Crónica do Centenário: Cabral, a luta continua!

Há trinta dias, dei-me um desafio público de escrever uma crónica diária em homenagem a Amílcar Cabral por ocasião do seu centenário. Foi um desafio intrigante e apaixonante. Foram 30 dias de viagens por diversos rios no vasto universo do pensamento cabralista. Foram momentos de curiosidade, aprendizagem e desabafos sobre o homem multifacetado, o gigante pensador do século passado. 

100 anos depois do seu nascimento, em modesta vila de Bafatá, as suas ideias continuam a suscitar reflexões e dissertações. A atualidade do pensamento não constitui dúvida para quem vive a realidade sem máscara!

51 anos após a proclamação da independência da República que ele arquitetou, os seus textos continuam insuperáveis quer do ponto de vista teórico como na vertente prática. Cabral mantém-se o maior pensador da revolução em África e até em toda periferia do então chamado “terceiro mundo”. 51 anos após o seu bárbaro assassinato, o neocolonialismo, o imperialismo, continuam a constituir temas que abordagens cabalistas permitem em grande medida compreender.

Não há como combater esses flagelos sem recorrer às lentes de Cabral.

A dominação imperialista nos dias de Cabral e hoje, apenas as narrativas, os vocábulos mudaram. O conteúdo mantém-se o mesmo: a consolidação da influência com base na exploração do homem pelo homem através da confiscação violenta do sistema produtivo dos países do hemisfério sul. 

É esta a realidade que Cabral já tinha alertado quando afirmava que a conquista da independência política era só uma etapa que iria permitir a passagem à construção nacional assente na soberania económica através do controlo efectivo pelo poder popular das forças produtivas. Isto seria só possível mediante o “suicídio” da pequena burguesia e por via da democracia revolucionária.

O centenário foi um momento especial de reencontros, encontros, de aprendizagem e sobretudo de introspecção profunda sobre a nossa trajetória enquanto povo, enquanto Nação forjada na luta, enquanto República em construção e em crise sistémica. Foi momento de viagens, cruzamentos intergeracionais em torno do nosso destino comum. A tentativa do atual regime em reduzir às cinzas as celebrações, fracassou!  O centenário teve destaque em diferentes quadrantes sociais no país e na diáspora!

O simpósio organizado entre o INEP e a universidade de Cabo Verde que durante uma semana foi um momento alto que captou atenções internacionalmente graças à plataforma digital que permitiu acompanhar os trabalhos em direto!

O simpósio foi rico em debates sobre a transversalidade do pensamento de Cabral.

Apresentação de trabalhos de artistas plásticos, exibição de filmes sobre Amílcar Cabral e a luta de libertação na Guiné, o “sumbia” de Cabral esgotado nos mercados, foram atividades marcantes das celebrações do centenário. O povo celebrou o centenário a sua maneira. O povo demonstrou que continua no caminho da resistência.

Os órgãos da comunicação social e as redes sociais são sem dúvida maiores atores da resistência popular. As minhas crônicas foram editadas e partilhadas diariamente pelo jornal O Democrata e pela Rádio Capital FM na sua página Facebook. Reitero aqui o meu apreço por esse compromisso patriótico! Tal como ontem, eles são hoje mais que simples vetores de mensagens. São na verdade atores de mudança.

Centenário foi um momento único que ofereceu palcos de discussões plurais em torno do patrono da nacionalidade guineense e Cabo vendiana. Centenário reeditou Cabral e seu pensamento. 

Centenário acaba, a luta continua!!!

Bissau, 30 de setembro de 2024.

Por: Armando Lona

Author: O DEMOCRATA

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