Opinião: DISPUTA GEOPOLÍTICA E ECONÓMICA – EUA UTILIZAM O COMÉRCIO E O FENTANIL COMO “BOMBA” PARA TRAVAR O CRESCIMENTO DA CHINA 

A disputa entre Beijing e Washington não é meramente um conflito sobre tarifas e produtos, muito menos uma questão da disparidade entre as balanças comerciais dos dois países ou mesmo sobre o fentanil, que está a causar a crise de overdoses nas terras do Tio Sam.

Esta disputa comercial “sangrenta”, considerada pelos economistas uma das maiores “batalhas económicas” do século XXI entre as duas principais economias do planeta, tem causas profundas, não exclusivamente do campo comercial. Na verdade, para além de fatores econômicos que estão em jogo, também se pode apontar como motivos desta disputa, questões relacionadas com o domínio das novas tecnologias, geopolítica, influência política, cultural e, acima de tudo, o poderio militar.

Centrando-se no aspeto económico que parece mais evidente nesta guerra, é crucial que os Estados Unidos tomem consciência da necessidade de se sentarem à mesa de negociações e discutir abertamente com a China, que já demonstrou vontade política para negociar e decidiu ativar medidas essenciais para combater o tráfico de fentanil. Dentre essas medidas, destaca-se a proibição de substâncias químicas precursoras usadas na fabricação deste estupefaciente

Apesar da abertura ao diálogo por parte de Beijing, com o intuito de encontrar as soluções para a disputa comercial e a questão do fentanil levantada pelos EUA, é importante salientar que será difícil estabelecer um diálogo baseado no respeito mútuo e na salvaguarda dos interesses de ambas as partes. Porquê? Porque Washington já possui uma ideia preconcebida em relação à China, que não considera apenas um adversário económico, mas também uma ameaça à sua segurança nacional.

O facto de a China ter sido, nas últimas décadas, a potência mundial que mais cresceu e consolidou ganhos, tanto económicos como tecnológicos, tornou-a alvo dos seus parceiros. Esta é a razão pela qual Washington está a endurecer as políticas comerciais como parte de uma estratégia mais ampla para enfrentar e sufocar o gigante asiático.

Quase todos aqueles que lideraram os EUA nas últimas décadas sentiram esse medo e adotaram o mesmo comportamento, mas este conflito comercial atingiu o seu apogeu com a chegada ao poder do republicano Donald Trump, em 2016. Desde então, ele tem reclamado e criticado severamente a balança comercial dos EUA durante os governos anteriores, alegando que era desfavorável para os norte-americanos em relação a outras nações, particularmente à China.

Ao regressar ao poder, Trump decidiu intensificar as medidas protecionistas. O novo inquilino da Casa Branca está mais determinado a implementar a sua política protecionista, aumentando as taxas sobre os produtos importados da China, com uma tarifa adicional de 20 por cento, sob o pretexto da questão do fentanil.

Esta decisão da administração de Trump é provocatória e aprofundará ainda mais esta crise sem precedentes, minando o entendimento com a China. Esse potencial conflito com a China já foi advertido pelo porta-voz do seu ministério do Comércio quando diz, cito: “é uma prática típica de protecionismo, unilateralismo e intimidação”, fim da citação.

A meu ver, quando os EUA decidem aumentar as tarifas dos produtos importados da China, alegando que nada fez para combater o tráfico do fentanil, é apenas politiquice e reflete o complexo e o medo dos Estados Unidos de serem ultrapassados em economia e tecnologia pela China, uma vez que a questão do fentanil é um assunto meramente americano (…), que, aliás, tem toda a capacidade para combater o tráfico de estupefacientes.

É ridículo os Estados Unidos chorarem ou reclamarem da China por nada fazer para combater a produção e o tráfico do fentanil. Os EUA, enquanto potência, tem obrigação de ter estratégias e soluções para os seus problemas e não estar a empurrar responsabilidades para terceiros.

A China tem-se esforçado muito nos últimos anos no combate ao tráfico de fentanil, não só para cimentar a sua relação com os Estados Unidos, mas também para proteger a sua própria população desta droga, que constitui uma ameaça à saúde pública. O livro branco divulgado pela China demonstra o compromisso e o engajamento de Beijing no controlo de substâncias relacionadas com o fentanil. Só isso é uma participação e contribuição que merece reconhecimento.

A implementação de sistemas legais e administrativos completos para precursores químicos catalogados, supervisionando a sua produção, venda, compra, transporte, importação e exportação, como explicou o porta-voz do Ministério do Comércio chinês, é a prova mais do que evidente dos esforços feitos pela China para erradicar a produção dessa droga.

É fundamental abrir uma janela de diálogo diplomático e transparência, promovendo encontros regulares e fóruns bilaterais para estabelecer metas comuns e resolver mal-entendidos, como as disputas comerciais, que têm prejudicado a cooperação.

Estas ações, no nosso entendimento, podem contribuir para a redução das tensões comerciais, uma vez que o fortalecimento da cooperação pode demonstrar um compromisso bilateral e, por conseguinte, diminuir a necessidade de medidas retaliatórias, como tarifas elevadas, restabelecendo assim um ambiente de confiança mútua.

Agora, é preciso mais prudência da parte dos Estados Unidos da América, assim como é necessária uma mediação da Organização Mundial do Comércio. Embora os Estados Unidos tenham decidido abandonar a organização, seria salutar a intervenção desta entidade ou de outra instância internacional para chamar à razão a administração de Trump sobre a violação internacional das regras.

Por: Assana Sambú

Diretor Adjunto do Jornal O Democrata

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