Opinião: “PODEMOS E DEVEMOS SER A GERAÇÃO DE FOME ZERO”

Addis Abeba Terceira Conferência Internacional sobre o Financiamento para o Desenvolvimento da Assembleia Geral das Nações Unidas na Nova York e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável Pós 2015: Um Caminho construido com boas intenções para os pobres e os que sofrem de fome.

“O nosso objetivo é acabar com a fome e a pobreza”

A Terceira Conferência Internacional sobre o Financiamento para o Desenvolvimento que teve lugar  em  Addis Abeba esta semana constituiu uma rara oportunidade de alto nível para Representantes de Governos, Sociedade Civil e setor privado refletirem no debate sobre a futura arquitetura do financiamento para o desenvolvimento.

A Conferência constituiu um momento particular, antecedendo deste modo a realização da proxima Assembleia das Nações Unidas onde se aguardam que os membros apresentem planos ambiciosos com Objetivos de Desenvolvimento Sustentável a serem atingidos em 2015.

Antes desta conferência, a Agência das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) conjuntamente com o Fundo para o Desenvolvimento para a Agricultura ( IFAD) e o Programa Alimentar Mundial ( PAM) estimaram o custo de erradicação da fome em  aproximadamente  267 biliões de dólares cada ano até 2030.

Apesar do aparente elevado custo, a realidade é que a inércia tem um custo ainda mais elevado – alguns peritos estimam o custo da subnutrição na economia global de milhões e milhões de dólares. Deixem-me contextualizar a ideia; os gastos militares anuais estão estimados em 1.8 trilhões de dólares, enquanto que os países da OCDE gastam quase 260 bilhões por ano em agricultura.

Ou seja, 267 biliões de USD correspondem apenas a 0.3% dos resultados da Economia Mundial.  Será um preço demasiado elevado a pagar  para ajudar quase 800 milhões de pessoas com fome?

Erradicar a fome de forma sustentável através de investimento nos pobres, particularmente na agricultura e zonas rurais, faz todo o sentido. Estudos diversos demonstraram que nenhum outro setor consegue obter retornos mais eficientes de investimento, no que concerne a redução da probreza e emprego, do que a agricultura. Nenhum outro setor tem este poder de erguer as pessoas da pobreza.

Mais de 70% dos pobres vivem em zonas rurais e o seu sustento provem da agricultura, gado, floresta e pesca. Uma parcela significativa dos pobres são jovens desempregados, sobretudo nos países em desenvolvimento. Na realidade, reduzindo a disparidade do género na agricultura, poderia simplesmente reduzir o número de pobres de 12 a 17%. Isto é, assegurando que as mulheres tenham melhor acesso à terra; contribuição e formação signficaria que entre 100 a 140 milhões de pessoas não sofreriam mais de fome.

No que concerne a alocação financeira, 47 biliões deveriam ser  em programas de proteção social,  isto é, transferência de dinheiro para pessoas que vivem com menos de 1.2 dólares por dia (linha/nível da pobreza de acordo com as Nações Unidas) para ter acesso aos bens básicos, especialmente alimentos, saúde e educação. Paralelamente, 80 biliões deveria ser investido nos pobres de forma a habilitar-lhes a gerar o seu próprio rendimento e tornarem-se independentes. Em ambos os casos, a maioria dos fundos deve ser aplicado nas zonas rurais, quase 85 biliões de dólares porque em África 78% dos pobres vivem nessas zonas.

Na FAO, acreditamos que a erradicação da pobreza e possível. Acreditamos que o sistema de alimentação e agricultura podem ser uma fonte de riqueza e bem-estar para todos, especialmente para os mais pobres. Acreditamos que tudo isto pode ser atingido durante a longevidade. Podemos e devemos ser a “Geração de Fome Zero”.

Erradicar a fome requer que possamos apostar em experiências locais e internacionais. O ponto de partida na erradicação da fome é efetivamente quebrar o ciclo vicioso da pobreza, fome e baixa produtividade na agricultura. O caminho para o futuro requer que sejamos prudentes no investimento social e assegurar que os pobres possam ter acesso suficiente a alimentos nutridos e que por si só facilitem a erradicação antes de 2030. Simultaneamente, o investimento na agricultura e desenvolvimento rural constituem uma alavanca de erradicação da fome de forma sustentável.

Estimamos que um investimento adicional na ordem de 116 biliões de dólares em proteção social, mais 151 biliões de dólares em investimentos produtivos (dos quais 105 biliões de dólares em agricultura e zonas rurais), o mundo seria sustentavelmente livre de fome. Isto traduz-se aproximadamente num investimento de 160 dólares por pessoa. Uma parte substancial do mundo pode aceder a isto. Não percamos esta  oportunidade.

Segundo um velho adágio, “ Um homem com fome, é um homem com fome”. Erradicar a fome não é somente uma questão de custo e eficácia, mas e absolutamente vital ao investimento na paz, seguranca e desenvolvimento sustentável com benefícios para todos. Falhar num investimento adicional constituirá, em última análise, um custo ainda maior para a economia global.

Fome Zero no mundo constitui um bem público. E é isto que os participantes na Conferência em Addis Abeba comunicaram – deixem a história lembrar-se de nós como a “Geração de Fome Zero”.

 

16 de  julho de 2015

Por: Laurent Thomas,  Assistente do Diretor-Geral da FAO para a Cooperação Técnica Internacional

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