A colonização europeia em África não foi uma invenção. Foi uma aventura de desumanização dos povos africanos através da alienação cultural e do aniquilamento da história. Essa foi a base para implementação do projeto colonial.
Para Cabral, a colonização não fez nada senão retirar a África da História. Antes da chegada dos Europeus, a África já estava na história.
Quem quis retirar África e os africanos da história foram os colonialistas do continente mais pequeno do planeta, a Europa, ainda hoje a representar pouco menos de 13% da população global.
Na visão de Cabral, a luta de libertação é um mecanismo de “fazer África e os africanos voltarem à história”.
África não é só o berço da humanidade, é também o berço da mais longa civilização que a raça humana tenha conhecido, mais de 3 000 anos.
Esta é a verdade da história. A Ciência deu seus primeiros passos em África, com o Egipto como centro dessa civilização.
Os autores da corrente da egiptologia inundaram as academias na segunda metade do século passado com descobertas irrefutáveis. A cara mais visível dessa corrente era o mais conceituado cientista africano do Senegal, Cheik Anta Diop. Metódica e cientificamente desconstruiu as falácias sobre as quais foram forjadas as ideologias da superioridade racial que colocaram o negro no patamar inferior. Diop demonstrou com evidências que a única raça existente é a raça humana, o resto foi uma mera construção do homem branco.
A outra falácia desmontada por Cheikh Anta Diop foi a origem do pensamento filosófico. A Europa das Descobertas, da Escravatura, por meio da desumanização, vendeu a sua versão branqueada da história. Essa versão destorcida, disseminada em todo o mundo ocidental, fora inculcada aos Africanos. Essa visão coloca a Grécia como o berço da filosofia. Autêntico roubo do legado roubado à Africa. Os manuais escalares da fase final da presença europeia em África, serviram para trocar e colocar retrovisor errado aos Africanos. Sem complexo, Diop, na “Nações Negras e Cultura”, não só quebrou o mito como também restaurou a verdade que pouca gente queria ouvir no seu tempo.
O século XX foi o ponto mais alto da resistência secular do povo africano à dominação imposta, a todos os níveis. Enquanto Cheikh Diop, Joseph Kiserbo e os demais faziam cair máscaras no campo da investigação científica no meio de um mundo académico hostil, Amílcar Cabral liderava a frente revolucionária, luta por popular, com ferramentas científicas!
Cabral e Diop foram dois gigantes africanos cujos pensamentos e contribuições continuam a interpelar a África e o mundo.
Duas coincidências não menos curiosas. A primeira coincidência, um nasceu em 1923, outro em 1924, menos de um de Idade. A segunda coincidência: os locais de nascimento, Dioubel (Cento do Senegal) e Bafatá, (leste da Guiné Bissau) distam de menos de 600 quilómetros!!!
Simples coincidências? Talvez o tempo encarregar-se de responder a pergunta.
Bissau, 19 de setembro de 2024
Por: Armando Lona