O Presidente da Rede das Rádios Comunitárias (RENARC), Demba Sanhá, afirmou que as rádios comunitárias são confrontadas com “cobranças de valores avultados” pelo governo para a obtenção de Alvarás na Guiné-Bissau.
“Dizer que o encontro se realiza mais uma vez num contexto em que somos confrontados com as cobranças dos valores avultados para o pagamento das licenças ou Alvarás” disse, afirmando que essa medida demonstra a “insensibilidade” do governo ao verdadeiro papel que tem sido desenvolvido pelas médias comunitárias.
Lembrou que as rádios comunitárias são instrumentos privilegiados para a transmissão de mensagens que reforcem a consciência das populações nos seus direitos como cidadão e dos deveres para com o interesse coletivo, promovendo uma melhor compreensão do que é a democracia, das modalidades do seu funcionamento e as suas vantagens, enquanto fator de desenvolvimento no país.
Demba Sanha, que falava esta segunda-feira, 10 de dezembro em Cacheu, na abertura do XVIII encontro nacional da RENARC, sob o lema “Por uma Comunidade cívica e sustentável”, disse que o encontro visa “influenciar e renovar” o compromisso das médias comunitárias para um jornalismo virado ao desenvolvimento local, que apoia as comunidades a encontrar soluções para os problemas quotidianos a nível local, regional e nacional.
“Reforçar a capacidade e sensibilizar os profissionais dos meios de comunicação social comunitário para um jornalismo sensível aos conflitos, ao género e à participação cívica dos cidadãos. O encontro serve para reforçar a capacidade dos membros da rede para o fortalecimento de aptidões e competências das radiodifusores comunitárias” disse, sublinhando que o encontro anual dos membros da RENARC é um espaço único de diálogo entre os membros da rede para debater, discutir e fortalecer o modelo de comunicação comunitária, enquanto alternativa e garantes fidedignos dos direitos e liberdades dos cidadãos em contextos caracterizados pela extrema pobreza.
“Quero agradecer ao PNUD, através do projeto PACE- Projeto de Acompanhamento do Ciclo Eleitoral, pelo importante apoio e confiança, sobretudo pelo contributo em acompanhar a RENARC para a sua afirmação, não só na realização dessa atividade como também noutras iniciativas que melhoram o funcionamento das rádios comunitárias em todo o país” concluiu Demba Sanhá.
Por sua vez Ussumane Embaló, em representação do PNUD, afirmou que o discurso de ódio não se trata apenas de intolerância, mas também é catalisador de divisões, violências, exclusões e desconfiança social, tendo afirmado que, no contexto da Guiné-Bissau, onde a diversidade étnica e religiosa se enriquece e se distingue, o discurso de ódio pode minar a coesão social.
Por isso, Embaló entende que o combate ao discurso de ódio e àdesinformação, com especial atenção ao impacto devastador que essas práticas têm sobre as mulheres e as pessoas mais vulneráveis constituem um dos desafios das médias no país.
“As mulheres, pilares das nossas comunidades, estão a ser alvos de discriminação que enfraquece a base da nossa sobrevivência social. Este encontro é uma oportunidade única onde podemos unir os esforços para ampliar vozes locais e promover narrativas Inclusivas. Os órgãos de comunicação social podem ser uma plataforma para a cidadania ativa e fortalecimento da Democracia na Guiné-Bissau” insistiu, convidando os jornalistas a fazer uma frente comum para combater à desinformação, com abordagem direcionada às mulheres e pessoas com deficiência, por serem as camadas mais “desfavoráveis” no país.
Presente no ato em representação das Forças de Segurança, o comandante de operações de Brigada Costeira do Destacamento da Guarda Nacional em Cacheu. Júlio Bucuque, reconheceu que sem jornalistas não há desenvolvimento e que os jornalistas e os agentes da Segurança são condenados a trabalharem juntos para o desenvolvimento do país.
“Os jornalistas das rádios comunitárias têm contribuído na sensibilização da comunidade e no fortalecimento da democracia. Nós estamos a trabalhar para o bem estar do país, e essa missão deve ser acompanhada também pelos jornalistas” afirmou Júlio Bucuque.
Por fim, Domingos Mendes, encarregado de contabilidade do governo regional, manifestou a disponibilidade da sua instituição em apoiar o desenvolvimento comunitário, assim como promover a liberdade de imprensa na região de Cacheu.
Por: Tiago Seide