Nos últimos cinco anos, jovens com formação superior e energias para alavancar o desenvolvimento da Guiné-Bissau têm deixado o país em busca de melhores oportunidades e condições de trabalho em Portugal. Uma fuga motivada por falta de uma política e visão holística das autoridades nacionais de retenção de melhores mentes de que o país dispõe. Não se pode dar ao luxo de perder quadros jovens com formação sólida em educação, saúde e outras áreas afins em detrimento de quadros nos setores da defesa e segurança como se estivessemos em período de guerra.
Espantei-me, quando li algures que quase cinco mil estudantes guineenses foram admitidos este ano letivo no ensino superior português, um aumento de 48% face ao ano anterior. A agência Lusa, citando uma fonte da Embaixada de Portugal na Guiné-Bissau, revelou que o número de guineenses que conseguiram acesso ao ensino superior em Portugal passou de 3.356, no ano letivo de 2023/2024, para 4.966 no presente ano letivo de 2024/2025.
Estes jovens que deixam o país para realizarem o curso de Licenciatura, mestrado e/ou doutoramento em Portugal, não é que não estejam conscientes das dificuldades que os espera tanto em Portugal quanto na Guiné-Bissau, mas decidiram abandonar a Guiné-Bissau por perderem a esperança no futuro do país.
A desestruração e a vulnerabilidade das suas famílias, famílias fragilizadas, custo elevado de pagamento de rendas ao senhorio, acordar de madrugada para trabalhar, e muitas vezes, nas profissões que não condizem com as suas qualificações, mas que são necessárias para garantir o sustento e enviar dinheiro para as suas famílias na Guiné-Bissau, são, entre outras, as dificuldades com que se deparam “estes combatentes” na Europa.
A baixa remuneração e a falta de incentivo nos setores sociais: Educação e Saúde, têm levado os jovens a cruzarem o oceano para busca de melhores condições de vida, reduzindo a capacidade de inovação e desenvolvimento destes setores chave para a implementação do PROGRAMA MAIOR DO DESENVOLVIMENTO DO PAÍS. Se não pararmos para (re) pensar e ver as coisas com “olhos de ver”, os dois setores vão colapsar, porque corremos o risco de ter “pessoas menos preparadas”, tendo como consequência menos dinamismo social, ter a futura geração mal formada e condenação a morte lenta da população do interior, que vive à sua sorte, desde a independência, sem sistemas de saúde e de educação de qualidade, estradas em condições para o escoamento dos seus produtos, água potável, energia elétrica, etc., etc., etc.
Como estancar essa hemorragia administrativa na Guiné-Bissau?
É urgente que haja uma estabilidade governativa que leve o país, pelo menos, a duas legislativas ininterruptas, com vista a realizar a reforma na administração pública, combater à corrupção para criar confiança aos jovens no futuro do país, assim como valorizar a meritocracia e as potencialidades do país.
Outrossim, é necessário promover as políticas públicas que incentivem a permanência dos jovens no país, investir em educação e saúde, priorizar a formação profissional, criar postos de emprego para a juventude e/ou criar as condições para o empreendedorismo juvenil na Guiné-Bissau.
Por: Tiago Seide
Professor e Jornalista