disputas conjugais e a difícil situação das mulheres do seu tempo.

As situações de precariedade, fome, abuso e repressão pelas quais vivia a população dos arquipélagos marcaram fortemente a personalidade daquele que, alguns anos mais tarde, seria um dos caras da liderança estudantil da casa do Império, em Portugal, em companhia de Agostinho Neto, Eduardo Mondlane. No meio da crescente contestação no círculo estudantil, a aproximação com a esquerda portuguesa vai influenciar a formação da consciência nacionalista dos estudantes das Colónias.

A tenacidade de Cabral era uma marca. A sua capacidade de mobilização fazia-se sentir em diferentes iniciativas. De mente fértil, distinto comunicador, destacava-se  pela sua proeza e eloquência. 

O regresso definitivo à Guiné como Engenheiro Agrónomo vai mudar radicalmente a sua visão.. Os seus cadernos de estadia na Guiné, seus contactos com a população, serão preenchidos com lições e aprendizagens sobre a realidade colonial. Os efeitos perversos da dominação colonial na vida das comunidades reforçaram a sua convicção na tese de uma luta organizada em prol da emancipação.

Essa luta aconteceu e Cabral esteve em todas as frentes. Na concepção ideológica, na liderança política e militar, na diplomacia, na cultura. Multifacetado, corajoso e pragmático, Cabral viveu intensamente o seu tempo com a consciência que tinha uma missão na terra: dar a sua vida pela liberdade, emancipação e dignidade dos povos de África e do mundo.

Há 100 anos, Cabral vinha ao mundo e Bafatá era a terra escolhida!

Feliz aniversário Combatente.

A luta continua!

Bissau, 12 de setembro de 2024

Por: Armando Lona

Author: O DEMOCRATA

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