Crónica do centenário: Cabral e África 

Cabral lutou pela libertação da Guiné e Cabo Verde do jugo colonial e consagrou toda a sua vida ao serviço da unidade dos povos africanos através de uma liderança política pragmática a nível continental. A sua visão de uma África emancipada da dominação estrangeira influenciou fortemente o movimento panafricanista do século 20. O seu projeto de independência bi nacional foi um exemplo prático de união que se deveria pensar, ensaiar e consolidar a escala continental.

Cabral defendia a libertação total da África como garantia para se assegurar a libertação dos povos africanos da Guiné e Cabo Verde em luta contra o regime colonialista de Portugal. Para Cabral, libertar uma parcela do território africano da Guiné, se a presença colonial imperialista se mantivesse na vizinha Argélia, não se poderia falar em liberação efectiva, porque tarde ou cedo serviria de Argélia como base para atacar as nossas posições. 

Na visão de Cabral, a liderança política deveria estar ao serviço da independência, emancipação e unidade de África. Só uma África unida política, economica e militarmente, alicerçada num tecido cultural secular, ofereceria  a garantia de um futuro próspero aos povos africanos.

Esta visão conserva a sua originalidade e substância 51 anos após o seu desaparecimento físico. O vazio de liderança política credível continua a ser um handicap insanável no caminho da construção da unidade africana através de arquitetura institucional robusta adequada. Sem liderança política comprometida e pragmática, vai se patinando.

As experiências de uniões regionais em África são exemplos de constantes recuos.As rivalidades entre lideranças dos micro Estados em torno de “assessórios” são motivos de adiamento de agendas prioritárias e fiasco na execução de diretivas comunitárias, bonitas no papel, mas ausentes na prática.

Há mais de 20 que a moribunda CEDEAO está cantar a música de uma moeda única. De Cimeira em Cimeira, de task force em task force, na prática zero. Sobre a segurança da população,  o balanço é bem pior.

A União Africana permanece uma criança adulta, uma instituição fraquinha,  moldada a imagem das lideranças na maioria dos Estados membros e impotente perante os múltiplos desafios do continente,  a segurança (muitos países mergulhados em conflitos armados), pobreza, paz, terrorismo, imperialismo. 

Perante este quadro sombrio, a pergunta que vem ao de cima é: se Amilcar Cabral, Kwame Nkrumah, Patrice Lumumba estivessem ainda vivos, que sentimento teriam? 

Cabral foi um digno filho de África cujo pensamento continua a ser luz e guia no longo caminho da edificação da unidade continental.

Bissau, 13 de setembro de 2024

Por: Armando Lona

Author: O DEMOCRATA

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