Editorial: JORNALISMO E BANALIDADE POLÍTICA NA GUINÉ-BISSAU

[Edição impressa: ano XII /nº608, 06 de  fevereiro de 2025] Na verdade, como dizem os colegas da Universidade de Coimbra, que depois de tantos anos sinto-me, na Guiné-Bissau, um verdadeiro jornalista que pensa academicamente e não um académico que pensa o jornalismo nacional.

Hoje, na Guiné-Bissau, os jornalistas de telemóveis mataram o “jornalismo de informação” e estabeleceram, na esfera pública nacional, o “jornalismo com a informação”. Não há controle de qualidade que vise saber, de forma neutra, a satisfação do interesse público em relação a informação que consumimos no espaço público nacional.

Na verdade, dentre jornalistas guineenses, ninguém quer saber ou não sabemos produzir notícias porque entre nós profissionais dos Media não há quem estude ou pense no jornalismo nacional. A produção de notícias é igual de jornal para jornal e de rádio para rádio.

As conferencias de imprensas das plataformas dos partidos políticos, dos Ministros e as visitas do Presidente da República definem as pautas de “jornalismo com a informação” que hoje reina no nosso país.

Hoje, no jornalismo nacional, não existe uma fronteira nítida entre os jornalistas de telemóveis e os de entretenimento. Com este “jornalismo com a informação” que praticamos hoje no espaço público nacional, não está marcada, de forma clara, a fronteira do jornalismo e do entretenimento.

O “jornalismo com notícias” praticado com telemóveis, na Guiné-Bissau, tem caraterística de uma imprensa popular. Sempre privilegiou o entretenimento. Pois, os jornalistas não estudam. Não há consenso sobre o que “se faz” e o que “não se faz” na produção de notícias na esfera pública nacional.

Não há controle de qualidade de informação que vise uma maior satisfação do público nacional e de servir toda a população: ricos, pobres, jovens, velhos, esquerda, direita e defender de forma inequívoca a promoção dos Direitos Humanos e a Democracia na Guiné-Bissau.

No cenário do “jornalismo com notícias”, caso da Guiné-Bissau, os jornalistas não relatam os fatos. Apresentam apenas as opiniões sem qualquer verificação. Acabam, sempre, por espalhar a desinformação a mesma velocidade que as redes sociais dão a voz ao cidadão comum.

Os membros das plataformas dos partidos políticos são considerados comentadores isentos e especialistas competentes. Pois, no nosso país, se uma notícia for comentada por líderes ou membros de plataformas dos partidos políticos é considerado de isenção e de pluralismo democrático.

A banalidade política das coligações de plataformas políticas e partidárias que reina hoje no nosso país tem, sem dúvidas, a sua origem colateral no “jornalismo com notícia” estabelecido na nossa esfera pública nacional pelos jornalistas de telemóveis.

Na verdade, genericamente, os Media na Guiné-Bissau são ainda “canais com notícias” e não “canais de notícias”. Nesta perspetiva, a submissão dos jornalistas aos lideres das plataformas políticas partidárias é considerada de transparência democrata. A falta da cultura da redação jornalística é vista também como uma isenção profissional de jornalista.

Por: Drº António Nhaga

angloria.nhaga@gmail.com

Author: O DEMOCRATA

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