Cônica do centenário: Cabral e  Conacri, capital da revolução

A luta armada assegurada pela população Bissau guineense tinha a sua base em Conacri, base operacional e política. Este é um fato incontestável. Conhecida como Capital da Revolução a partir do referendo de 28 de setembro de 1958. Os eleitores deveriam escolher entre integrar a chamada Comunidade francesa ou a independência nacional.
Sob a liderança do carismático Sékou Touré, o povo escolheu a segunda opção e o território tornou-se independente do domínio da França. 

A ruptura ficou marcada com a célebre frase do líder Malinké ao seu hóspede, General De Gaulle: “Nós preferimos a liberdade na pobreza do que a riqueza na escravatura”. A frente de um Estado já independente, Sékou Touré vai apostar no socialismo centralizado, no monopólio político e na promoção do panafricanismo. A sua liderança vai abrir as portas à África e aos Africanos.

Tal como Accra, Conacri tornou-se o destino privilegiado para os movimentos anticolonialistas africanos incluindo o PAIGC, o ANC de Nelson Mandela, o FRELIMO, o MPLA. O patrocínio de Touré à resistência africana era assumido. Hospedagem, apoio político, diplomático, financeiro, logística militar. Conscri  era o epicentro.

É esta cidade que acolheu vários exilados políticos,  incluindo a ícone da música sul africana e militante antiapartheid, Miriam Makeba durante vários anos e foi nessa terra que ela encontrou o grande amor da sua vida. Conacri da Revolução, Conacri, vitrine do panafricanismo!

O  povo Bissau guineense assumiu o papel histórico decisivo de redefinir o seu destino. Pagou a fatura com sacrifício. Sem o patrocínio, sem a solidariedade do povo irmão da República da Guiné, a nossa luta não tinha condições objetivas para avançar. As portas abertas em Conacri foram determinantes na condução de uma das guerras coloniais mais difíceis em África.
Celebrar Cabral é antes de mais celebrar o espírito panafricanista do povo irmão da Guiné Conacri e seu apoio incondicional à causa nacionalista do povo Bissau guineense.

Os líderes independentes Africanos Kwame Nkrumah, Sékou Touré,  Amílcar  Cabral conheciam a história. Conheciam a trajetória histórica destes territórios que pertenceram sucessivamente a vários reinos e impérios.

Sabiam igualmente que as fronteiras coloniais não passavam de um atrevimento por parte dos imperialistas. Essas fronteiras não têm base cultural e moral. Não têm alma!
A renascença africana devia/deve imperativamente suprimir essa falácia de fronteiras artificiais. Os três líderes comungavam a visão de unidade africana e solidariedade entre os povos, a construção da unidade africana através de uma estrutura política federal. Um governo continental.

É uma obrigação moral destacar o papel chave dessas lideranças na viabilização do processo da luta protagonizada por Amílcar Cabral. A logística, a hospedagem gratuita, o apoio político,  financeiro e até militar na luta contra os portugueses.

Sabe-se que os primeiros recrutas e guerrilheiros do PAIGC receberam um treino militar no Gana sob liderança de Kwame Nkrumah.

Conacri foi o pulmão da luta. Conacri foi contagiante no processo da luta, na difusão dos ideais panafricanistas.
Sem Conacri, eu me arriscaria aqui a afirmar que a luta armada na Guiné não teria êxitos que tivera. Conacri foi determinante.

A influência política do Sékou Touré,  panafricanista  convicto, teve um impacto concreto no sucesso da luta armada, sem ignorar os posteriores atritos que surgiram durante o processo. Era evitável no contexto de uma luta armada com muita elevada carga emocional, muita pressão interna e externa, influência crescente de Amílcar Cabral, etc.

Eterna gratidão ao povo da República da Guiné! A luta pela independência política,  soberania económica e monetária deve continuar ainda hoje de mãos dadas e com olhos virados para o destino comum: Unidade de África.

Bissau, 15 de setembro de 2024

Por: Armando Lona

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