A subida do nível da água no mar, causada pela época chuvosa de 2024, destruiu mais de 30 ninhos das Tartarugas Marinhas, na Ilha de Poilão, no arquipélago de Bolama/Bijagós, Sul da Guiné-Bissau, onde desovam entre os meses de agosto e novembro, por noite, naquela localidade considerada terceira mais importante do mundo para a desova das tartarugas verdes.
A informação foi transmitida pelo representante do Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas (IBAP) nas Áreas Protegidas Marinhas da Comunidade de Urock, Amilton Monteiro, durante uma entrevista concedida a uma equipa do Jornal O Democrata, no Parque Marinho de João Vieira e Poilão, que esteve na Ilha de Poilão nos dias 23 e 24 de novembro último, no âmbito da visita de “Descoberta da Natureza 2024”, organizada pela ONG Palmeirinha em colaboração com o IBAP.
“A Guiné-Bissau é um dos países mais vulneráveis à subida de nível da água no mundo e hoje estamos a sentir esta situação. Este ano, vários ninhos de Tartarugas Marinhas foram danificados devido à subida do nível da água do mar. Fizemos a marcação de 110 tartarugas para seguir a sua população, mas cerca de 30 ninhos ficaram estragados, ninhos que ainda não terminaram a fecundação”, explicou Amilton Monteiro.
“ARQUIPÉLAGO É UMA ZONA SENSÍVEL POR CAUSA DA CRISE CLIMÁTICA E PODE SOFRER EROSÃO FUTURAMENTE”
Segundo as explicações de Monteiro, esta tendência vai aumentar futuramente, uma vez que as pessoas continuam a substituir as espécies nativas para implantar hortas da castanha de cajú e arroz.
Neste sentido, Monteiro lembrou aos populares das zonas das ilhas que o arquipélago de Bijagós é uma zona sensível, por causa da crise climática e pode sofrer erosão futuramente, razão pela qual é fundamental evitar fazer danos nas florestas, para se proteger da subida do nível da água no mar.
Amilton Monteiro disse que, apesar desta situação que destruiu os ninhos desta espécie, as populações estão consciencializadas na proteção e conservação das Tartarugas Marinhas, graças à participação no programa de conservação, participando como guias turísticos durante a visita à Ilha de Poilão, obtendo ganhos financeiros.
“Um dos aspetos que sabíamos que poderia diminuir a captura das tartarugas para o consumo passa necessariamente por envolver as populações nas atividades de investigações, monitorizações e palestras. Logo começaram a sentir-se mais envolvidas e decidiram fazer o encerramento da campanha de captura das tartarugas em Canhebaque por suas próprias iniciativas, o que foi muito positivo e teve o apoio do IBAP”, acrescentou Monteiro.
Segundo o responsável do IBAP nas Áreas Protegidas Marinhas da Comunidade das de Urock, agora existem guias oficiais nos acampamentos turísticos em Bubaque, João Vieira, Canhebaque e Orango, que acompanham os turistas, ganhando dez mil franco CFA pelo acompanhamento turístico em cada época da visita. Monteiro acrescentou ainda que em cada época, o arquipélago recebe mais de 100 turistas para visitar o local onde desovam as tartarugas.
Além dos benefícios monetários dos turistas, as populações recebem ofertas de materiais de uso pessoal, como lâmpadas, chapéus e telemóveis, construindo ainda relações com base nos trabalhos dos acompanhamentos turísticos.
Relativamente à visita da “Descoberta da Natureza 2024”, é uma iniciativa que permitiu um grupo de jovens estudantes guineenses visitar o Parque Marinho de João Vieira e Poilão, para conhecerem as Tartarugas Marinhas, no quadro do projeto denominado sobrevivência das Tartarugas Marinhas.
Durante dois dias na Ilha de Poilão, os jovens das diferentes instituições de ensino superior tiveram oportunidades de conhecer de perto as tartarugas verdes e foram sensibilizados sobre a importância ecológica dessa espécie para o desenvolvimento e sobrevivência de todo o ecossistema, graças ao apoio dos técnicos de IBAP e da ONG Palmeirinha.
Monteiro realçou a disponibilidade dos estudantes em conhecer a importância ecológica, económica e sociocultural, mas disse que estes jovens vão despertar o interesse das pessoas no sentido de visitarem, conhecer e cuidarem do meio ambiente, sobretudo as Tartarugas Marinhas.
Após a palestra que permitiu conhecer a importância das tartarugas, os estudantes, acompanhados pelos técnicos da ONG e Palmeirinha e IBAP, fizeram também uma visita guiada para o seguimento dos ninhos das Tartarugas Marinhas e a contagem de rastos e a libertação das tartarugas presas, nos arredores da ilha de Poilão.
Os jovens aproveitaram a estada na Ilha de Poilão para fazer a limpeza do lixo marinho na praia, num trabalho que procura perceber o impacto do plástico nas tartarugas-marinhas. O objetivo é proteger estas espécies ameaçadas de extinção, num cenário cujos resultados não são, desde logo, nada animadores, porque é fácil constatar itens de plásticos grandes, médios e pequenos nos arredores da ilha.
A ilha de Poilão é identificada como a primeira praia mais importante para as fases do crescimento, de alimentação e de nidificação das Tartarugas Marinhas.
Os dados do IBAP apontam que entre os meses de agosto e novembro, todos os anos, cerca de 21 mil tartarugas marinhas, migradas de todo o mundo, põem ovos na ilha de Poilão.
O Parque Marinho de João Vieira e Poilão é um sítio de importância internacional para a tartaruga verde, especialmente a ilha de Poilão, onde todos os anos são colocados cerca de 30.000 ninhos de tartarugas.
A Guiné-Bissau tem o privilégio de ter em abundância 5 de entre as 7 espécies existentes no mundo. Elas povoam em algumas ilhas do Arquipélago dos Bijagós conhecidas como a tartaruga-oliva, tartaruga-verde, tartaruga-de-escama, tartaruga-cabeçuda e a tartaruga-de-couro.
Por: Alison Cabral