Opinião: Economia criativa – a geração hip-hop merece aplausos – “Além do Horizonte”

Este artigo visa destacar a tendência atual do “novo consumo” da indústria criativa na Guiné-Bissau, a partir da produção artístico-cultural, em economia criativa, da geração de “hip-hop”.

Para além dos indicadores macroeconómicos, que, por vezes, não refletem as variáveis contabilizadas no produto interno bruto (PIB), a par dos recursos ambientes e florestais, a indústria criativa (cultural), concretamente odenominado “Show Business” dos músicos da nova geração sobretudo de “Hip-Hop” tem merecido destaque,se se tomarmos em consideração a sua capacidade de mobilização de receitas, permitindo a circulação de meios financeiros, o sustento das famílias, alavanca a poupança das mulheres Bideras, que um pouco toda a cidade de Bissau e arredores se mobilizam para ganhar pão nos concertos e espectáculos promovidos, ultimamente em Bissau.

Se a memória me permitir, o pioneiro desta façanha de mobilização de auditórios, cujo lema do seu concerto “Além do Horizonte” fala por si, “Klashmikov”, o “Rapper” que desafiou a si mesmo e aos seus colegas de trincheira, provando a seus fãs e amantes da indústria de “rimas” ser possível, com trabalho e abnegação, preenchero estádio 24 de Setembro com aproximadamente entre 30 a 40 mil espectadores.

“Yes, We Can”.

De lá para cá, em pleno ano 2024, Charbel Pinto, RapperPoeta e tantos outros atores e fazedores de cultura, independentemente, do género musical, as artes de uma forma genérica, têm contribuído, sobremaneira, para elevar a cultura e o nome desta nossa terra por este mundo fora.

Ora, os economistas convencionais e os decisores públicos, em países como Brasil, há muito que reconhecem as articulações e as correlações entre cultura e desenvolvimento passando pela trajectória histórica de entrelaçamento entre ambas e sua consequência na sociedade contemporânea.  

A tendência actual de re-significação do consumo e, por conseguinte, da sociedade de consumo parece vir acompanhada de uma outra tendência que pode ser expressa no surgimento de um novo termo: economia criativa. Ao que tudo indica, trata-se de uma nova denominação que vem se afirmando no discurso dos profissionais envolvidos com a área cultural no Brasil – administradores públicos, produtores, gestores, entre outros – em substituição àquilo que se convencionou chamar de indústria cultural (MACHADO, 2009.

É preciso admitir que, à mercê da mobilização domovimento “hip-hop” em Bissau, a economia criativaguineense ganhou um novo impulso, provavelmente, sem precedentes, não obstante, a incapacidade da sua contabilização nos números oficiais do erário público, na justa medida em que uma das “desvantagens” do indicador PIB é a sua não contabilização dos recursos culturais e ambientais entre as suas variáveis macroeconómicas, ou ela é feita de forma “tímida” através da prestação de serviços dos privados, cujo Estado pode arrecadar impostos e outras receitas fiscais. 

Na verdade, é preciso avaliar e aprovar a relação existenteentre a cultura e o desenvolvimento a partir de reflexões que envolvem a ideia de lugar: o lugar do desenvolvimento, o lugar da cultura e o lugar na relação entre a cultura e o desenvolvimento. 

Segundo (Bayardo, 2007), apresentar um percurso histórico do interesse internacional pela problemática cultural vinculada à noção de desenvolvimento e alerta para uma “culturalização da economia”, quadro que requer a efetivação de modelos diferenciados de desenvolvimento. Outro autor, Paulo Miguez, apresenta o panorama que envolve o surgimento da economia criativa, destacando as potencialidades e evidentes impactos desse conjunto de actividades assentadas na criatividade, cujos bens e serviços abarcam do artesanato tradicional às complexas cadeias produtivas das indústrias culturais.

Cá entre nós, a criatividade artística dos nossos “rappers”, tendo em conta as vicissitudes que o país de Cabral tem enfrentado, sobretudo no período pós 7 de Junho de 1998,  permitiu que essas iniciativas da economia criativa mobilizassem centenas de milhões de XOF (Franco da Comunidade Financeira Africana) que são movimentadas nos eventos culturais – “Hip-Hop”, pois jovens conseguemempregos, mesmo sendo temporários, por exemplo, pela criativa empresa de eventos “MIX SERVICES”, do empreendedor cultural António Pinheiro “Toninho”, que consegue planear, organizar e realizar espectáculos, sonorização, ornamentação, marketing MIX, de forma assinável. 

De forma discreta, a indústria criativa guineense deu um salto qualitativo e criou  “input” graças à essa (geração que ousa e tem ousado quebrar paradigmas), através da economia criativa, que consegue encher os espaços públicos manifestando uma nova onda de aceitar o (que) é nosso, seja o género “Hip-Hop”, seja em outros géneros e manifestações artísticas.

Com a modernidade temos a autonomização – (relativa, é claro) do campo cultural em relação a outros domínios da sociedade, notadamente a religião e a política. Tal autonomização – que não deve ser confundida com isolamento, nem com desarticulação ou desconexão com o social – implica na constituição da cultura enquanto campo singular, o qual articula e inaugura: instituições, profissões, atores, práticas, teorias, linguagens, símbolos, ideários, valores, interesses, tensões e conflitos, como sempre assinalou Pierre Bourdieu em seus textos acerca da cultura. 

Um campo social é sempre um campo de forças, onde existem elementos de agregação e complementaridade, mas também de disputa e conflito: hegemonias e contra-hegemonias, enfim. A partir desse momento e movimento, a cultura passa a ser nomeada e percebida como esfera social determinada que pode ser estudada em sua singularidade, neste concreto o “Hip-Hop” – Made inGuinea Bissau.

Em suma, considerando os dinamismos imprimidos pela geração de “Hip-Hop” no mercado criativo guineense, torna-se pertinente chamar a atenção dos decisores públicos sobre esse papel dos jovens, que por sinal enfrentam o fenómeno de desemprego e da pobreza com proporções alarmantes no país. A economia criativa – neste concreto o “Hip-Hop” tem sido um escape, um “surni”, ou melhor, uma alternativa face ao desemprego.

Portanto, a primeira nota final aponta que a “diversidade cultural constitui grande riqueza para os indivíduos e as sociedades. A proteção, promoção e manutenção da diversidade cultural é condição essencial para o desenvolvimento sustentável em benefício das gerações atuais e futuras”, e ainda, quando destaca a (…) necessidade de incorporar a cultura como elemento estratégico das políticas de desenvolvimento nacionais e internacionais, bem como da cooperação internacional para o desenvolvimento, e tendo igualmente em conta a Declaração do Milénio das Nações Unidas (2000), com sua ênfase na erradicação da pobreza. 

A segunda nota ponto diz respeito à relação entre economia e cultura, mas observando alguns cuidados necessários nessa mesma relação: “as actividades, bens e serviços culturais possuem dupla natureza, tanto económica quanto cultural, uma vez que são portadores de identidades, valores e significados, não devendo, portanto, ser tratados como se tivessem valor meramente comercial.

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Próspero ano 2025 de Cultura.

Janeiro de 2025.

Por:  Santos Fernandes

Author: O DEMOCRATA

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