Toda luta é, antes de tudo, uma questão de atitude. Pretender alterar uma realidade concreta sem acreditar na própria realidade é estar a vender ilusões! Não se muda uma realidade com fantasmas da nossa subjetividade. Nas suas reflexões sobre a luta, Cabral chamava atenção para o risco de confundir a realidade das nossas cabeças com a realidade concreta da nossa terra.

Análise sistemática da realidade concreta é tarefa indispensável para implementação de programas visando à transformação. Nos dias que correm, fala-se mais de “estudos de viabilidade” antes da fase de execução de um projeto. É o que está na moda em todos os domínios. Na verdade, são procedimentos que escondem um fato importante que se pretende discutir aqui. Esse fato chama-se atitude, o compromisso em tudo o que se pretende realizar como obra, projeto. O compromisso é a garantia da nossa “crença” na iniciativa, no projeto.

Cabral e seus companheiros tiveram essa atitude para com a realidade concreta que pretendiam mudar por via da luta. Tinham o compromisso com a causa da luta, a libertação e a emancipação do povo sob domínio colonial. Pode haver mil e uma críticas contra a condução do processo revolucionário, mas é impossível ignorar o fato de que o grau de engajamento dos protagonistas da revolução era profundo.

De lá para cá, passaram 51 anos, e a realidade é outra. As atitudes são outras. O compromisso para com o povo é outro. A atividade política perdeu o seu substrato de “sacerdotal” de entrega incondicional.

O mercantilismo foi quebrando o muro do altruísmo que outrora caracterizava os “militantes” da causa pública. A política perdeu a vocação de servir os outros, dar a própria vida por outros, pela pátria.
Ela, a  política, permanece um espaço de muita propaganda, de muita poluição sonora, de muita intoxicação, um vazio de ideias, uma pobreza de debates voltados para resolução dos problemas do povo. Um espaço  pobre de compromisso. Um vazio de sonhos!

Para mudar a realidade concreta do nosso tempo é imperativo aceitar, reconhecer e compreender os meandros desta realidade. É preciso reinventar a política, sem esquecer de reinventar atitudes!

Bissau, 25 de setembro de 2024

Por: Armando Lona