Opinião: GUINÉ-BISSAU “AMNÉSIA COLETIVA”

No passado dia 3 de Julho de 2015 (Sexta-Feira), todas as atenções estavam voltadas para o discurso da Sua Excelência, Sr. José Mário Vaz…

Importa destacar que seria o exercício normal de uma prerrogativa constitucional, atribuída ao principal magistrado da nação, se não fosse num Estado “atípico” e “anormal”, quer do ponto de vista da liderança política, quer na perspectiva das relações institucionais, entre os principais órgãos da soberania da nação guineense.

Não me compete, todavia, fazer juízo de valor relativamente ao discurso proferido pelo “pai” da nação guineense, na medida em que os discursos são motivados, na maioria dos casos, pela subjectividade das nossas análises sobre os fenómenos que acontecem aos níveis: político, social, económico, jurídico, entre outros.

Volvidos 12 meses, após a tomada de posse do governo democraticamente constituído, perante os progressos e os retrocessos verificados no decurso desse mandato, testemunhamos uma “divergência” profunda e assumida do ponto de vista, entre a Presidência da República, o Executivo e o Parlamento.

Julgo que essas “querelas” entre os órgãos da soberania da nação guineenses são “naturais” num jogo democrático.
Penso que essas diferenças de ponto de vista, no quadro institucional, são aceitáveis, pela própria sobrevivência e convivência democráticas, desde que não ultrapassa o espaço de diálogo e concertação permanentes.

O nosso jovem processo democrático, de apenas 20 anos, não foge à regra nessas “disputas” subjacentes ao jogo democrático. Mas, esses “conflitos” têm limites, ou seja, as divergências de visão podem ser no quadro institucional. No entanto, tem-se verificado que as “questões pessoais” sobrepõem às questões institucionais, no âmbito da interpretação constitucional…

Contudo, entre os significativos “avanços” verificados no acto governativo, em face aos “retrocessos” constatados, em decorrência de “má prática de gestão” da nossa administração pública, parece-me existir, na “mente” da nossa opinião pública, uma espécie de “amnésia colectiva”, uma vez que:

A meu ver, parece-me existirem pessoas que defendem, a todo custo, os interesses que lhes convém, em detrimento de progressos, mesmo sendo pequenos, que temos testemunhado e que vale a pena serem salientados.

Pois, é de conhecimento da maioria de guineenses, os progressos recentes, quer no sector de energia, educação, quer ao nível internacional, através da retoma da confiança e da credibilidade perante os nossos parceiros, tanto bilateral, quanto multilateral.

Por outro lado, deparamo-nos com pessoas que fazem de tudo e um pouco para “minarem” e “ignorarem” os progressos alcançados neste primeiro aniversário do executivo do Eng.º Simões Pereira…
Diz-se que as contas e os balanços fazem-se no fim, por isso creio que há um longo caminho a ser percorrido, até ao fim do mandato do actual executivo, eleito em 2014.

Camaradas conterrâneos!
Julgo ser necessário que se evite às situações que nos provocam “amnésia colectiva”, isto é, que a nossa memória colectiva nos leve a ignorar, por nossas conveniências e omissões, os sucessos alcançados, em apenas 12 meses, pelo executivo guineense. Contudo, admite-se que ainda persistem inúmeros problemas sociais e de justiça que devem ser resolvidos.

Porém, a grande vantagem dos balanços governativos é que eles nos permitem avaliar: o antes e depois, os fracassos e os sucessos, os avanços e os recuos.
Não podemos, por conseguinte, evitar ou fugir de escolher entre a dicotomia, “bem” ou “mal”, nas nossas análises, se quisermos fazer uma análise crítica sobre o actual governo guineense, que o façamos num quadro que engloba o status quo, a partir do mês de Julho ano 2014 em relação ao período homólogo do ano corrente (2015).

Amnésia colectiva significa “escamotear a verdade dos factos”, pelo bem ou pelo mal, baseado nos acontecimentos que têm marcado a vida pública no país;
Amnésia colectiva significa “omitir verdades” sobre os reais acontecimentos que têm marcado o quotidiano do simples cidadão guineense que, há bem pouco tempo, não dispunha de uma simples corrente eléctrica para refrescar produtos alimentares em casa;

Amnésia colectiva, portanto, significa “não permitir” que os nossos estudantes das escolas públicas estão, depois de anos de greves, a terminar o ano lectivo (2014/2015) sem sobressaltos e perturbações o que, por si só, é positivo para o país.

 

Bissau, Julho de 2015
Santos Fernandes

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